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sábado, 5 de julho de 2025

A Porta do Céu

Chegamos à boca da fenda às 15h30. O vento soprava forte, frio, mesmo com o sol brilhando atrás de nós. Estávamos a 1.470 metros acima do mar e 90 metros dentro da rocha. Uma obra rústica, esculpida por mãos humanas, mas que me levou para um lugar que não se mede em altitude — e sim em profundidade da alma.

Ali, cercada de gente, entrei em silêncio. O vento me tocava o rosto como se quisesse me acordar por dentro. E então ela veio: uma nuvem. Não era serração. Era nuvem mesmo. Densa, branca, viva. E eu pensei: e se fosse a porta do céu?

Fiquei ali, parada, diante do invisível. E me perguntei: o que eu precisaria deixar para trás para atravessar esse portal? A resposta veio como o próprio vento: tristeza, orgulho, rancor, maledicência, preguiça disfarçada de descanso, vaidade travestida de zelo. Tudo aquilo que ocupa espaço e não edifica. Tudo aquilo que pesa, mesmo sendo invisível.

Caminhei para dentro da nuvem. O frio aumentou, mas o coração aquecia. Do outro lado, campos verdes em mil tons me esperavam. O sol tocava a paisagem como quem abençoa. E ali, à beira do precipício, agradeci: não era ainda a porta do céu. Porque ainda carrego coisas que preciso soltar.

Mas sigo. Espiritualmente, sigo. Alguns caminham comigo. Outros voltam, como quem desiste da travessia. Mas eu continuo. Porque há uma coisa que não posso deixar para trás: a imagem do meu Salvador. É Ele quem me ajuda a deixar o que não serve. É Ele quem me molda com as pedras do caminho. E quando a verdadeira porta do céu se abrir, quero estar leve. E pronta.

Autora:

Elioneia Mendes

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