Luana era uma grande amiga minha de infância e se tornou uma mãe diferente de todas que conheci. Sua singularidade como mãe me intrigava, uma vez que ela, por mais que fosse condescendente em relação aos seus filhos, deixava claro para eles o seu império em relação à autoridade que tinha sobre eles.
Esse antagonismo era curioso e eu ficava me perguntando como ela conseguia administrar essas duas ferramentas – a condescendência e autoridade – e ter plenitude na criação de seus filhos adolescentes.
Até que, tomando um chá com ela numa certa tarde de outono, iniciamos um diálogo sobre a criação de filhos e ela mencionou em como fora criada: sem nenhuma regalia ou direito; a criação que ela tivera foi permeada pelo medo e obrigações.
Ouvindo tudo o que ela me dizia, chorei ao lado dela ao reviver todas as fases de sua infância e ali entendi os reais motivos que a levaram a não dar o mesmo tratamento para seus filhos.
Observando atentamente os comportamentos de cada filho dela, fiquei encantada com a educação e o altruísmo deles. Por alguns instantes, desejei ter filhos, o que era fora de cogitação para mim, uma vez que no passado havia decidido não gerar nenhuma criança em meu ventre.
Analisando todo o cenário que se desenhava ao meu redor, percebi que por mais que Luana permitisse que seus filhos fizessem tudo o que queriam, a resposta deles em relação à educação que ela dava a eles era de muito respeito e companheirismo.
O caçula era um poço de amor; a cada dez palavras ditas, setenta por cento era “eu te amo, mãe”, chegava a ser pueril em sua forma mais adorável.
Luana caprichava no carinho dado a eles também; mesmo que, na maioria do tempo, estivesse ocupada com seus afazeres, nunca se desligava deles.
Ela conseguiu construir pessoas com empatia ao próximo e apaixonados pela família. Faltavam algumas lapidações neles? Claro! Eles não eram perfeitos, mas as qualidades se sobressaiam sobre os seus defeitos.
Ao terminar o chá, agradeci, como sempre, pelo acolhimento e fui me despedir dela com um abraço caloroso quando senti que seu abraço pedia para eu ficar mais um tempo com ela. Seu pedido oculto me fez sentar-me novamente e ela desabou no choro dizendo o tanto que tinha falhado como mãe. Na concepção dela, não tinha dado a melhor educação para seus filhos, considerando que ela acreditava ter aleijado cada um por ter sido tão permissiva.
Interrompendo ela, elenquei as qualidades de cada filho dela ao que ela fitou-me e com os olhos me agradeceu enxugando as lágrimas que insistiam em cair em sua face.
No momento em que eu trazia à baila as qualidades dos seus filhos, me questionei internamente por qual motivo as mães insistiam em se crucificar afirmando para si mesmas que são incompetentes na criação de seus filhos quando, na verdade, são verdadeiras desafiadoras de si mesmas, ou seja, cada mãe dando o que há de mais incrível que existe dentro de si para lapidar seus pequenos desejando estar acertando na escolha feita para eles.
Ao externar aquele pensamento para Luana, percebi que seus olhos sorriram novamente e, naquela tarde, me senti útil em poder acalmar o coração daquela mãe que carecia de colo e aprovação.
Depois de me despedir carinhosamente de Luana, fui para meu carro e, ao dar partida, refleti um pouco no quanto uma mãe sempre se culpa. Independente de ter dado o seu melhor, se tornam prisioneiras dos rótulos criados pela sociedade quando esta impõe padrões que não são necessariamente os melhores, já que não há uma receita de bolo de como criar uma criança, mas, a certeza embutida em cada mãe de que está no caminho certo e, geralmente, elas acertam e constroem pessoas magníficas que nos dão prazer de estarmos ao lado delas. Percebi que isso era simples demais para se entender, mas, infelizmente, a culpa era companheira de Luana e de tantas outras mães que, involuntariamente, se permitiam ser mutiladas pelo senso comum por não se acharem dignas ou qualificadas para dar um criação aos seus pequenos, o que era uma pena.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos