Era uma vez uma empresa que ajudava pessoas a emagrecer contando pontos. Ela surgiu nos anos 60, ganhou o mundo, virou sinônimo de saúde e mudança de vida. Era o tal do Vigilantes do Peso — ou Weight Watchers pros gringos. E durante mais de cinco décadas, funcionou. Só que aí veio o século XXI. E com ele, um detalhe: o mundo mudou. Mas eles não.
A WW International seguiu como quem olha o mundo pela janelinha do avião, a 900 km por hora, achando que tudo estava sob controle. Lá embaixo, o solo já era outro. A paisagem mudava, o consumidor mudava, a tecnologia atropelava, mas a cabine seguia fechada, repetindo os mesmos discursos da década de 60.
Lembra da Kodak, que não acreditou no digital? Da Blockbuster, que ignorou a Netflix? Da Nokia, que riu do iPhone? Pois bem. Agora temos mais uma para a lista: Vigilantes do Peso.
Em abril de 2025, as ações da empresa desabaram quase 59% em um único dia, cotadas a US$ 0,18. Isso mesmo: uma marca que já foi avaliada em bilhões, hoje vale centavos. O motivo? Simples: Ozempic, Wegovy, Mounjaro — medicamentos baseados em GLP-1 que estão sendo consumidos como se fossem cápsulas mágicas.
Quer número?
Só em 2022, os profissionais de saúde dos Estados Unidos emitiram mais de 9 milhões de prescrições para esses remédios.
Hoje, 1 em cada 8 adultos americanos já usou medicamentos como Ozempic.
A Novo Nordisk afirma que 25 mil pessoas por semana começam a usar Wegovy.
Enquanto isso, a WW:
Amargou US$ 345,7 milhões de prejuízo líquido em 2024.
Viu sua receita cair para US$ 785,9 milhões.
Tentou salvar o barco comprando a Sequence, uma empresa de telemedicina. Mas era tarde.
Quando Oprah Winfrey — sua estrela-mor e membro do conselho por quase 10 anos — admitiu publicamente que estava usando Ozempic e pediu demissão do board, foi como apagar a última luz da festa.
O que vemos aqui não é só a queda de uma empresa. É o fim de uma lógica. O consumidor não quer mais passar por mudanças comportamentais longas. Ele quer resultados. Rápido. E de preferência, sem muito esforço.
Só que tem um detalhe que ninguém fala: Ozempic não ensina disciplina. Nem resiliência. Nem autocontrole. Ele tira o apetite. E só.
Os Vigilantes apostaram todas as fichas no fator humano. Apostaram na comunidade. No encontro presencial. No papelzinho com pontuação. E isso teve seu valor. Mas esqueceram que valor e relevância são coisas diferentes. E que o mundo não espera ninguém pra mudar.
Como escrevi essa semana: o problema não é o avião. É a janela. Quem está a 900 km/h acha que está tudo bem, até que o motor falha. E aí, meu amigo… não dá mais pra pousar com planinho de contingência.
O mercado avisou. O consumidor avisou. A balança gritou. Mas os Vigilantes continuaram… vigiando o passado.
E o futuro, como sempre, chegou sem pedir permissão.
Por: Willians Fiori