Quando alguém assume cargo de chefia numa empresa, se entregar resultados, ganha promoção, aumento de salário e faz carreira. O trabalho é realizado em equipe, mas se houver erros graves ou falta de entrega, é o chefe quem vai para a rua, queima o nome no mercado e terá dificuldade para conseguir novo emprego.
Carlo Prado ingressou no mercado de trabalho ainda jovem. Especialista em tarefas que não precisam ser feitas, garantia-se no emprego porque é ardiloso e conhece os podres de todos. Não cometeu erros graves. Como só erra quem faz e ele nada faz, não erra. Hábil em vadiar e trapacear, ao melhor estilo Recruta Zero, suas realizações são pequenas, mas as narrativas longas. Ninguém o quer na equipe, mas ninguém o demite por temer a revelação dos podes. Para se livrarem dele, indicam para promoção.
Dono de respeitavel lábia, namorou metade das colegas, mas romances curtos, pois quando descobriam que era um “sem futuro”, terminavam a relação. Carlo Prado jamais quis compromisso. Engravidou a sobrinha do chefe, casou-se e a jovem carinhosa e compreensiva transformou-se em chefe mandona.
Promovido a Diretor Administrativo, recebeu a missão de reestruturar a empresa, cortar gastos e aumentar o lucro. Decidiu colocar nos cargos chave apenas pessoas de sua confiança: parentes, amigos, amantes, filhos naturais e adulterinos. Assim, continuaria no ócio e a equipe cuidaria de tudo. Só que os nomeados também não entendem do negócio e o resultado não veio.
Tapear pessoas é sua especialidade. Ninguém sabe se nasceu assim ou se fez algum curso, mas não conseguiu enrolar a esposa, nem os acionistas. O Conselho se reuniu após o balanço desastroso e Carlo Prado foi demitido. Procurou emprego, sem sucesso, pois a fama de ocioso persiste. Pensou em carreira solo, mas camelô, vendedor no Metrô, agente de acompanhantes profissionais ou corretor zoológico tem de dar duro e isso é impensável.
Os amigos aconselharam a estudar, mas a atividade é cansativa e demora para dar resultados. Precisa encontrar algo que exija apenas boa lábia e não experiência ou resultados. Enquanto lia as manchetes do jornal, esportes e quadrinhos, a astúcia ressurgiu e se deu conta que há uma carreira onde pode aplicar com sucesso lábia e trapaça. Então, tomou a decisão que mudaria para sempre sua vida: filiou-se a um partido político e em pouco tempo, Carlo Prado passou de desempregado à grande promessa.
O político diz que trabalha em benefício do povo, mas tudo o que faz é em próprio benefício. Pensa apenas na próxima eleição. Vende a mãe e não entrega, faz alianças e não usa, sela acordos e não honra, compromete-se sem compromisso, promete e não cumpre. Nessas habilidades, Carlo Prado é insuperável.
Eleito vereador, obteve o recorde de leis aprovadas, todas dando às ruas nomes de pais e parentes dos colegas da Câmara. Em troca, aprovou indicações na proporção de 10 para 1 e garantiu apoio às eleições para deputado e senador. Fez discursos políticos em feiras livres, velórios, posse de síndico e viralizou nas redes sociais, catapultando-se para o topo do ápice do cume. Não teve concorrente à altura na eleição e ganhou fácil sua principal eleição.
Presidente Carlo Prado, Enganador Geral da República, relançou programas que nunca funcionaram, inaugurou obras inacabadas, criou factoides para se manter em evidência, comprou apoios e, junto com a primeira mandona, aproveitou os prazeres do poder.
O Barão de Itararé dizia que, quando menos se espera, aí é que nada acontece. E nada aconteceu! Incapaz de entregar resultados, Carlo Prado soube que carisma e boa lábia sem ações concretas não geram progresso, nem apoio.
Decidido a recuperar prestígio e popularidade, enviou ao Congresso volumoso pacote de medidas para restaurar a grandeza (a própria). Na campanha para a reeleição, foi à TV, chorou, culpou adversários, potências estrangeiras e até a II Grande Guerra. Lançou o programa social mais audacioso e nunca imaginado: Salário sem Trabalho. O eleitor gostou da ideia e ele foi reeleito no primeiro turno.
O consumidor enganado aciona o Procon, a justiça, bota a boca no trombone nas redes sociais e faz campanha contra maus fornecedores. Ninguém gosta de ser enganado. Mas o eleitor é um consumidor diferente e de fraca memória. Acredita em milagreiros e, mesmo iludido e saqueado, com uma boa lábia e promessas mirabolantes, continuará comprando o mesmo “produto”. Só que ninguém atinge resultado diferente fazendo as mesmas coisas e do mesmo modo. Vida que segue.