Verrugas — por mais charmosas que ficassem em tantos atores e atrizes; cabelos brancos, agrisalhados, uma certa calvície, um quê de rugas; ainda que conferindo um ar simpático a quem as porte ou lhe sendo sua grande graça — certas falhas, nos dentes, entradas no cabelo, manchas — as pintas, essas pequenas nódoas, que, se aglomerando a um colo alvo, parecem a inversão do que é o Céu à noite — todas essas coisas se dão pela falta do que de ordinário se tem na carne, ou porque esta enfraqueceu-se, pela sua degeneração, ou porque algo formou-se, distribuiu-se de modo irregular ou muito acentuado. E tudo o que se enfraquece, degenera-se, falta ou é irregular é inerentemente humano — não é encontrável em Deus.
Dizem que Ele nos é igual, nos fez à sua imagem e semelhança, mas isso se dará também na forma… física?
Com quem o Ser Supremo mais se parecerá? Assim considerando, alguns de Seus traços? haveriam de se assemelhar aos de alguém — ou alguns —, e outros traços encontrados em muitos de nós necessariamente não Lhe seriam encontráveis.
Com quem Deus haveria de se parecer?
A Arte toda a vida O retratou como um Velho de cabelos longos e brancos e barbas compridas e brancas. O que denota falta de melanina — falta… Mas entra que o que se vela, em partes, aos olhos da Terra, só pode ser descrito de modo artístico, se com um traçado terrenamente reconhecível.
Mas como seria chegar aos Céus e encontrá-Lo negro? Digamos que Deus precise se parecer com alguém, e a tez branca é uma falta de melanina no ser. Ou seria a tez escura o seu excesso?
Mas, ainda assim, como seria morrer e dar de cara com um Deus moreno, bem moreno, por exemplo, a um senhor de escravos? A um nazista? Alguém que desprezou seus filhos ou foi desprezado pela cor da pele, qual seria sua reação ao ver-se nos Céus e constatar “Mas Deus é n… negro?!” Não seria curioso?
E sendo talvez amarelo, indígena, de traços árabes?
Sendo louro, moreno, alto, baixo (a não ser que Seu tamanho excedesse qualquer proporção humana), gordo, magro, branco ou negro, velho ou não — a menos que se pense num equilíbrio de tudo… sem falta ou excesso? — haveria de se parecer com alguns e, necessariamente, com outros não. Bom, então…
Autor:
Marcos Barra Castro