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quarta-feira, 23 de abril de 2025

O paradoxo da automação: está reduzindo custos ou está apenas redistribuindo ineficiências?

Automação virou o novo evangelho do mundo corporativo. Quem não automatiza está “ficando para trás”, “gastando mais do que deveria” ou “perdendo competitividade”. É o tipo de mantra que ninguém questiona, e, justamente por isso, precisa ser urgentemente questionado.

Afinal, estamos mesmo reduzindo custos com a automação? Ou apenas deslocando ineficiências, agora camufladas por dashboards elegantes e algoritmos que ninguém entende direito? Essa é a provocação que proponho aqui. Não é ceticismo, é pragmatismo: tecnologia sem discernimento é só maquiagem cara pra processo ruim.

Acompanho de perto a jornada de empresas em busca de eficiência operacional. E o que vejo, cada vez mais, é uma corrida pela automação sem clareza estratégica. Só que tecnologia não é milagre. ela tem o potencial de ser um baita acelerador da estratégia. Automatizar um processo mal desenhado gera retrabalhos e atrapalha a estrutura organizacional.

Quantas empresas você conhece que implementaram sistemas e integrações robustas — bots, IA, CRM e afins — sem redesenhar o fluxo real de trabalho? Sem ter um time por trás com clareza sobre o que realmente gera valor? No fundo, é menos sobre tecnologia e mais sobre entender onde estão os ganhos reais de eficiência.

O paradoxo é cruel: ao invés de libertar as pessoas, a automação mal feita acaba criando novas camadas de complexidade que só elas conseguem resolver. No fim, o caos continua — só muda de roupa.

Automação é muito mais sobre design de processos do que sobre tecnologia em si. A pergunta central não é “o que dá para automatizar?”, mas sim: “o que faz sentido automatizar?”

Antes de falar em stack, IA, RPA, precisamos falar sobre jornada, gargalo, atrito, expectativa, cultura. Não existe IA que conserte ausência de estratégia. Não existe automação que resolva liderança desorientada. Se o processo é ruim, o sistema será ruim. Se a cultura é reativa, a tecnologia será mal utilizada. E se o foco é só cortar custos, o ganho será temporário. Automação inteligente não é linha de código — é linha de comando organizacional.

A automação é essencial, não é uma vilã. Mas deve ser tratada como uma alavanca estratégica. Os cases mais interessantes que vejo nascerem em startups que acompanho são justamente os que automatizam para potencializar o humano, não para substituí-lo.

Um bom exemplo é a adoção de IA generativa para análise preditiva em marketing. Empresas que utilizaram a automação para fornecer insights, e não apenas outputs, conseguiram aumentar conversão e reduzir CAC sem demitir ninguém. Pelo contrário, redirecionaram talentos para tarefas de maior valor.

Precisamos abandonar a mentalidade da “automação como economia imediata” e adotar a visão da “automação como inteligência ampliada”. Isso significa investir em integração, governança de dados, redesenho de fluxos, e, sobretudo, em capacitação de pessoas. Porque a automação do futuro é colaborativa. Ela não elimina o humano, ela exige mais inteligência humana para fazer sentido.

Autor:

Renan Georges é Fundador e CEO da Zavii Venture Builder

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