O Estado laico deve proteger a imparcialidade religiosa e garantir respeito a todas as crenças — inclusive às escolhas de quem não professa fé alguma. Em tempos de conflito ou de alianças com instituições religiosas, o Estado precisa manter distância, sem favorecer nem prejudicar a expressão de ideias religiosas, antirreligiosas ou indiferentes. Na prática, porém, o Brasil transforma a laicidade em mero teatro para “inglês ver”. Embora a Constituição de 1891 tenha separado formalmente Igreja e Estado, uma única religião ainda domina os espaços públicos e políticos. Grupos religiosos vetam projetos de políticas públicas, enquanto uma bancada no Senado atua em nome da fé e impõe sua moral a toda a sociedade.
Nas escolas públicas, o desrespeito à diversidade religiosa se torna ainda mais evidente. Direções e professores promovem festas religiosas cristãs sem abrir espaço para outras tradições. O ensino religioso, que deveria apresentar uma visão ampla e plural, frequentemente se transforma em ferramenta de doutrinação disfarçada, violando o direito dos estudantes à liberdade de crença.
O cenário piora quando religiões de matriz africana enfrentam desprezo e preconceito. Professores e gestores aplaudem peças teatrais sobre a Paixão de Cristo, mas rejeitam projetos que exploram a mitologia iorubá ou a cultura indígena. Esse comportamento escancara o racismo religioso que se perpetua exatamente onde deveria se ensinar respeito e cidadania. As secretarias de educação precisam agir imediatamente. Elas devem deixar claro que o Brasil, por força da Constituição e de leis específicas, é um Estado laico. Escolas e professores precisam compreender que a sala de aula não é púlpito nem altar. A liberdade religiosa deve sair do papel e se tornar uma prática real, viva e cotidiana.