Prática que promove o trabalho conjunto entre professores(as) fortalece a aprendizagem, o diálogo e contribui para escolas mais inclusivas e democráticas
A formação de professores(as) no Brasil tem sido um tema central para o debate educacional, especialmente diante das rápidas mudanças sociais, culturais e tecnológicas que impactam as escolas em todo o país. Em meio a esses desafios, uma prática tem ganhado cada vez mais espaço como alternativa para fortalecer a formação docente e melhorar a qualidade do ensino: a docência compartilhada.
Essa prática consiste na atuação conjunta de dois(duas) ou mais professores(as) no mesmo espaço e momento de ensino, com o objetivo de construir coletivamente o processo pedagógico. Diferente do modelo tradicional, que muitas vezes coloca o(a) professor(a) como figura isolada em sala de aula, a docência compartilhada promove um trabalho colaborativo pautado no diálogo, na escuta ativa e na corresponsabilidade.
Para educadores(as) e especialistas, a docência compartilhada não é apenas uma estratégia de organização do trabalho, mas um verdadeiro instrumento formativo. Ela possibilita que futuros(as) docentes, ainda em processo de formação, aprendam na prática a dividir responsabilidades, planejar juntos, refletir sobre seus métodos e lidar com os desafios reais do cotidiano escolar. Essa vivência prepara-os(as) para atuar em contextos complexos, promovendo uma educação mais inclusiva, crítica e sensível às diversas realidades dos estudantes.
Estudos indicam que a docência compartilhada fortalece a identidade profissional dos educadores(as), favorece a troca constante de saberes entre docentes iniciantes e experientes e amplia o repertório metodológico de toda a equipe escolar. Além disso, ela permite a aplicação de estratégias pedagógicas diversificadas que atendem melhor à pluralidade presente nas salas de aula, incluindo estudantes com necessidades específicas de aprendizagem.
No entanto, apesar dos benefícios evidentes, a implementação da docência compartilhada enfrenta obstáculos significativos. A cultura tradicional do ensino, muitas vezes marcada pelo individualismo, e a falta de políticas institucionais que reconheçam e incentivem o trabalho coletivo, dificultam a adoção sistemática dessa prática. A resistência à mudança por parte de alguns(algumas) profissionais e a ausência de tempo para o planejamento conjunto são desafios recorrentes.
Para que a docência compartilhada possa se consolidar como uma prática comum, é fundamental que as redes de ensino, as instituições formadoras e os órgãos responsáveis pela educação pública assumam um compromisso político-pedagógico claro. Isso inclui investir em formação continuada específica, criar espaços para planejamento coletivo e valorizar o trabalho em equipe como elemento central para a qualidade da educação.
A prática da docência compartilhada também dialoga profundamente com os princípios do renomado educador Paulo Freire, que via o diálogo como elemento essencial para a construção do conhecimento e a transformação social. Segundo Freire, ensinar é um ato político e ético, que deve respeitar a diversidade dos(as) sujeitos(as) envolvidos(as) e promover relações horizontais entre educadores(as) e educandos(as). Nesse sentido, a docência compartilhada torna-se um caminho para tornar as escolas ambientes verdadeiramente democráticos, acolhedores e comprometidos com a formação de cidadãos(as) críticos(as) e conscientes.
Além disso, essa prática amplia as possibilidades de inovação pedagógica ao promover a construção coletiva de soluções para os desafios da sala de aula. Em tempos em que a diversidade cultural e cognitiva dos(as) estudantes exige cada vez mais flexibilidade e sensibilidade, o trabalho conjunto entre professores(as) mostra-se uma resposta eficaz e necessária.
Em resumo, a docência compartilhada representa uma importante transformação no modo como se pensa e se realiza a formação docente no Brasil. Ao promover a colaboração, o diálogo e a corresponsabilidade, essa prática contribui para a construção de uma educação pública de qualidade, que respeita as diferenças e prepara educadores(as) para os desafios contemporâneos.
Para o futuro da educação, é essencial ampliar o debate e investir em políticas públicas e iniciativas institucionais que incentivem e estruturam a docência compartilhada, garantindo que ela deixe de ser exceção para se tornar regra na formação e na prática pedagógica dos(as) professores(as).
Referências
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 56. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2018.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.
Autor:
Mario Marcos Lopes[1]
[1]Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Professor da Rede Municipal de Ribeirão Preto.