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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Rede D’Or e Fleury: O Nascimento do “CVS Brasileiro”?

Entenda os Impactos, Riscos e Desafios da Maior Megafusão da Saúde no Brasil

A saúde no Brasil está passando por uma das transformações mais relevantes de sua história recente. A fusão entre a Rede D’Or e o Grupo Fleury, anunciada em julho de 2025, promete criar um ecossistema de saúde verticalizada inspirado no modelo norte-americano da CVS Health — que deixou de ser apenas uma rede de farmácias para se tornar um império que reúne hospitais, laboratórios, planos de saúde, telemedicina e clínicas, tudo sob um mesmo guarda-chuva.

Aqui, a junção Rede D’Or + Fleury tem potencial para seguir um caminho semelhante: concentrar todas as etapas da jornada do cuidado em uma única operação, da prevenção ao diagnóstico, da internação à reabilitação, com uso intensivo de dados e tecnologia.

No livro Diversa-IDADE, que escrevi com Tatiana Gracia, já alertávamos para esse avanço silencioso: empresas ocupando toda a jornada do paciente. O que parecia um movimento futuro, agora está diante de nós — concreto e com enorme impacto no modelo de saúde brasileira.

Os Números Impressionam:

  • Rede D’Or: mais de 70 hospitais, presença em mais de 10 estados brasileiros.
  • Grupo Fleury: mais de 300 unidades especializadas em diagnóstico de alta complexidade.
  • Juntas, podem atender mais de 30 milhões de pessoas por ano.

Oportunidade ou Risco?

Sim, há oportunidades. O Brasil precisa de uma saúde mais integrada, escalável e baseada em valor. Com mais de 32 milhões de idosos, sendo que 18,6 milhões têm mobilidade reduzida, e 72% usam celular, existe demanda por soluções eficientes, digitais e centradas no paciente.

Mas o alerta está aceso:

  • A fusão pode ampliar a concentração de mercado, já que dois grandes grupos somam hoje 20% da receita hospitalar privada no país. Esse número pode crescer ainda mais, levantando preocupações no CADE e entre operadoras menores.
  • Os desafios operacionais são imensos: integração de culturas, sistemas de informação, governança clínica, padronização de fluxos e retenção de talentos.
  • Há o risco real de que, ao buscar eficiência, o cuidado se torne padronizado, impessoal e financeiro demais — um produto, e não uma experiência.

Uma População que Envelhece e Quer Cuidado de Verdade

A cada 20 segundos, um brasileiro faz 50 anos.
A cada 25 segundos, alguém completa 60.
Esse dado não é só demográfico — é estratégico.

Estamos diante de um Brasil que envelhece rápido, mas que ainda carece de um sistema de saúde que entenda a complexidade dessa nova fase da vida. Tecnologia, sim. Eficiência, claro. Mas com escuta, acolhimento e vínculo.

A fusão entre Rede D’Or e Fleury pode ser o marco de um novo tempo na saúde brasileira — desde que guiada por regulação firme, ética nos dados e centralidade real no paciente.

O que está em jogo não é só mercado.

É o tipo de cuidado que queremos receber — e oferecer.


Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e especialista em inovação, longevidade e saúde integrada. Professor do Hospital Israelita Albert Einstein e coautor do livro Diversa-IDADE, atua como consultor estratégico para organizações que desejam alinhar tecnologia, empatia e eficiência no cuidado.

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