Dias desses, mais uma vez, um vídeo antigo circulou como se fosse novo.
A cena, gravada anos atrás, mostrava uma situação de violência em uma escola.
Mas bastou alguém publicá-la novamente com a legenda “Aconteceu hoje!” para que a internet entrasse em ebulição.
Em questão de minutos, o conteúdo viralizou.
Comentários indignados, compartilhamentos furiosos, julgamentos sumários.
O vídeo foi parar em grupos de família, páginas de notícia duvidosa e perfis de influenciadores que, talvez pela ânsia de engajamento, esqueceram de fazer o básico que era checar a data.
Horas depois, veio a revelação de que o vídeo era antigo, muito antigo. Porém, o estrago já estava feito.
Essa cena vem se repetindo com uma frequência muito preocupante.
Imagens de enchentes de anos atrás, protestos antigos, reportagens recicladas, tudo ressurge nas redes como se fosse atual.
E o povo acredita, compartilha, reage.
A memória curta, somada à velocidade das redes, cria uma mistura explosiva, a desinformação em tempo real.
Vivemos num tempo em que os fatos perdem sua validade e o passado vira presente com um simples toque na tela.
A pressa em se indignar, muitas vezes legítima, atropela o cuidado com a verdade.
E o senso crítico, ferramenta essencial do cidadão, vai ficando de lado, enfraquecido pelo cansaço, pela pressa, ou, quem sabe, pela falta de hábito de investigar.
A internet é um terreno fértil para boas ideias, mas também para enganos bem embalados. E quando um povo deixa de lembrar, deixa também de aprender.
Um vídeo antigo compartilhado como atual não é apenas um erro, é uma demonstração de como podemos ser manipulados por nossas próprias emoções.
E pior, por nossa falta de memória.
O problema não está apenas em quem posta, mas em quem compartilha sem pensar. É preciso resgatar o senso de responsabilidade coletiva.
Checar a fonte, buscar o contexto, duvidar do fácil.
Em tempos de velocidade, desacelerar o clique pode ser o primeiro passo para não cair em armadilhas digitais.
Porque, um povo sem memória, aliado à pressa da internet, não só se engana ou é enganado, pois ele corre o risco de viver num presente falso, construído sobre ruínas de um passado mal interpretado.
E devido a essa realidade distorcida, perde-se também a chance de construir um futuro mais consciente.
Autor:
Carlos Alberto Omena