Nas avenidas largas ou nas vielas esquecidas, há gritos que não soam pelos ouvidos, mas que ecoam pelos olhos atentos.
São as palavras pintadas, as formas ousadas, os traços que rasgam o concreto cinza com a força de uma indignação contida grafites que gritam nas paredes caladas da cidade.
A cidade, com sua pressa indiferente, mal nota.
Carros passam, pessoas cruzam esquinas com olhos colados às telas dos celulares.
No entanto, as mensagens estão ali, firmes, fixadas em muros descascados, viadutos sombrios, fachadas de galpões abandonados.
A arte urbana, quase sempre clandestina, emerge como uma crônica visual daquilo que não se ousa dizer em voz alta.
Cada grafite é um manifesto.
Uns pedem paz em meio ao caos.
Outros denunciam o silêncio diante da fome, do racismo, da violência.
Há os que celebram a ancestralidade negra, a liberdade das mulheres, o amor entre iguais.
E há, ainda, os que apenas desenham beleza onde antes só havia descuido, flores que brotam do concreto, cores que desafiam o tédio urbano.
O paradoxo é gritante pois enquanto os prédios espelham a frieza do lucro, as paredes dos becos gritam humanidade.
Ali, o grafite não é só rebeldia é resistência.
É a linguagem dos que não têm coluna no jornal, dos que não frequentam galerias, dos que foram calados por tanto tempo que aprenderam a falar com tinta spray.
As autoridades pintam sobre eles, lavam os muros, chamam de vandalismo.
Mas, como toda arte pulsante, os grafites voltam.
Novos rostos, novas frases, novos protestos.
Porque há sempre algo a ser dito.
E se a cidade insiste em se calar, seus muros, ao menos, continuam a falar.
No fim, talvez o verdadeiro papel do grafite seja esse lembrar à cidade que, por trás do concreto e da pressa, pulsa ainda uma alma inquieta que grita, pinta e resiste.
Autor:
CARLOS ALBERTO OMENA