Comandada pela pesquisadora, jornalista e DJ paulistana Daniella Pimenta, a comunidade Her Vinyl Brasil conduziu e divulgou, em parceria com a Noize Record Club e Revista Noize, uma pesquisa inédita sobre a representatividade feminina no mercado de discos de vinil. O levantamento trouxe reflexões relevantes a partir de questões como o número de lojas comandadas por mulheres conhecidas pelos colecionadores e a presença de artistas mulheres nas coleções particulares.
Os dados referem-se ao ano de 2024 e foram obtidos por meio de um questionário aplicado entre os assinantes do clube de vinis Noize Record Club “A pesquisa é inédita no Brasil, e muito providencial para aprofundarmos os debates em relação à presença feminina no mercado de vinis – indústria e comércio. Eu, que sou DJ e vivo esse desequilíbrio da balança do “outro lado do balcão”, também já comandei uma feira de discos, e sei quanto esse desalinhamento de gênero também atinge a parte dos negócios voltados ao vinil”, explica Daniella.
“O vinil está passando por uma grande nova ascensão, então se falamos de direitos autorais, composição e venda de shows, não podemos esquecer do registro físico. Se o seu artista favorito está prensando disco, por que não falar da pessoa que faz o vinil chegar no toca-discos do DJ ou nas coleções particulares? A gente precisa olhar para as pessoas que compõem essa cadeia, então queremos propor esse diálogo.”
Perfil dos participantes
Entre os respondentes, 54,1% se identificam como homens, enquanto 43,7% se identificam como mulheres — um dado que já aponta para um certo desequilíbrio de gênero, mesmo com o crescimento da participação feminina no consumo de vinil nos últimos anos.
A maior parte dos entrevistados (41,8%) está na faixa etária de 26 a 35 anos e vive nas regiões Sudeste e Sul do país. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul concentram 76% do público da pesquisa. O hábito de comprar discos também é frequente: essa mesma porcentagem afirma adquirir ao menos um vinil por mês.
“A ideia é, no futuro, expandir a pesquisa em novas frentes, novos recortes, para entender de forma cada vez mais aprofundada quais são as problemáticas e, por outro lado, as alternativas para diminuir esse desequilíbrio”, explica Daniella Pimenta.
Representatividade em números
Quando o assunto são os discos presentes nas estantes dos colecionadores, os números mostram que, na maioria dos casos (36,9%), os álbuns de artistas mulheres ocupam entre 10 e 50 espaços nas coleções — que, em geral, podem somar até 200 vinis. Apesar disso, 60,6% afirmam comprar regularmente lançamentos de artistas femininas.
Mas o que motiva essas escolhas?
Entre os principais fatores apontados para a decisão de adquirir discos de artistas mulheres, estão:
- Gosto musical: 92,3%
- Valorização da diversidade na coleção: 35%
- Apoio à igualdade de gênero na indústria musical: 29,5%
- Experiências em shows e eventos (como a compra de merchandising): 16,5%
- Recomendações de amigos e familiares: 10,3%
Negócios sob liderança feminina ainda são invisibilizados
A pesquisa também evidencia um cenário de pouca visibilidade para os empreendimentos liderados por mulheres. Um total de 69,6% dos participantes afirmaram não conhecer lojas de vinil geridas por mulheres, e 65,5% disseram nunca ter comprado discos nesses espaços.
Esse dado se conecta com uma percepção mais ampla: 64% dos respondentes não acreditam que as mulheres tenham representatividade suficiente no mercado do vinil. O levantamento reforça a urgência de ações que promovam visibilidade e incentivo a iniciativas femininas nesse setor — seja como lojistas, fabricantes, executivas, artistas ou consumidoras. Elas são protagonistas de uma cena rica e apaixonada que movimenta a economia da música analógica e merecem mais reconhecimento em todos os níveis.
