A engenharia de software deixou de ser apenas uma ferramenta de suporte para se tornar o coração da transformação digital. Não se trata mais de escrever linhas de código isoladas, mas de entender como cada algoritmo, cada sistema, cada decisão técnica impacta diretamente o resultado final de um negócio. Essa mudança de mentalidade não ocorreu da noite para o dia. Ela foi construída à medida que profissionais perceberam que a tecnologia não é um fim em si mesma, mas um meio para resolver problemas reais e escalar operações de maneira inteligente.
Um dos grandes saltos ocorreu quando a engenharia passou a ser vista como um pilar estratégico, especialmente em setores como o varejo digital, onde performance e escalabilidade são determinantes para o sucesso. Empresas que antes encaravam a tecnologia como custo, hoje a enxergam como um diferencial competitivo. Não basta ter um sistema que funcione; é preciso que ele seja rápido, estável e capaz de crescer junto com a demanda.
A velocidade das mudanças exige que empresas e profissionais estejam sempre alertas. O último relatório DORA revela que 89% das organizações estão priorizando a integração de IA em suas aplicações, e 76% dos tecnólogos já dependem de IA em alguma parte de seu trabalho diário. Mais importante: desenvolvedores que adotam extensivamente IA generativa reportam 2,1% de aumento na produtividade, maior satisfação no trabalho e redução no burnout.
Mas aqui está o que poucos percebem: embora a IA melhore a qualidade do código em 3,4% e a velocidade de code review em 3,1%, ela paradoxalmente reduz o tempo gasto em trabalho considerado “valioso” pelos desenvolvedores. O relatório chama isso de “hipótese do vácuo”, pois a IA está criando eficiência que libera tempo, mas esse tempo nem sempre é preenchido com atividades que os desenvolvedores consideram de alto valor.
Por trás dessa evolução, há um elemento que permanece constante: a importância de resolver problemas. A tecnologia avança, as ferramentas se renovam, mas o cerne da engenharia continua sendo a capacidade de identificar dores reais e criar soluções eficientes. O desafio não é apenas adotar IA, mas usá-la de forma que desenvolvedores mantenham controle sobre quando e como ela é aplicada, preservando o que torna o trabalho de desenvolvimento genuinamente satisfatório.
No fim, a engenharia que transforma negócios é aquela que une profundidade técnica com visão estratégica, aproveitando ferramentas como IA generativa não para substituir o pensamento crítico, mas para amplificar a capacidade de criar impacto real. Em um mundo onde a única certeza é a mudança, essa é a habilidade que continuará definindo quem está à frente.
Autor:
Guilherme Martins é cofundador da Eitri, plataforma para o desenvolvimento de aplicativos móveis. – E-mail: eitri@nbpress.com.br