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quarta-feira, 2 de julho de 2025

Diagnóstico de Alzheimer cresce entre brasileiros: entenda os sinais e como tratar

Projeção de 5,5 milhões de casos até 2050 reforça urgência no diagnóstico precoce e no acesso aos tratamentos

O número de brasileiros com demência cresce a cada ano. Estima-se que ao menos 1,76 milhão de pessoas com mais de 60 anos já convivem com algum grau da condição. A projeção é de que esse número chegue a 5,5 milhões até 2050, conforme dados do Ministério da Saúde em conjunto com estudos epidemiológicos nacionais. A tendência segue o padrão global apontado pela Organização Mundial da Saúde, que projeta uma triplicação dos casos em todo o mundo até o mesmo período.

O avanço da idade da população brasileira, aliado à maior expectativa de vida, transforma o Alzheimer em uma das principais preocupações da saúde pública. Apesar disso, o país ainda enfrenta graves gargalos no diagnóstico, no acesso a tratamentos eficazes e no apoio a pacientes e cuidadores. O desconhecimento sobre os sinais precoces e o estigma associado à demência muitas vezes retardam o início do acompanhamento médico.

A conscientização sobre os sintomas iniciais, os caminhos para o diagnóstico e as opções de tratamento é essencial para reduzir a subnotificação da doença e garantir cuidados mais eficazes. Médicos, familiares e cuidadores têm papel fundamental nesse processo, que exige preparo técnico, empatia e rede de apoio.

Primeiros sinais: memória, raciocínio e comportamento

Os sintomas iniciais do Alzheimer nem sempre são percebidos com clareza. Muitas vezes, o esquecimento é atribuído ao envelhecimento normal. No entanto, lapsos de memória recente, dificuldade para organizar tarefas simples e mudanças sutis de humor ou comportamento podem indicar o início da doença. Também são comuns dificuldades de linguagem, como a troca de palavras, e episódios de desorientação em ambientes familiares.

Esses sinais tendem a se intensificar com o tempo, afetando a autonomia e a qualidade de vida do paciente. O diagnóstico precoce, portanto, é fundamental para iniciar intervenções que possam retardar a progressão da doença e permitir o planejamento dos cuidados futuros. A avaliação médica inclui testes cognitivos, exames clínicos e, quando necessário, exames de imagem como tomografia ou ressonância magnética.

O papel dos cuidadores, muitas vezes assumido por familiares, também se torna crucial desde os estágios iniciais. Eles acompanham consultas, monitoram sintomas, auxiliam na adesão ao tratamento e garantem segurança e estabilidade no dia a dia do paciente.

Diagnóstico e subnotificação

Embora os sinais estejam presentes desde cedo, muitos casos não são identificados de forma oportuna. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, até 77% das pessoas com demência no Brasil não recebem diagnóstico adequado. Esse índice elevado de subnotificação está relacionado tanto à baixa procura por atendimento quanto à dificuldade dos serviços de saúde em reconhecer os sintomas iniciais, especialmente na atenção básica.

Iniciativas voltadas à capacitação de profissionais e à adoção de protocolos padronizados vêm sendo implementadas para enfrentar esse cenário. A criação de fluxogramas diagnósticos, o uso de instrumentos de triagem cognitiva e a articulação entre diferentes níveis de atenção têm sido apontados como estratégias eficazes para ampliar a identificação precoce. Mesmo assim, especialistas alertam que o estigma e a desinformação continuam sendo obstáculos relevantes à detecção e ao cuidado adequados.

Papel dos médicos e dos cuidadores

O diagnóstico do Alzheimer é feito por médicos neurologistas, geriatras ou psiquiatras, que realizam avaliações clínicas detalhadas, entrevistas com familiares e exames complementares. A confirmação envolve a exclusão de outras causas de demência, além da observação da evolução dos sintomas ao longo do tempo. O envolvimento dos cuidadores nesse processo é essencial, já que são eles que frequentemente percebem as primeiras alterações de comportamento ou memória.

Após o diagnóstico, a rotina de cuidados se intensifica. Administrar medicamentos, acompanhar a evolução da doença, garantir segurança doméstica e manter a qualidade de vida do paciente se tornam tarefas diárias. Muitas famílias enfrentam esse desafio sem apoio estruturado, o que reforça a necessidade de políticas públicas voltadas ao acolhimento e à capacitação dos cuidadores. Além disso, o suporte emocional e psicológico a quem cuida é fundamental para evitar esgotamento físico e mental.

Tratamento: medicamento e seus efeitos

Um dos medicamentos mais prescritos para o tratamento do Alzheimer leve a moderado é a donepezila, que atua inibindo a enzima acetilcolinesterase e elevando os níveis de acetilcolina no cérebro. Essa substância é essencial para funções como memória, raciocínio e aprendizagem. A melhora clínica costuma ser notada após cerca de duas semanas, com estabilização dos níveis da substância no organismo.

A posologia geralmente começa com 5 mg diários, administrados à noite, podendo ser ajustada para 10 mg após quatro a seis semanas. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão náusea, diarreia, tontura, insônia e fadiga. Em situações mais raras, podem ocorrer bradicardia e sangramento gástrico. Como indica a bula da donepizila, o acompanhamento médico regular é fundamental para monitorar possíveis reações adversas, ajustar a dose e otimizar a resposta clínica. Pacientes com doenças cardíacas, pulmonares ou histórico de úlcera devem ser monitorados com atenção redobrada.

Um desafio que exige resposta coletiva

O avanço do Alzheimer no Brasil exige uma resposta coordenada de diferentes setores. O uso da donepezila, conforme orientado na bula, representa um avanço importante no tratamento, mas precisa estar integrado a políticas públicas de acesso equitativo, diagnóstico precoce e formação de cuidadores. O país também deve fortalecer programas de assistência domiciliar e ampliar centros de referência em demência.

Com a expectativa de que 5,5 milhões de brasileiros vivam com a doença até 2050, investir em uma abordagem integral, que envolva saúde, educação e assistência social, é fundamental para garantir que esse contingente de idosos possa envelhecer com dignidade, autonomia e cuidado. O desafio está posto, e é urgente.

Autor:

Mario Reis

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