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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Cannabis, Sex Shop e Contrato Social

Amigas e confidentes, Lígia e Lola, Procuradoras do Estado, não lamentam as mortes dos maridos, ocorridas num Motel de luxo. Eles eram amantes. Perto da aposentadoria e sem grandes expectativas, participam de Bingos, excursões e bailes no Clube da Terceira Idade. Lígia é mãe de Léo, introvertido e inseguro. Lia é filha de Lola, desaforada e irrequieta, que se comporta como hippie numa orgia até em velórios. As amigas sonham com netos, mas os filhos sempre desconversam. Domingo, Léo e Lia tomavam sol na varanda, ele de bermudão, boné e camiseta, ela fazendo topless. As mães, na sala, silentes e atentas à conversa.

  • Nós dois? Você acha que pode dar certo? – perguntou Léo. Você sabe que eu não tenho experiência. Nunca fiz isso. Mas você…
  • Já experimentei, mas não me dei bem. Acho que pode funcionar com você. Eu te ensino o básico e você pesquisa alternativas na Internet.
  • Será que nossas mães aprovarão?
  • São meio caretas, mas acho que vão nos apoiar.

Lígia e Lola quase engasgaram. Nunca pensaram na união entre seus filhos, tão diferentes. Mas seria ideal e logo viriam os netinhos. Foram para a cozinha, se abraçaram e começaram a sonhar.

  • Você viu que está na moda o tal Contrato de Namoro?
  • Li sobre o assunto. É recente, mas acho que é uma tendência.
  • Somos advogadas e mães do casal. Acha que devemos ajudá-los?
  • Claro! Vou pesquisar sobre os tais contratos.
  • No nosso tempo, era só esperar o flerte, fazer um charminho, aceitar e marcar a data do casório. Vapt – vupt! Hoje, tudo é judicializado. 
  • Verdade. Só falta Motel exigir atestado de vacina e prova de sexo consentido.

O tema é recente e não há bibliografia a respeito, mas as Procuradoras têm acesso a Cartórios, advogados e conseguiram modelos do tal Contrato. Redigiram uma minuta abrangente, com 19 páginas, que aborda desde a duração, determinada ou não, até gravidez antes da conversão em união estável, direitos, deveres e regime de bens. Como tiveram experiências ruins com maridos, incluíram cláusulas sobre traição, desvio de conduta e maus tratos, porém com muito equilíbrio.

Pelo contrato, é permitido dormir e tomar banho juntos, acariciar partes íntimas etc., mas mexer no celular do outro é proibido. É falta de respeito e justa causa para rescisão. As mães serão testemunhas, mediadoras de conflitos e terão guarda compartilhada de netos e Pets, caso necessário. Mas sem muita interferência, claro. Eles já são adultos!

Aperfeiçoaram o documento consultando advogados e Procuradores, mas de outras cidades, para evitar vazamento. Assim que eles oficializem o namoro, demonstrarão surpresa, alegria e oferecerão ajuda com o contrato. Pedirão dez dias de prazo para não desconfiarem que o texto já estava pronto.

Léo e Lia convidaram as mães para jantar num restaurante fino, quinta-feira. Lígia e Lola foram à cabeleireira, compraram roupas de grife, foram ao restaurante, escolheram mesa e pediram um balde de champanhe que transpirava emoção. Léo e Lia chegaram felizes.

  • Mãe, Lígia, a gente tem uma novidade para contar. 
  • Estamos ansiosas, crianças. Eu até trouxe meus sais. 
  • Precisamos da ajuda de vocês para redigir um contrato. Queremos fazer tudo direitinho. A gente se conhece há mais de 30 anos, mas a coisa pode degringolar e não queremos cometer erros – disse Lia.
  • Mentira! Será que é o que estamos pensando? – provocou a mãe.
  • Eu não minto às quintas-feiras. Lembra?
  • Tá bom! Desculpe. Nós ajudaremos no que for preciso. Podem falar.
  • Até bolamos uma minuta de contrato de namoro com previsão de união estável – antecipou-se Lígia, rompendo o acordo de surpresa.
  • Casamento? União estável? Do que vocês estão falando?
  • Ouvimos a conversa de vocês outro dia. Queremos netinhos.
  • Mãe, esquece! Sou lésbica e o Léo é assexuado. Decidimos montar um bar de maconha recreativa e um Sex Shop on line. Precisamos de ajuda com o contrato. Ele é inexperiente e eu já fracassei duas vezes, lembra?

Nada de casamento. Nada de netos. Enquanto aguardavam as bebidas, as amigas frustradas conferiam a agenda de excursões no site do Clube da Terceira Idade. Vida que segue.

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle). Crônicas de humor toda sexta-feira, às 10h.

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