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sábado, 27 de setembro de 2025

A morte floral!

Domingo à tarde. Nesse tempo – frio e ótimo para uma bebida ou comida quentes – costumo fazer o café saboroso e talvez amargo, pois já são 16h. O cafezinho da tarde, na verdade, era para sair às 15h, todavia eu tive um pequeno atraso na feitura do líquido amarronzado e fervilhante – que nos traz energia e, às vezes, impede-nos de dormir se tomado após o horário recomendado pelos médicos. 

Noto todos os dias a paisagem da janela de minha cozinha. Há nela morros infindáveis, como a dos gigantes das histórias nórdicas que lia em Neil Gaiman (na adolescência), altos como as barreiras que nos prendem à pacata cidade de Ubá, em Minas Gerais. Aliás, há rica fauna e flora: pássaros de todos os jeitos – bem-te-vi, canarinho e… Não sei mais o que, porque não entendo muito de pássaros como os grandes escritores brasileiros, leitor. Há também enormes árvores, com seus galhos retos e outros retorcidos, e a visão do verde florestal que possui o aroma natural do mundo antes do ser humano iniciar a sua destruição. 

Falando em degradação, quero contar de uma vez que essa mesma mata pegou fogo. Estava em casa quando começou a cair no terraço, próximo à cozinha (pois esta se encontra próxima ao terraço, em uma área aberta que dá vista para um lindo céu azul, mas às vezes nublado e outras vezes escuro como um buraco negro que nos puxa a visão para si, de tão belo que às vezes é) a fuligem preta. Esta foi enegrecendo a vista; a fumaça do fogo foi a turvando, ocultando o céu azulado; e o fogaréu foi consumindo o matagal por inteiro – iniciando pequeno, mas logo tomando forma, força e velocidade. Senti-me mal pela pequena floresta. Quem colocou fogo nela? Isso eu jamais soube. Desse modo, o sentimento de justiça aflorava sobre mim, porquanto eu enxergava a injustiça com a natureza. É a grande dicotomia ser humano versus o meio ambiente. Naquele momento, estava eu ao lado do último. Deus é que originou a Terra e esta o homem, contudo este a consome sua mãe (Gaia, planeta Terra, Terra ou seja o nome que for) aos poucos – como as árvores, os arbustos e todo morro envolto no verde da flora ao redor de minha casa. 

O que me resta é retornar ao café a fim de retomar as energias. Já para os morros próximos de minha casa e do matagal que a cerca, precisam eles aguardar a chuva, o ciclo da água. Mas de que adianta se esse círculo vicioso de renovação e morte (da flora) é infinito? Ah, caro leitor… A natureza é assim. Porém, chegará um dia em que ela não mais se renovará. Nesse dia, infelizmente, darei adeus às minhas tardes de domingo e ao meu café enquanto observaria o exuberante matagal envolto na cidade de Ubá. Será a morte floral! Será também artificial e nem um pouco natural! 

Erick Labanca Garcia
Erick Labanca
Graduando em Direito, estagiário da Defensoria Pública de Minas Gerais e escritor independente de crônicas.

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