Cresci ouvindo que o Brasil era um país jovem.
Casas cheias. Ruas barulhentas. Escolas transbordando de crianças.
Hoje, o som mudou. O silêncio tomou conta — nas ruas, nas famílias, no futuro.
Nos anos 1970, a taxa de fecundidade no Brasil era de 6,2 filhos por mulher.
Em 2023, caiu para 1,6 — muito abaixo da taxa de reposição populacional.
Isso não é apenas um dado do IBGE.
É um espelho social.
É o reflexo de escolhas culturais, econômicas e afetivas que fomos fazendo — muitas vezes, sem perceber.
No livro Diversa-IDADE: empatia que conecta gerações no trabalho e na vida, que escrevi com Tati Gracia, dedicamos um capítulo inteiro a esse fenômeno.
Não o tratamos como detalhe técnico, mas como chave para novas perguntas.
Por que deixamos de ter filhos?
Talvez porque educar virou um projeto de risco.
Porque o custo da maternidade — emocional, financeiro e profissional — se tornou alto demais.
Ou talvez porque o sentido da vida mudou.
E, agora, podemos escolher outro tipo de futuro.
Mas há uma consequência clara — e silenciosa:
Estamos assistindo ao fim de um Brasil abundante em juventude, sem fazer as perguntas que importam.
Quem vai sustentar um país que envelhece, se não há mais jovens para isso?
As ruas já não ecoam os gritos das brincadeiras.
Ecoam o vazio de um futuro que se esvazia de gente — e de propósito.
📖 Em Diversa-IDADE, deixamos o alerta:
menos nascimentos revelam mais do que estatísticas — revelam prioridades.
E talvez a maior delas hoje seja:
Como vamos reinventar o Brasil se estamos deixando de nascer?
Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e especialista em longevidade, comportamento geracional e demografia social. Professor no Hospital Israelita Albert Einstein e coautor do livro Diversa-IDADE, atua na análise das transformações que moldam o futuro do trabalho, das famílias e da própria noção de sociedade em um mundo que envelhece depressa — e sem reposição.