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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O Guarda-Chuva Esquecido

Lá estava ele, encostado na parede da entrada do prédio, meio torto, como se tivesse desistido de ser útil. Um guarda-chuva preto, simples, com o cabo desgastado e uma ou outra costura desfeita, pingando ainda algumas gotas de chuva que teimavam em não secar. Ninguém parecia notá-lo, mas eu não resisti. Parei, olhei e me perguntei: de quem seria essa história abandonada?

Será que foi de um entregador, apressado, que correu pra entregar um pacote e esqueceu o companheiro de tantas chuvas? Talvez ele tenha saído de casa com o celular na mão, a cabeça cheia de encomendas, e só percebeu a falta quando o céu já estava limpo. Ou quem sabe pertence a uma senhora, dessas que carregam memórias em cada dobra do tecido, que entrou pra visitar um neto e deixou o guarda-chuva como um adeus distraído?

Eu imagino um homem de terno, cansado, voltando de um dia longo. A chuva o pegou desprevenido, e ele se abrigou debaixo daquele guarda-chuva que já viu dias melhores. Chegando aqui, abriu a porta, sacudiu a água, e — pluft! — a vida o levou pra dentro, esquecendo o velho amigo na soleira. Ou talvez fosse de um casal que brigou no elevador, ela jogando o guarda-chuva pro canto enquanto gritava “tô indo embora!”, e ele, orgulhoso demais pra correr atrás.

O tempo passa, a chuva para, e o guarda-chuva fica. Parece um símbolo, né? Algo que a gente carrega por um tempo, protege, mas acaba largando quando não precisa mais. Quantas vezes fazemos isso com as pessoas, com os sonhos, com as pequenas coisas que nos aquecem? Ele tá ali, mudo, contando uma história que ninguém ouve, mas que todo mundo já viveu de algum jeito.

Eu quase peguei o guarda-chuva, sabe? Quase dei a ele um novo lar, uma nova chuva pra enfrentar. Mas aí pensei: e se o dono voltar? E se for só uma pausa, e não um adeus? Então deixei ele lá, quietinho, como um segredo que o prédio guarda. E sigo meu caminho, com a cabeça cheia de perguntas e o coração um pouco mais leve por imaginar que, talvez, alguém ainda vá buscá-lo — ou que, quem sabe, ele já encontrou paz naquela entrada esquecida.

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