Nos últimos anos, a internet tornou-se palco de julgamentos públicos instantâneos, onde qualquer deslize pode se transformar em uma sentença social. A chamada “cultura do cancelamento” vem sendo defendida por alguns como uma forma de justiça coletiva mas, na prática, ela se assemelha mais a um linchamento virtual do que a um processo de responsabilização.
Um exemplo recente dessa dinâmica foi o caso envolvendo as jovens influenciadoras Liz Macedo, Júlia Pimentel e Antonela Braga, conhecidas no TikTok. Após a exposição de desentendimentos entre elas, uma verdadeira avalanche de comentários, ataques e especulações tomou conta das redes sociais. Em vez de diálogo e compreensão, o público preferiu escolher lados e destruir reputações com base em trechos de vídeos, fofocas e cortes de lives, sem considerar a complexidade das relações pessoais e o impacto emocional sobre meninas tão novas.
Outro nome que ilustra bem o peso do cancelamento é o da cantora Luísa Sonza, que há anos é alvo de críticas desproporcionais e ofensivas, muitas vezes ligadas a questões machistas e morais. Luísa tem sua vida pessoal vasculhada e julgada constantemente, e mesmo quando assume erros ou fala abertamente sobre seus sentimentos, o público parece não estar disposto a perdoar. Essa postura revela mais sobre a crueldade de quem cancela do que sobre quem é cancelado.
Não se trata aqui de passar pano para atitudes erradas ou de proteger pessoas públicas de críticas. Mas há uma enorme diferença entre criticar e destruir. A cultura do cancelamento muitas vezes ignora o diálogo e age com pressa, movida por julgamentos rasos, recortes de vídeos e pressões coletivas. O cancelamento, assim como um linchamento, não dá espaço para arrependimento, aprendizado ou reconstrução da imagem, ele apenas exclui.
Em um ambiente como o digital, onde tudo viraliza rapidamente e as emoções se amplificam, é essencial repensar nossas atitudes como audiência. Cancelar alguém não é o mesmo que promover justiça. Na maioria das vezes, é apenas mais um reflexo da intolerância e da desumanização no meio virtual.
Se queremos uma internet mais ética, empática e saudável, precisamos trocar o julgamento por reflexão, e o linchamento por diálogo. Responsabilizar, sim, mas sem esquecer que, do outro lado da tela, há uma pessoa real, com sentimentos e direito ao erro.