A União Nacional dos Homens Alienados – UNHA – tem apenas reuniões virtuais: evita deslocamentos e garante audiência. Para atender o grupo “Alienados, mas no Lar”, homens chutados que ainda moram com a ex-mulher e nada apitam, há geração automática de legenda. Podem participar no banheiro, garagem, lavanderia ou local isolado, na surdina. Evita problemas, pois temas sensíveis são abordados e ninguém quer se complicar. Mulher feliz, homem feliz.
O assunto do momento é a Ameaça Pet. Com a crescente substituição de homens por animais de estimação, alguns são tolerados em casa só porque cozinham, passam roupa, cuidam do bebê, fazem faxina e outras tarefas outrora femininas. Claro que também cortam grama, trocam lâmpadas e abrem vidros de azeitona e palmito. A mulher empoderada prefere a companhia e o cafuné dos Pets.
A renda feminina cresceu com a política de diversidade e deu-lhes mais autonomia. Resultado: hoje tem mais Pet que marido. Um diretor da UNHA que tem dois cursos superiores, MBA do exterior e fala 3 idiomas, só conseguiu trabalho modesto e ainda assim graças à esposa, que não concluiu a faculdade, foi contratada pela política de cotas, ganha muito mais e é chefe dele.
Outro tema polêmico é Inteligência Artificial versus Inteligência Humana. Por causa da I. A., o homem perdeu relevância. Mulher que sabe consultar a I. A. quase não precisa de homem. Logo, os robôs domésticos abrirão latas de palmito e trocarão lâmpadas. Aí será o fim!
- Mas elas precisarão de homens para lhes dar prazer e também para a procriação – um membro apartou.
- Elas podem encomendar material genético e selecionar o perfil do bebê desejado no App “faça você mesma”. Está em testes “a” robô Barriga de Aluguel. Mulher não mais sofrerá dor de parto. A robô dará à luz, banho, trocará fraldas e amamentará. Depois, é só desligar.
- Quer saber o que penso? – perguntou alguém pelo Chat.
- Se eu quisesse saber o que você pensa, perguntaria à sua ex-esposa.
O relator interrompeu a discussão e lembrou os aspectos favoráveis desse empoderamento para os homens: dominar o controle da TV; ver futebol e MMA na sala, de cueca, sem precisar sair para soltar uns; deixar toalha molhada na cama; barbear quando der na telha; sem comédia romântica ou idas ao shopping; não visitar sogra ou cunhado chato, aliás, não ter sogra, nem cunhado. Outro aparte:
- Mas nós, maridos, temos necessidades que só as boas esposas podem suprir.
- Você quer dizer comida? Esquece. Hoje em dia é tudo por aplicativo.
- Eu me refiro ao amor. Podemos ter jatinhos, iates, carrões, mas tem coisas que só uma boa esposa pode dar.
- Amigo, tudo o que voa, navega, corre ou geme, é melhor alugar. Conhece o App “Piriguete On Line”? Tem para todos os gostos.
O moderador sugeriu votar e aprovar os atributos da mulher ideal, segundo a política da UNHA: ótima amante; companheira; prendada; expert em economia doméstica; sabe receber e ser bem-vinda; mãe amorosa; acredita em tudo o que o marido diz; vive de boa com a sogra (neste momento houve novo aparte):
- Está faltando o parágrafo único.
- E qual seria o parágrafo único?
- Jamais permitir que todas elas se encontrem. KKK. É impossível todos esses atributos numa única pessoa. KKK.
A reunião foi encerrada, para alívio dos alienados que moram com a ex-esposa. A ata nunca é enviada, para não produzir provas contra os membros da UNHA. Alguém que acompanhou a reunião na sala, fingindo assistir o noticiário, ouviu a esposa dizer:
- Lindo, hoje tem atum fresquinho para o jantar.
- Meu amor, por acaso não teria um bom bife acebolado?
- Aníbal, estou falando com o gato. Se estiver com fome, peça iFood.
O moderador resolveu testar o “Piriguete On Line”. O melhor custo-benefício era Jenniffer, com dois “N” e dois “F”. Morena sensacional. Ele chegou no Flat dela e foram direto para o quarto. Durante as preliminares, um porta-retrato sobre a mesa de cabeceira o incomodou.
- Jenniffer, você não me disse que é casada!
- Nunca me casei. Sou solteiríssima!
- E quem é esse barbudo aí na foto?
- Eu mesma, antes da cirurgia.
Esse assunto estará na pauta da próxima reunião da UNHA. Vida miserável que segue.