A inovação na saúde tem desempenhado um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida de pessoas neurodivergentes. Em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou cerca de 9,6 milhões de atendimentos ambulatoriais às pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões destinados a crianças de até 9 anos. Esses números refletem a crescente demanda por intervenções eficazes e acessíveis.
Felizmente, avanços tecnológicos e metodológicos têm revolucionado as abordagens de diagnóstico e tratamento, como, por exemplo, o do Transtorno do Espectro Autista (TEA), promovendo maior inclusão e autonomia.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso da tecnologia como a Inteligência Artificial (IA) tem potencial para melhorar os serviços de saúde globalmente, aumentando a velocidade e precisão dos diagnósticos, fortalecendo pesquisas e auxiliando no desenvolvimento de medicamentos.
“No cenário atípico, as tecnologias baseadas em IA e aprendizado de máquina têm se mostrado promissoras para identificar sinais precoces do transtorno, muitas vezes antes mesmo de os pais notarem sintomas mais evidentes. No entanto, vale lembrar que, essas soluções digitais não substituem os profissionais de saúde, mas servem como aliados poderosos no processo de triagem”, declara o Líder de Tecnologia da Genial Care, Murilo Capanema.
Detectar o autismo nos primeiros anos de vida é essencial para intervenções individualizadas e focadas nos comportamentos desafiadores, especialmente durante a fase em que o cérebro está em pleno desenvolvimento. Com o suporte adequado, a criança pode aprimorar suas habilidades sociais, de comunicação e comportamental.
Além disso, o diagnóstico precoce auxilia famílias a compreenderem melhor as particularidades da criança, acessando recursos necessários para sua autonomia futura. “Sem um diagnóstico, muitos adultos enfrentam dificuldades em aspectos fundamentais da vida, como carreira e relacionamentos, o que pode levar a sentimentos de isolamento e desamparo”, afirma a Vice-Presidente Clínica da Genial Care, Thalita Possmoser.
8 inovações que estão transformando o autismo
1) Inteligência artificial no diagnóstico precoce
A IA tem revolucionado esse processo ao analisar padrões sutis de comportamento que podem indicar sinais precoces do TEA. O EarliPoint, criado pela FDA (Food and Drug Administration ou Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA), por exemplo, é o primeiro dispositivo aprovado para diagnosticar o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças a partir de 16 meses, utilizando tecnologia inovadora de rastreamento ocular.
Ele funciona monitorando os padrões de atenção visual das crianças enquanto elas assistem a vídeos especialmente projetados. O sistema mede mais de 120 preferências focais por segundo, permitindo uma análise detalhada de como a criança interage visualmente com estímulos sociais. Esses dados são comparados a métricas de referência apropriadas para a idade, auxiliando os profissionais de saúde a identificar possíveis sinais de autismo de forma mais rápida e precisa.
Outro exemplo é a inteligência artificial LIAM, ferramenta revolucionária desenvolvida a partir do programa de aceleração Google For Startups, que simplifica a interpretação e realiza a preparação de dados clínicos, permitindo que os profissionais se concentrem na melhoria da qualidade do atendimento. Desenvolvida pela Genial Care, a ferramenta faz parte do Painel Clínico, sistema operacional clínico próprio desenvolvido para conectar os profissionais.
2) Terapia de integração sensorial
Crianças com TEA frequentemente apresentam hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais. A terapia de integração sensorial trabalha essas dificuldades por meio de atividades específicas que ajudam a criança a processar e responder aos estímulos do ambiente de forma mais equilibrada. Isso contribui para a regulação emocional e melhora habilidades motoras e comportamentais.
3) Realidade virtual e aumentada
A aplicação de realidade virtual (VR) e aumentada (AR) na terapia tem se mostrado uma ferramenta poderosa para ajudar crianças autistas a desenvolverem habilidades sociais e emocionais. Por meio de ambientes simulados, elas podem praticar interações do dia a dia, como uma ida ao supermercado ou um bate-papo com um colega, sem o risco de sobrecarga sensorial, tornando a experiência de aprendizado mais segura e confortável.
4) Gamificação e aprendizagem personalizada
Jogos digitais são adaptados para oferecer experiências de aprendizagem inclusivas, que respeitam o ritmo e as preferências das crianças autistas. Aplicativos educacionais com estratégias de gamificação tornam o aprendizado mais envolvente, recompensando pequenas conquistas e promovendo a autonomia no desenvolvimento de novas habilidades.
5) Sensores e dispositivos vestíveis
Tecnologias como pulseiras inteligentes e sensores de monitoramento ajudam a acompanhar os níveis de estresse e padrões de comportamento da criança em tempo real. Isso permite que pais e terapeutas identifiquem gatilhos emocionais e ajustem estratégias de intervenção para minimizar crises e desconfortos, proporcionando um ambiente mais acolhedor e previsível.
Essas inovações também democratizam o acesso à saúde, permitindo que crianças em regiões remotas recebam avaliações iniciais e encaminhamentos adequados. No entanto, Thalita Possmoser reforça que “embora as soluções tecnológicas sejam transformadoras, o profissional de saúde continua sendo insubstituível. Essas ferramentas devem ser vistas como suporte valioso, e não como um substituto”.
6) Intervenção clínica por meio de aplicativo
A tecnologia tem transformado a rotina das famílias, e o aplicativo Genial Care é um exemplo de como soluções digitais podem auxiliar profissionais clínicos, terapeutas e cuidadores no acompanhamento do desenvolvimento infantil. Além de facilitar tarefas administrativas, a plataforma apoia pais e responsáveis no seguimento do plano de intervenção clínica, oferecendo resumos das sessões e conteúdos educativos para reforçar o aprendizado em casa.
O aplicativo conta com uma inteligência artificial integrada que simplifica a tomada de notas dos terapeutas, permitindo que concentrem mais atenção nas crianças. Seu copiloto de IA, LIAM, analisa os dados de admissão para sugerir planos de tratamento personalizados, posteriormente validados pelos supervisores de caso. Além disso, LIAM auxilia os terapeutas na preparação das sessões, fornecendo avisos e sugestões personalizadas. Ao atuar como copiloto, a tecnologia contribui para elevar a qualidade do atendimento, apoiar o desenvolvimento dos profissionais e ampliar o acesso ao tratamento.
De acordo com a Genial Care, 60% das famílias utilizam o aplicativo diariamente. “O app facilita o acompanhamento da evolução do meu filho e disponibiliza conteúdos que esclarecem dúvidas e ampliam o conhecimento, tornando o manejo mais funcional e enriquecedor”, comenta Bárbara, mãe de Henrique.
7) Hora do Brincar Juntos
Estudos confirmam que a atenção compartilhada é uma habilidade essencial no desenvolvimento infantil, permitindo que a criança direcione sua atenção para um objeto ou atividade ao mesmo tempo que outra pessoa. No TEA, essa habilidade pode ser comprometida, impactando a socialização e o aprendizado, principalmente pelo autismo ser um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
Para estimular a atenção compartilhada, a Genial Care, desenvolveu a “Hora do Brincar Juntos”, novo modelo de atendimento terapêutico, que busca capacitar a criança para utilizar vocalizações, gestos e rastreio visual para dividir experiências sobre objetos ou eventos ao seu redor, com outra pessoa.
Essa metodologia permite que a criança aprenda a partir das interações com os outros, compreenda emoções e desenvolva o social e comunicativo, além da empatia.
8) Terapia assistida por animais
A interação com animais, como cães treinados, têm demonstrado impactos positivos no desenvolvimento de crianças com TEA. Estudos apontam que essa abordagem pode reduzir níveis de estresse, melhorar a comunicação não verbal e aumentar o engajamento em terapias. Além disso, o vínculo emocional formado entre a criança e o animal pode estimular respostas afetivas mais espontâneas e naturais.
Com a combinação de tecnologia avançada e cuidado humanizado, o futuro para pessoas com TEA e suas famílias é cada vez mais promissor, oferecendo maior autonomia e qualidade de vida.