18.2 C
São Paulo
quinta-feira, 5 de junho de 2025

A maior revolução que ninguém percebe


Vivemos cercados de barulho: inteligência artificial, ESG, metaverso, neurocoaching, soft skills com propósito. Todo dia uma nova buzzword travestida de salvação. Mas, enquanto todos se distraem com o ruído, uma revolução silenciosa muda as bases do mercado, do trabalho, do consumo — e quase ninguém nota. Ela se chama demografia.

Em 1950, o Brasil tinha uma taxa de natalidade de 6,2 filhos por mulher. Década de 60, ainda 6. Em 1970, caiu para 4,4. Em 1980, foi para 3,9. Em 1990, 2,8. Em 2000, 2,4. Hoje? Menos de 1,7. A conta não fecha mais. Para manter a população estável, precisaríamos de 2,1 filhos por mulher. Estamos envelhecendo — e rápido. A pirâmide etária virou de cabeça pra baixo, e muitos ainda acham que estão em 1995.

Hoje, temos mais de 57 milhões de brasileiros com mais de 50 anos. Isso mesmo. É como se houvesse uma França inteira só de consumidores maduros aqui dentro. Com renda, com tempo, com desejo de pertencimento e consumo. E o mercado? Ainda os trata como invisíveis. Ou pior: com preconceito.

É só olhar os rótulos: anti-aging, como se envelhecer fosse uma doença. Como se a sabedoria acumulada ao longo da vida fosse uma falha a ser corrigida. Confesso: já propus a várias marcas uma virada de chave. Por que não well-aging? Por que não pró-idade, pró-aging, com orgulho, com dignidade? E a resposta? Fui ignorado com força. Preferem seguir o script do medo, do estigma, da juventude eterna de Instagram.

Na minha palestra Diversa Idade, eu não trago tendências de guru ou achismos embalados em PowerPoint. Trago dados, fatos, evidências. Mostro que nunca tivemos cinco gerações convivendo ao mesmo tempo no mercado, na casa, nas empresas. Baby boomers, X, Y, Z e Alpha disputando espaço, poder de voz, consumo — com repertórios completamente diferentes. E seguimos comunicando com a mesma régua de 20 anos atrás.

Cada geração tem seus códigos, seus valores, suas feridas. A geração Z busca fluidez e propósito. A Y quer impacto e liberdade. A X ainda carrega o peso da estabilidade. E os boomers pedem respeito. Todos convivem, consomem, influenciam uns aos outros. E o marketing ainda se acha esperto com meme e slogan raso.

Quer exemplo de quem entendeu o jogo? A CVS. Em 2013, olhou os dados demográficos dos EUA, percebeu o envelhecimento da população e transformou a farmácia em um hub de saúde e bem-estar. Resultado: dominou o mercado. Enquanto isso, a concorrente Walgreens, que ignorou o mesmo cenário, saiu da bolsa americana. Relevância tem prazo de validade — e quem não respeita a demografia, expira antes da data.

A diversidade hoje precisa incluir a diversa idade. Não é mais apenas sobre inclusão. É sobre compreensão ativa. É sobre escutar o tempo e as pessoas com quem se compartilha esse tempo.

Marcas que não enxergarem isso vão acabar como a Blockbuster: nostálgicas e irrelevantes.

Porque o futuro não é jovem.
O futuro tem cabelo branco.
E já está na sala de reuniões.

Willians Fiori

Wililians Fiori é um dos grandes nomes sobre diversidade geracional no Brasil, liderando transformações no mercado há mais de 20 anos. Estrategista e inovador, ajudou a construir marcas icônicas como Bigfral, Addera e Benegrip, deixando sua marca em gigantes como Hypera e Ontex Global. Reconhecido globalmente, foi citado no livro Longevity Hub do MIT (Massachusetts Institute of Technology) como o principal especialista brasileiro no tema. Professor do Hospital Israelita Albert Einstein e convidado da FIA, UFRJ, PUC-SP e INSPER, leva o futuro da longevidade para o centro das discussões. Seu impacto já rendeu prêmios da ONU Latin America e o Selo Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio