É preciso ter o olhar opaco e o coração endurecido para não enxergar o valor dos trabalhadores que sustentam, silenciosamente, tudo que há de essencial na vida urbana. Quem despreza o gari que acorda antes do sol para livrar nossas ruas do caos, quem olha de lado para a faxineira que devolve dignidade aos hospitais, quem ignora o pedreiro que materializa moradias, comete um erro grave, pois só existe conforto porque existe suor. Só existe ordem porque existem mãos calejadas. É uma covardia estrutural chamar de menor quem empunha a vassoura, a enxada, o rodinho, enquanto cada comodidade depende diretamente do trabalho árduo, do desgaste físico, do comprometimento dessas pessoas.
A verdade incômoda é que a precarização desses trabalhadores serve como combustível para um sistema que enriquece os já ricos. O salário baixo, o reconhecimento rarefeito, a ausência de proteção e direitos, tudo isso é mantido para que seja barato ter a casa limpa, a rua varrida, o prédio erguido, o alimento servido. O luxo de poucos é sustentado pelo sacrifício não apenas físico, mas humano, de muitos. São trabalhadores forçados ao invisível, tratados como engrenagens descartáveis, enquanto os benefícios desse descaso são saboreados por uma elite que, raramente, sabe o nome de quem faz o serviço.
Ainda assim, eles resistem e resistir é sua maior força. Enfrentam jornadas longas, salários injustos e o desprezo cotidiano, mas carregam orgulho por cada tarefa cumprida, por cada pequena ordem restaurada do caos. Quem cruza os braços diante dessas pessoas revela a verdadeira miséria: a miséria de quem acredita que dignidade pode ser medida por riqueza. É nesses trabalhadores que reside a grandeza humana, aquela que dinheiro algum supera. O mundo sem seus gestos seria só lixo, poeira e vazio. Que a gratidão, o respeito e o carinho sejam multiplicados a essas almas valentes, porque é nelas que está a beleza que falta aos que fingem não enxergar, especialmente quando é conveniente pagar menos por tudo o que lhes serve.