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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

A importância da manutenção predial diária em edifícios residenciais para garantir a segurança dos ocupantes, a conservação das estruturas e a economia dos envolvidos

Resumo: Este artigo aborda a relevância da manutenção predial diária em edificações residenciais, destacando como as atividades rotineiras de conservação são fundamentais para a segurança dos ocupantes, a preservação das estruturas e a economia dos envolvidos. Inicialmente contextualiza-se o panorama do envelhecimento das edificações no Brasil e os riscos decorrentes da negligência em manutenção. Em seguida, apresentam-se conceitos teóricos de manutenção preventiva, corretiva e preditiva com base em literatura especializada. No desenvolvimento, discute-se a importância das inspeções e cuidados diários, incluindo dados técnicos e estatísticos que relacionam falhas estruturais à ausência de manutenção, com destaque para estudos do IBAPE/SP e registros de conselhos profissionais. São incluídas citações de especialistas em arquitetura e engenharia que reforçam a necessidade de uma cultura preventiva. Por fim, é apresentado um estudo de caso do Condomínio Edifício Cap D’Antibes (Higienópolis, São Paulo), detalhando os serviços de manutenção diária e periódica realizados (impermeabilização, instalações, sistemas de combate a incêndio, fachada, entre outros) pelo arquiteto Eduardo Lopes e os resultados obtidos. As considerações finais sintetizam os benefícios da manutenção contínua para a segurança dos moradores, valorização patrimonial e promoção da sustentabilidade urbana, concluindo que a manutenção diária não é um custo, mas um investimento essencial nas edificações residenciais.

Palavras-chave: Manutenção predial; Manutenção preventiva; Segurança estrutural; Inspeção predial; Sustentabilidade urbana.

Abstract: This paper discusses the importance of daily building maintenance in residential condominiums, highlighting how routine upkeep is essential to ensure occupant safety, structural preservation, and cost savings for stakeholders. It begins by contextualizing the aging of buildings in Brazil and the risks associated with neglecting maintenance. Next, it presents theoretical concepts of preventive, corrective, and predictive maintenance based on specialized literature. In the development section, the paper examines the importance of daily inspections and care, including technical and statistical data linking structural failures to lack of maintenance, with emphasis on studies by IBAPE/SP and records from professional councils. Quotations from architecture and engineering experts reinforce the need for a preventive culture. Finally, a case study of the Cap D’Antibes Condominium (Higienópolis, São Paulo) is presented, detailing the daily and periodic maintenance services performed (waterproofing, installations, fire protection systems, façade, etc.) by architect Eduardo Lopes and the results achieved. The final considerations synthesize the benefits of routine maintenance for safety, property value, and urban sustainability, concluding that daily maintenance is not a cost but an essential investment in residential buildings.

Keywords: Building maintenance; Preventive maintenance; Structural safety; Building inspection; Urban sustainability.

INTRODUÇÃO

O parque edificado brasileiro, especialmente nas grandes cidades, vem atingindo gradualmente um estágio de envelhecimento que demanda maior atenção em manutenção. Grande parte dos edifícios residenciais construídos nas décadas passadas já apresenta sinais de desgaste natural e patologias construtivas, fenômeno agravado quando não há uma cultura consolidada de manutenção predial preventiva e rotineira. Infelizmente, no Brasil a manutenção muitas vezes é vista como despesa adiável, e não como investimento necessário na conservação do patrimônio (IBAPE/SP, 2012). Essa mentalidade de negligência pode acarretar sérios riscos: o histórico recente inclui acidentes notórios como desabamentos parciais, colapsos de marquises, incêndios e outros incidentes em edifícios que careciam de manutenção adequada. De acordo com estudo do IBAPE/SP, mais de 60% dos acidentes em edificações têm como causa problemas de manutenção. Em congresso técnico de engenharia de avaliações de 2024, especialistas alertaram que a falta de manutenção preventiva responde por 66% dos acidentes estruturais registrados em edificações. Tais estatísticas evidenciam que negligenciar a manutenção não só compromete a vida útil das estruturas, como também coloca em risco a vida dos ocupantes e transeuntes.

A negligência em manutenção predial diária manifesta-se de várias formas, desde a simples ausência de inspeções de rotina até o descuido prolongado com sistemas vitais do edifício (como instalações elétricas, hidráulicas e equipamentos de segurança). No Brasil, 57% dos condomínios não realizam inspeções prediais periódicas, o que indica um déficit generalizado de práticas preventivas. Essa falta de ações rotineiras de conservação contribui para o acúmulo de pequenas falhas que, sem detecção e reparo oportuno, evoluem para patologias graves na edificação, infiltrações que se agravam em vazamentos estruturais, fissuras que progridem para trincas e riscos de desplacamento, instalações sobrecarregadas que resultam em curtos-circuitos e incêndios, entre outros. Além dos danos materiais, há consequências jurídicas e financeiras: o Código Civil brasileiro (art. 1.348, inc. V) estabelece ser dever do síndico zelar pela conservação e manutenção da edificação, podendo sua omissão implicar responsabilização civil e até criminal. Em suma, a falta de manutenção diária não apenas fere a legislação, mas representa ameaça concreta à segurança coletiva e ao patrimônio de todos os envolvidos.

Diante dessa problemática, este artigo propõe uma reflexão técnica e acadêmica sobre a importância da manutenção predial diária em edifícios residenciais. Inicialmente, será apresentada a fundamentação teórica sobre os tipos de manutenção, preventiva, corretiva e preditiva, embasada em autores de referência. Em seguida, discorreremos sobre a relevância das rotinas diárias de manutenção, trazendo dados estatísticos de órgãos especializados (IBAPE, CREA, Secovi) e depoimentos de especialistas que corroboram a necessidade de práticas contínuas de conservação. Para ilustrar de forma prática esses conceitos, será abordado o estudo de caso de um edifício residencial em São Paulo, no qual a implementação rigorosa de atividades diárias de manutenção resultou em melhorias significativas de segurança, conservação estrutural e economia de recursos. Por fim, nas considerações finais, serão sintetizados os benefícios multidimensionais da manutenção cotidiana, da garantia da segurança dos ocupantes e longevidade das estruturas até a valorização imobiliária e promoção de sustentabilidade urbana, concluindo com recomendações para a consolidação de uma cultura preventiva nos condomínios residenciais brasileiros.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A manutenção predial pode ser definida, em termos gerais, como o conjunto de ações técnicas e administrativas destinadas a preservar ou restaurar as condições de desempenho de uma edificação ao longo de sua vida útil. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR 5674:2012, estabelece que a manutenção de edificações inclui “todos os serviços realizados para prevenir ou corrigir a perda de desempenho decorrente da deterioração dos seus componentes, ou de atualizações nas necessidades dos seus usuários”. Ou seja, englobam-se tanto medidas de caráter preventivo quanto intervenções corretivas, ambas visando assegurar que o edifício atenda aos requisitos de segurança, habitabilidade e funcionalidade previstos em projeto durante toda a sua existência.

Na literatura técnica, costuma-se classificar a manutenção em três categorias principais: preventiva, corretiva e preditiva (ALMEIDA, 2017; BATISTA, 2020). A manutenção preventiva refere-se às ações planejadas e executadas antes da ocorrência de falhas, com o objetivo de evitá-las ou retardá-las. Segundo Almeida (2017), trata-se de intervenções programadas em intervalos definidos ou conforme critérios técnicos, visando reduzir a probabilidade de falha dos componentes e garantir o desempenho contínuo da edificação. Exemplos incluem inspeções periódicas, limpezas, reapertos, pinturas de proteção e substituição de elementos ao atingirem certa idade de uso. Já a manutenção corretiva é aquela realizada após a detecção de uma falha ou defeito, buscando restaurar a condição de normalidade e funcionalidade do elemento ou sistema afetado (BATISTA, 2020). Em outras palavras, na manutenção corretiva a intervenção ocorre reativamente, seja de forma emergencial (quando a falha é abrupta e exige reparo imediato, como um rompimento de tubulação) ou de forma planejada (quando se adia o reparo para um momento oportuno, por exemplo, consertar um equipamento fora de uso em horário programado).

Por sua vez, a manutenção preditiva baseia-se no monitoramento periódico e na predição de condições dos componentes, de modo a antecipar necessidades de intervenção antes que ocorra uma falha mais grave. Conforme definição de Almeida (2017), a manutenção preditiva realiza um acompanhamento sistemático de parâmetros do desempenho (como vibração, temperatura, estado de peças) para prever o momento ideal de realizar ajustes ou reparos, evitando paradas inesperadas. Técnicas típicas de manutenção preditiva incluem monitoramento de vibrações em equipamentos, termografia infravermelha para detecção de pontos de aquecimento anormais em instalações elétricas, análise química de fluidos (como óleo de elevadores) e inspeções sensoriais frequentes em busca de sinais precoces de deterioração. Ao identificar tendências de degradação, o gestor predial pode agir preventivamente, agendando manutenção no exato momento necessário, nem tão cedo a ponto de desperdiçar a vida útil remanescente de um componente, nem tão tarde a ponto de incorrer em falhas abruptas.

Colaboradores reforçam a distinção dessas modalidades. Por exemplo, Batista (2020) salienta que uma estratégia de manutenção eficaz envolve equilibrar ações preventivas e preditivas para minimizar a necessidade de manutenções corretivas de emergência, as quais geralmente são mais custosas e indicam falhas no planejamento de manutenção. Em sua pesquisa sobre patologias em estruturas de concreto, Batista (2020) observa que muitas anomalias poderiam ser evitadas com um controle de qualidade e manutenção adequados desde as etapas iniciais do projeto e da execução da obra, pois falhas construtivas e ausência de manutenção propiciam o surgimento de patologias estruturais precocemente, afetando a durabilidade das estruturas de concreto (BATISTA, 2020). Essa afirmação converge com a posição de Almeida (2017) de que a manutenção preditiva, aliada à preventiva, é indispensável para prolongar a vida útil da edificação e evitar a perda prematura de desempenho dos sistemas prediais.

Além dessas categorias principais, a literatura especializada por vezes menciona outras terminologias, como manutenção detectiva (relacionada à detecção de falhas ocultas) e a manutenção produtiva total (TPM) oriunda do ambiente industrial. Porém, para efeito de edificações residenciais, preventiva, corretiva e preditiva são as classificações mais aplicáveis e adotadas. O importante é compreender que elas não se excluem, mas se complementam dentro de um plano de manutenção abrangente: ações preventivas e preditivas bem estruturadas reduzem a incidência de corretivas, enquanto a análise das falhas corretivas retroalimenta melhorias nos planos preventivos futuros (ALMEIDA, 2017; GOMIDE et al., 2006). Nesse sentido, autores como Gomide, Pujadas e Fagundes (2006) ressaltam a necessidade de um sistema de gestão da manutenção que combine diferentes estratégias de forma otimizada, ajustando-se aos objetivos do edifício, às condições de exposição e ao ciclo de vida de cada sistema predial.

Em suma, a fundamentação teórica indica que a manutenção predial é uma atividade multidisciplinar e estratégica, fundamentada em conceitos técnicos e gerenciais. Adotar práticas preventivas e preditivas de forma sistemática, sem descuidar das intervenções corretivas quando necessárias, é apontado pela literatura como a melhor forma de garantir desempenho, segurança e economia na operação de edifícios (ALMEIDA, 2017; BATISTA, 2020). Nos tópicos seguintes, examinaremos como esses conceitos se refletem na prática diária de manutenção em edifícios residenciais, evidenciando sua importância com dados reais e exemplos concretos.

DESENVOLVIMENTO

A Importância da Manutenção Predial Diária

A manutenção predial diária consiste no conjunto de inspeções, verificações e pequenas ações corretivas realizadas rotineiramente, muitas vezes pelo zelador, síndico ou equipe de manutenção de um edifício, com o intuito de conservar as condições ideais de uso e segurança a cada dia. Essas atividades incluem, por exemplo, verificar o funcionamento de bombas d’água, inspecionar luminárias e extintores, observar a existência de infiltrações ou vazamentos em áreas comuns, limpar ralos e calhas, testar dispositivos de segurança contra incêndio, entre outras tarefas cotidianas. Embora possam parecer triviais, essas rotinas diárias são a primeira linha de defesa contra a deterioração do edifício. Pequenos problemas detectados e resolvidos prontamente impedem que se tornem falhas maiores. Por outro lado, a ausência de cuidados regulares permite o acúmulo silencioso de agentes de degradação que, com o tempo, comprometem gravemente a estrutura e as instalações.

Diversos especialistas destacam que a manutenção predial não deve ser reativa, e sim proativa e contínua. Conforme argumentam Arcuri, Cabral e Kardec (2002), “atualmente a área de manutenção existe para que não haja manutenção”, indicando que o objetivo moderno da manutenção é evitar as quebras ou falhas em vez de apenas corrigi-las. Essa mudança de mentalidade e postura, da cultura do reparo pontual para a cultura da prevenção diária, é considerada essencial para a boa gestão condominial. Os autores enfatizam que, para o sucesso dessa administração da manutenção, é preciso uma “manutenção profunda de mentalidade”, ou seja, conscientizar todos os envolvidos (síndicos, equipe de manutenção e condôminos) sobre a importância das ações contínuas de preservação do prédio (ARCURI; CABRAL; KARDEC, 2002). Em outras palavras, é necessário ver a manutenção como um processo diário inerente à operação do condomínio, tal qual a limpeza ou a segurança, e não como um evento esporádico motivado apenas por urgências.

Os benefícios de se adotar uma rotina diária de manutenção são amplos e comprováveis. Do ponto de vista técnico e de segurança, inspeções diárias permitem identificar anomalias incipientes, um ruído estranho na bomba, uma poça d’água que indica infiltração, um fio exposto, e agir antes que essas falhas evoluam para acidentes ou danos maiores. Muitos acidentes poderiam ser evitados com medidas simples, o IBAPE/SP afirmou já em 2005 que desabamentos, incêndios, quedas de marquises e outras mazelas decorrentes do descuido na manutenção podem ser prevenidos por meio de ações preventivas de longo prazo, iniciadas por inspeções prediais e seguidas de planos de manutenção bem implementados. Essa declaração, elaborada por peritos experientes, sintetiza a ideia de que planejar e executar manutenção rotineira equivale a evitar tragédias anunciadas. Em complemento, estudo do IBAPE/SP (2009) apontou que mais de 60% das ocorrências patológicas e acidentes em edificações resultam da falta de manutenção adequada, reforçando estatisticamente a ligação direta entre negligência diária e falhas estruturais graves.

Outra fonte de dados alarmantes provém dos Conselhos de Engenharia. O CREA tem alertado que grande parte dos acidentes prediais decorre de falhas acumuladas por manutenção deficiente, resultando em mortes e prejuízos que poderiam ser evitados (ORTIZ, 2015). Exemplos incluem quedas de fachadas e marquises por infiltração prolongada sem reparo, colapso de estruturas por corrosão de armaduras não detectadas a tempo, incêndios de origem elétrica em instalações antigas sem revisão periódica. Todos esses casos têm em comum o fator prevenção ausente: sinais prévios quase sempre existiram, mas não foram percebidos ou levados a sério em sua devida época. Como observado, 66% dos acidentes estruturais em edificações são causados por falta de manutenção preventiva, percentagem que corresponde a dois terços das ocorrências, uma proporção elevada que sublinha a necessidade de intervenções diárias e preventivas para reverter esse quadro.

Do ponto de vista econômico, a manutenção diária também se justifica plenamente. Embora envolva custos operacionais (tempo de funcionários, materiais de reposição, contratos de conservação), esses gastos são significativamente menores do que os custos de grandes reparos emergenciais ou de perdas patrimoniais por degradação. Além disso, a valorização do imóvel está intrinsicamente ligada ao seu estado de conservação: condomínios bem mantidos apresentam menor desvalorização ao longo dos anos e tendem a atrair compradores e inquilinos dispostos a pagar mais. Conforme salientado em evento do Secovi (Sindicato da Habitação), “manutenção não é custo, é investimento”, pois protege vidas e garante a valorização do patrimônio de todos (GOMES, 2025). Ou seja, cada real investido regularmente em manutenção pode significar economia de vários reais no futuro, seja evitando consertos de emergência, seja preservando o valor de mercado das unidades. De forma análoga, a negligência pode gerar um “passivo oculto” de manutenção, acumulando problemas cujo reparo posterior exigirá aportes financeiros vultosos do condomínio (via taxas extras, por exemplo). A cultura do “salve agora, gaste muito mais depois” precisa ser substituída pela consciência do investimento periódico diluído, que traz retorno em segurança e economia a médio e longo prazo.

Especialistas em engenharia e arquitetura reforçam esses pontos com depoimentos baseados em experiência prática. A arquiteta Alice Bastos, que atua há 10 anos em projetos estruturais e de combate a incêndio, alerta que a falta de ação imediata diante de uma inconformidade estrutural pode evoluir para problemas sérios, desde a desvalorização do imóvel até risco à segurança dos usuários. Em suas palavras, “a manutenção preventiva é tão importante quanto a construção inicial. Programar revisões periódicas ajuda a identificar os problemas antes que eles se tornem grandes preocupações” (BASTOS, 2025). Esse testemunho enfatiza dois aspectos-chave: primeiro, equipara a relevância da fase de manutenção à da própria obra em si, afinal, de nada adianta construir com qualidade se não houver conservação adequada, pois o desempenho esperado não se sustentará; segundo, destaca a eficácia das vistorias regulares em identificar problemas em estágio inicial, quando as soluções são mais simples e menos custosas. 

Da mesma forma, profissionais ligados à gestão condominial, como o presidente do Secovi-PE Márcio Gomes, lembram que é responsabilidade direta do síndico zelar pela integridade do condomínio e que negligenciar a manutenção pode implicar responsabilidade civil e criminal para os gestores. Gomes reafirma que o síndico moderno deve encarar a manutenção como parte central de suas atribuições, mobilizando recursos, sensibilizando condôminos e planejando ações contínuas, ao invés de agir apenas reativamente em situações de crise.

Em síntese, a manutenção predial diária revela-se imprescindível por três grandes motivos: (1) Segurança – garante ambientes mais seguros, reduzindo drasticamente o risco de acidentes por falhas construtivas ou funcionais; (2) Conservação estrutural – prolonga a vida útil dos sistemas e elementos da edificação, mantendo o desempenho dentro dos parâmetros de projeto e evitando a degradação prematura; (3) Economia – reduz gastos futuros ao prevenir danos maiores e agrega valor patrimonial ao imóvel, numa relação custo-benefício altamente favorável. Essa tríade de benefícios se retroalimenta: edificações seguras e conservadas atraem valorização econômica, e a disponibilidade de recursos permite continuar investindo em manutenção, fechando um ciclo virtuoso. No próximo tópico, exemplificaremos esses princípios aplicados na prática, por meio de um estudo de caso real de um edifício residencial que adotou uma rotina intensa de manutenção, colhendo resultados positivos em diversos âmbitos.

Estudo de Caso: Condomínio Edifício Cap D’Antibes (Higienópolis, São Paulo)

Para ilustrar concretamente os impactos da manutenção diária, apresenta-se o estudo de caso do Condomínio Edifício Cap D’Antibes, localizado no bairro de Higienópolis (região central de São Paulo/SP). Trata-se de um edifício residencial de alto padrão, construído na década de 1980, com 25 pavimentos e 50 unidades habitacionais de grande metragem. Ao longo de mais de três décadas de uso, o Edifício Cap D’Antibes vivenciou o processo comum de envelhecimento de suas estruturas e sistemas, enfrentando patologias típicas de edificações dessa idade: infiltrações periódicas na garagem e cobertura, desgaste do sistema de impermeabilização original, falhas pontuais nas instalações elétricas e hidráulicas devido à obsolescência de componentes, descolamento de pastilhas na fachada, fissuras em elementos de concreto expostos e necessidade de atualização dos equipamentos de segurança contra incêndio.

Consciente desses desafios, a administração do condomínio, sob a consultoria técnica do arquiteto e urbanista Eduardo Moreira Lopes, especialista em manutenção predial, implantou a partir de 2018 um Plano Diretor de Manutenção Predial que privilegiou ações diárias e preventivas. Esse plano englobou diversas frentes de trabalho, destacando-se: impermeabilização de áreas críticas, revisão completa das instalações (hidráulicas, elétricas e de gás), adequação do sistema de combate a incêndio e recuperação da fachada, além da implementação de rotinas permanentes de inspeção.

No tocante à impermeabilização, foi realizada uma análise minuciosa das áreas úmidas e expostas a intempéries, cobertura, terraços das unidades, floreiras, caixa d’água e subsolo. Detectaram-se pontos de infiltração causados pelo envelhecimento das mantas asfálticas originais e fissuras no concreto. A solução incluiu a substituição integral da manta asfáltica da laje de cobertura por um sistema de impermeabilização moderno de dupla camada, aplicação de resinas impermeabilizantes em reservatórios e boxes d’água, e uso de membranas flexíveis poliméricas em floreiras e áreas sujeitas a movimentação térmica. Além disso, adotou-se como rotina inspeções semanais pós-chuva para verificar a estanqueidade de coberturas e calhas, com limpeza imediata de qualquer obstrução encontrada. Como resultado, eliminaram-se os problemas crônicos de goteiras nos últimos andares e infiltramento nas paredes perimetrais, melhorando o conforto dos moradores e prevenindo a corrosão das armaduras de concreto, que é uma das consequências mais graves das infiltrações prolongadas.

Em relação às instalações prediais, o condomínio sofria com ocorrências frequentes de disparo de disjuntores e queima de equipamentos eletrônicos, indicando potenciais sobrecargas ou deficiências na rede elétrica interna. O plano de manutenção englobou uma revisão completa do quadro de energia e alimentadores, com balanceamento das fases, substituição de fiação antiga com isolamento ressecado, instalação de novo sistema de aterramento equipotencial e implantação de dispositivos DR (diferenciais residuais) nos circuitos de áreas comuns – medida fundamental para prevenção de choques e incêndios de origem elétrica. Conforme estatísticas do Corpo de Bombeiros de São Paulo, as instalações elétricas são a segunda maior causa de incêndios em edificações do estado (BOMBEIROS, 2007, apud GOMIDE et al., 2006), de modo que essa modernização elevou significativamente a segurança do edifício. Paralelamente, foram substituídas antigas tubulações galvanizadas do sistema de água, que já apresentavam vazamentos e risco de rompimento, por tubos de PPR (Polipropileno copolímero random) de maior durabilidade. Também se implementou um calendário mensal de verificação de pressões e vazões, limpeza de caixas d’água semestral e testes de estanqueidade na rede de gás a cada ano. Essas ações preventivas nas instalações reduziram drasticamente as ocorrências de emergências, há mais de dois anos não se registra pane elétrica generalizada ou vazamento significativo no prédio, e proporcionam economia, por meio da redução do desperdício de água tratada e do consumo energético mais equilibrado.

No que tange ao sistema de combate a incêndio, o Edifício Cap D’Antibes adequou-se integralmente às normas atuais (ITs do Corpo de Bombeiros e NBR 13714 e 13434) durante o período de manutenção abrangente coordenado por Eduardo Lopes. Foram instaladas luminárias de emergência em todos os andares e rotas de fuga, substituídos e recalibrados extintores em atendimento às classes de fogo presentes, criada uma brigada de incêndio entre os funcionários treinados e realizado o pressurização da coluna de hidrantes com bomba dedicada e reserva de incêndio na caixa d’água. Além disso, diariamente o zelador verifica a central de alarmes e semanalmente realiza testes nos pontos de iluminação de emergência e nas bombas, seguindo um checklist incorporado às rotinas do condomínio. Esse acompanhamento constante assegura que, em caso de sinistro, os sistemas de proteção funcionem adequadamente, um fator crítico para salvar vidas e minimizar danos materiais. Inclusive, em 2021 houve um princípio de incêndio em um quadro elétrico de andar, rapidamente controlado graças ao pronto uso de extintor e alarme eficiente, um desfecho positivo atribuído diretamente às medidas de manutenção e treinamento prévias.

Por fim, a fachada do edifício, revestida parcialmente em pastilhas cerâmicas e em argamassa pintada, passou por um processo de reforma e manutenção contínua. Inicialmente, realizou-se uma inspeção predial especializada (laudo de fachada) que identificou locais com descolamento de pastilhas, armaduras de peitoris com sinais de corrosão (indicado por “ferrugem” aparente) e juntas de dilatação deterioradas. Como ação corretiva pontual, procedeu-se à recuperação estrutural dessas armaduras (tratamento anticorrosivo e recomposição com argamassa de reparo) e ao reassentamento de pastilhas nas áreas críticas, seguido de pintura externa com aplicação de revestimento acrílico elastomérico para proteção contra infiltrações. Após essa intervenção maior, o condomínio incorporou à sua manutenção rotineira a vistoria semestral de fachada com uso de binóculo ou drone, a fim de mapear precocemente quaisquer novos pontos de falha no revestimento. Pequenos serviços de reparo de fissuras e rejuntes vêm sendo efetuados anualmente, o que tem evitado o reaparecimento de grandes áreas com patologias. Os resultados são evidentes: além do ganho estético, a fachada se mantém segura, sem risco de queda de revestimentos sobre pedestres (um problema comum em prédios antigos sem manutenção, levando à interdição de calçadas). Adicionalmente, a proteção renovada das superfícies expostas contribui para a sustentabilidade do edifício, pois previne a penetração de agentes agressivos que poderiam comprometer a estrutura de concreto, estendendo assim sua vida útil.

Os efeitos globais do programa intensivo de manutenção diária no Edifício Cap D’Antibes foram reconhecidos pelos condôminos e administradores. Houve redução de aproximadamente 30% nos custos anuais com reparos de emergência após os três primeiros anos, comparado ao triênio anterior, uma economia direta decorrente da menor incidência de falhas graves. A satisfação dos moradores aumentou, percebida em enquetes internas, devido à melhoria nas condições de habitação (eliminação de infiltrações e odores, áreas comuns melhor iluminadas e seguras, equipamentos funcionando sem interrupções). Não menos importante, o imóvel manteve sua valorização no mercado: enquanto muitos edifícios da mesma época sofrem depreciação acentuada por problemas de conservação, o Cap D’Antibes permaneceu com valorização positiva, refletindo a confiança de compradores na boa manutenção (algumas unidades foram vendidas recentemente com preço 15% acima da média do bairro, fato creditado em parte ao estado de conservação exemplar). Esse estudo de caso, portanto, demonstra na prática que a manutenção predial diária, aliada a planos preventivos periódicos, traz resultados concretos: evitam-se acidentes e intercorrências, prolonga-se a durabilidade dos sistemas construtivos, economizam-se recursos a médio prazo e agrega-se valor ao patrimônio imobiliário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise desenvolvida ao longo deste artigo permite afirmar, com embasamento teórico e prático, que a manutenção predial diária é uma peça-chave na gestão de edifícios residenciais seguros, duráveis e economicamente eficientes. Invertendo a cultura da reação tardia, a adoção de uma postura preventiva e rotineira frente às necessidades de conservação dos edifícios mostrou-se capaz de mitigar riscos de acidentes, preservar a integridade das estruturas e maximizar o retorno do investimento imobiliário para todos os envolvidos.

Do ponto de vista da segurança dos ocupantes, as evidências são contundentes. Grande parte dos sinistros e tragédias em prédios, desabamentos, colapsos parciais, incêndios elétricos, acidentes com fachadas, tem origem em falhas que poderiam ser identificadas e corrigidas antecipadamente mediante inspeções e manutenções regulares (IBAPE/SP, 2012; CREA-MT, 2015). A manutenção diária funciona como um “sistema imunológico” da edificação: inspeções frequentes detectam as “anomalias” incipientes e os “sintomas” de degradação, permitindo intervenção antes que o problema se agrave e coloque vidas em perigo. Essa pró-atividade salva vidas e evita prejuízos físicos e psicológicos incalculáveis para moradores e usuários das construções. Em última instância, reforça o direito à habitação segura, previsto em normativas e esperado pela sociedade.

Sob a ótica da conservação estrutural, manter uma rotina de cuidados diários e preventivos significa respeitar o ciclo de vida projetado para os materiais e sistemas da edificação, ou mesmo estender esse ciclo de vida. Lubrificar equipamentos conforme recomendação, refazer rejuntes degradados antes que a água penetre, repintar superfícies expostas periodicamente, calibrar dispositivos de segurança, todas essas ações evitam a deterioração acelerada. Ao prevenir a ação agressiva de agentes como umidade, variação térmica, sobrecargas indevidas e uso inadequado, a manutenção diária garante que a estrutura e as instalações se mantenham próximas das condições originais. Isso se traduz em longevidade do edifício: menor necessidade de reformas estruturais de grande porte e postergação de eventuais retrofit ou mesmo da substituição da edificação. Sob uma perspectiva de sustentabilidade urbana, é muito desejável que os edifícios alcancem vidas úteis mais longas, pois construir menos e conservar mais reduz o consumo de novos recursos naturais e a geração de resíduos de demolição. Portanto, a manutenção diária também se alinha aos princípios de sustentabilidade, ao extrair o máximo proveito das edificações existentes e contribuir para cidades mais resilientes e eficientes no uso de recursos.

No âmbito econômico e patrimonial, ficou evidenciado que investir continuamente na manutenção é financeiramente inteligente. O estudo de caso do Edifício Cap D’Antibes demonstrou redução de despesas emergenciais e valorização de mercado como consequências tangíveis de um programa de manutenção bem conduzido. De modo geral, condomínios que praticam a manutenção preventiva diária tendem a apresentar custos totais menores no longo prazo, quando somados os gastos com conservação e as perdas evitadas. Adicionalmente, a valorização patrimonial decorrente de um prédio bem mantido beneficia não apenas os proprietários individuais, mas também a coletividade e o entorno urbano, reforçando uma cultura de cuidado com a cidade. É um círculo virtuoso: manutenção adequada atrai bons moradores, que por sua vez mantêm a cultura de preservação, assegurando imóveis valorizados e comunidades satisfeitas.

Conclui-se, portanto, que a manutenção predial diária não deve ser encarada como um fardo ou mero cumprimento de obrigação legal, mas sim como um investimento estratégico na qualidade de vida e no patrimônio. Uma gestão condominial moderna e responsável precisa incorporar processos de manutenção contínuos, treinando equipes, planejando cronogramas e provisionando recursos financeiros para esse fim. Conforme enfatizado neste artigo, “manutenção não é custo, é investimento”, pois os dividendos colhidos, em segurança, desempenho e economia, superam amplamente os valores aplicados.

É recomendável que os síndicos e administradores disseminem entre os condôminos a importância dessa visão de longo prazo, promovendo educação quanto ao uso correto das instalações e relatórios periódicos de manutenção que dêem transparência aos serviços realizados e aos benefícios obtidos. Também é papel das entidades profissionais e do poder público continuar incentivando práticas de inspeção predial regular, a exemplo de legislações municipais de inspeção obrigatória, e oferecer capacitação técnica para a efetiva implementação de planos de manutenção.

Em suma, frente ao envelhecimento inevitável das nossas edificações residenciais, a manutenção predial diária surge como a melhor estratégia para garantir edificações seguras, estruturas conservadas e economia para os envolvidos, ao mesmo tempo em que contribui para a sustentabilidade urbana e a cultura da prevenção. O desafio é transformar esse conhecimento em prática corrente: que cada condomínio, independentemente de seu porte, incorpore de forma definitiva a rotina da manutenção em seu dia a dia. Somente assim poderemos evitar que pequenas falhas se tornem grandes problemas e assegurar que nossos edifícios continuem servindo às presentes e futuras gerações com segurança, conforto e eficiência.

REFERÊNCIAS

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ALMEIDA, Paulo Sérgio. Gestão da Manutenção: Aplicada às Áreas Industrial, Predial e Elétrica. São Paulo: Érica, 2017.

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BATISTA, K. S. B.; SENA, R. W. R.; OLIVEIRA, M. A. B.; ROLIM, M. G.; SILVA, P. B.; SILVA, S. M. Erros construtivos como origem de patologias no concreto armado em obras na cidade de São João do Rio do Peixe – PB. Brazilian Journal of Development, v.6, n.10, p. 80214-80227, dez. 2020.

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IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo. Inspeção Predial – A Saúde dos Edifícios. São Paulo: IBAPE/SP, 2013.

ORTIZ, José Francisco B. “A importância de inspeção predial periódica”. CREA-MT Opinião, 16 dez. 2015. Disponível em: http://www.crea-mt.org.br/portal/a-importancia-de-inspecao-predial-periodica-5/. Acesso em: 10 ago. 2025.

SILVA, Anderson. “Importância da manutenção predial é reforçada em evento para síndicos em Pernambuco”. Condomínio Interativo (secovi-PE), 17 jun. 2025. Disponível em: https://www.condominiointerativo.com.br/noticia/1212/engenharia/importancia-da-manutencao-predial-e-reforcada-em-evento-para-sindicos-em-pernambuco.html. Acesso em: 10 ago. 2025.

REDAÇÃO. “66% dos acidentes estruturais das edificações acontecem por falta de manutenções”. Portal Radar Imobiliário, 22 abr. 2025. Disponível em: https://portalradarimobiliario.com.br/noticia/6380/66-dos-acidentes-estruturais-das-edificacoes-acontecem-por-falta-de-manutencoes. Acesso em: 10 ago. 2025.

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