Em um mundo corporativo lotado de lives sobre saúde mental nas empresas, workshops de burnout e slides com frases inspiradoras sobre empatia, algo essencial está sendo esquecido: a escuta.
Sim, a escuta ativa — aquela que acolhe sem julgamento, que não interrompe, que olha nos olhos e diz com o corpo inteiro: “eu tô aqui pra você”.
Hoje, o maior desafio das empresas não é mais ter um discurso sobre bem-estar no trabalho. É criar, de fato, lugares de escuta.
Segundo a McKinsey (2023), 60% dos colaboradores dizem que suas empresas falam sobre saúde mental, mas apenas 22% sentem que alguém realmente os ouve. Isso revela um abismo entre o que se comunica e o que se pratica.
Estamos vivendo um excesso de “lugar de fala” e uma escassez de escuta genuína. Todos querem se expressar — e isso é legítimo. Mas poucos estão preparados para escutar com empatia, presença e vulnerabilidade.
Enquanto líderes discursam sobre escuta ativa nos eventos da empresa, muitas pessoas na plateia estão apenas tentando sobreviver ao próprio silêncio. Sentem-se invisíveis, com medo de dizer: “eu não tô bem”.
E a escuta não acontece no palco nem nas campanhas de endomarketing. Acontece no corredor, na pausa pro café, na sala do líder que diz com firmeza e afeto: “me conta, eu tô aqui”.
Não é só sobre dar voz. É sobre dar espaço. Sobre transformar dor em diálogo — e não em métrica.
De acordo com a Harvard Business Review, líderes que escutam com atenção elevam em até 47% o engajamento dos colaboradores. E não é qualquer escuta: é a que vem sem pressa, sem julgamento e com humanidade.
No fim do dia, slogans não curam ninguém. Mas vínculos sim.
E escutar, ah… escutar ainda é de graça.
Mas vale ouro.
Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e especialista em envelhecimento, empatia e saúde mental no ambiente corporativo. Autor de diversos livros, professor no Hospital Israelita Albert Einstein e referência em intergeracionalidade e bem-estar no trabalho.