*Por Rogério Gomes
O mercado de Banking as a Service (BaaS) no Brasil está em plena ascensão, com projeções apontando que o setor deve ultrapassar US$5 bilhões até 2031. Esse crescimento, que representa um aumento de mais de 12 vezes em relação aos milhões movimentados em 2022, revela a rápida transformação digital pela qual o país está passando. Um estudo, conduzido pelo instituto Intellectual Market Insights Research (IMIR), reforça o papel cada vez mais relevante que o BaaS vem desempenhando na modernização dos serviços financeiros e na ampliação do acesso da população a soluções bancárias mais ágeis e personalizadas.
O avanço desse mercado não é uma surpresa, considerando o contexto em que o setor financeiro brasileiro tem operado nos últimos anos. A crescente digitalização da economia, combinada com a ampla penetração de smartphones e o fortalecimento da infraestrutura de internet, criou o ambiente perfeito para que soluções bancárias digitais prosperassem. Ademais, as mudanças regulatórias promovidas pelo Banco Central, como o lançamento do sistema de pagamentos instantâneos Pix e a implementação do Open Banking, têm sido peças-chave para incentivar a inovação e a competição no mercado.
O comportamento do consumidor também tem sido um fator determinante para o crescimento do BaaS. Isso porque as pessoas estão cada vez mais exigentes em relação à agilidade e personalização dos serviços financeiros. O modelo permite que empresas não bancárias ofereçam produtos financeiros sob medida, sem a necessidade de obter uma licença bancária completa, o que torna o processo mais eficiente e acessível, atraindo o interesse de empresas de tecnologia, varejo e até mesmo de telecomunicações, que agora conseguem integrar serviços financeiros em suas plataformas com facilidade, aumentando o engajamento e a fidelização dos clientes.
No entanto, o que realmente impressiona nesse cenário é a velocidade com que o mercado está se reorganizando. A projeção de que o mercado de BaaS na América Latina deve atingir US$19,4 bilhões em 2031, partindo de US$1,62 bilhão em 2022, o que reforça que essa é uma tendência estrutural e não apenas um movimento pontual.
Curiosamente, o estudo sugere que haverá uma mudança significativa na composição dos players que dominam esse mercado. Atualmente, bancos tradicionais representam 31% do mercado de BaaS na América Latina, seguidos por companhias financeiras não bancárias, empresas governamentais e fintechs. Até 2031, espera-se que as fintechs aumentem sua participação para 17%, enquanto os bancos tradicionais devem perder espaço, caindo para 29%. Em termos absolutos, as fintechs devem movimentar cerca de US$14,8 bilhões, enquanto os bancos tradicionais ainda manterão a maior fatia, com US$25,7 bilhões.
Outro ponto de transformação diz respeito à infraestrutura tecnológica utilizada no setor. Embora a computação em nuvem tenha sido um fator-chave para a expansão inicial do BaaS, o futuro aponta para uma maior dependência das APIs (Interfaces de Programação de Aplicações). A transição é um sinal claro de que o mercado está migrando para um modelo mais integrado e flexível, no qual os serviços financeiros poderão ser facilmente incorporados a plataformas digitais por meio de interfaces simples e seguras.
É interessante observar que, apesar do otimismo com o crescimento do BaaS, o setor enfrenta desafios consideráveis, principalmente no campo regulatório. A velocidade com que o mercado evolui cria um cenário em que os reguladores precisam equilibrar o incentivo à inovação com a necessidade de garantir a segurança e a estabilidade do sistema financeiro. O Banco Central tem mostrado competência em lidar com essa tarefa, mas o ritmo acelerado de transformação certamente exigirá ajustes constantes nas regras e mecanismos de supervisão.
Por fim, podemos afirmar que o mercado de BaaS no Brasil está em um ponto de inflexão. O crescimento exponencial previsto para os próximos anos sugere que o setor financeiro nacional continuará a ser um dos mais dinâmicos e inovadores do mundo. A capacidade de combinar agilidade, personalização e segurança coloca o Brasil em posição de liderança na oferta de serviços financeiros digitais. Por isso, mais do que um movimento passageiro, o BaaS representa uma mudança estrutural na forma como os serviços bancários são concebidos, distribuídos e consumidos. Afinal, o futuro do setor financeiro já está sendo desenhado — e ele é digital.
*Rogério Gomes é superintendente da AutoBanking, plataforma inovadora de crédito como serviço (CaaS), focada em oferecer soluções financeiras personalizadas para concessionárias de veículos. Executivo sênior com mais de 27 anos de atuação em empresas de médio e grande porte em diferentes segmentos (bancário, financeiro, varejo e tecnologia), Rogério possui participação em projetos de planejamento estratégico, melhorias de processos, reestruturação de áreas/equipes e fusão de empresas.