Hoje assisti, em silêncio reverente, a um vídeo do último show de Ozzy Osbourne. Menos de um mês atrás, ele subiu ao palco… pela última vez.
Essa semana, sua morte percorreu o mundo como uma onda de nostalgia densa. Um ciclo se encerrou — mas com potência.
Ozzy não tinha mais o vigor dos anos 70. Mas havia algo ali que só a maturidade entrega: presença. Legado. Verdade.
E isso me fez pensar — como num espelho invertido — no mundo corporativo.
Na música, a gente aplaude a longevidade. Venera.
Se emociona com Paul McCartney cantando aos 80. Com Caetano embalando multidões com um violão e uma lembrança.
Mas no trabalho, quando alguém faz 50, já olham como se fosse excesso. Deslocamento. Hora extra.
Curioso, não?
No palco da vida, a maturidade é espetáculo.
Na sala de reunião, ela vira silêncio constrangedor.
Será que não estamos olhando na direção errada?
Nos emocionamos com artistas que seguem firmes, inteiros, mais autênticos do que nunca. Porque já não precisam provar nada. Entregam o que são — com serenidade, precisão e uma biografia por trás de cada acorde.
E na saúde? Na educação? No mercado?
Quantos profissionais maduros estão exatamente nesse lugar? No auge da escuta, da percepção, da sabedoria aplicada.
E o que o mercado faz com eles?
Aposenta. Substitui. Silencia.
Mas o auge, muitas vezes, não é a juventude cheia de gás.
É o momento em que o profissional já entendeu o jogo. Já leu todas as entrelinhas. Já não se apressa pra impressionar — porque já impacta só de existir.
Potência não morre. Ela muda de forma. Fica mais silenciosa. Mais certeira. Mais valiosa.
Enquanto empresas insistem em demitir experiência, o mundo lá fora paga ingresso pra aplaudi-la de pé.
Está mais do que na hora de rever nossos palcos e nossas plateias.
Porque se a maturidade encanta no palco, ela deveria ser protagonista no mundo do trabalho também.
Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e referência em longevidade, diversidade etária e inteligência emocional nas organizações. Professor do Hospital Israelita Albert Einstein e autor do livro Diversa-IDADE, atua como consultor e palestrante em empresas que desejam valorizar profissionais maduros e construir ambientes com mais propósito, performance e humanidade.