Um novo olhar sobre o aprender
Atualmente, é comum que as crianças ingressem na escola já familiarizadas com o ambiente digital. Desde muito novas, elas interagem com telas, assistem a vídeos, manuseiam dispositivos com agilidade e exploram o mundo ao seu redor, muitas vezes antes mesmo de aprenderem a ler e escrever de maneira convencional. Essa nova forma de interação com a realidade transformou a maneira como as crianças aprendem e exige uma ressignificação do papel da escola e dos educadores.
Hoje em dia, a imagem exerce grande influência no modo como ocorre a aprendizagem na infância. É por meio dela que a criança decodifica símbolos, compreende sentidos e constrói conhecimento. Esse processo está diretamente ligado à semiótica — a ciência dos signos —, que nos ajuda a entender como os elementos visuais, sonoros e gestuais são interpretados e transformados em linguagem. Portanto, a alfabetização digital desde a educação infantil é, também, ensinar a ler imagens, sons, ícones, emojis, gestos e interfaces. É preparar a criança não apenas para o domínio técnico das ferramentas digitais, mas para uma compreensão crítica e ativa do ambiente digital, capacitando-a a navegar com ética e discernimento.

O papel da escola, diante dessa nova realidade, não é mais apenas o de transmitir conteúdos. É também o de mediar o uso consciente das mídias, promovendo a cidadania digital desde os primeiros anos de vida escolar. Contudo, em um cenário de rápidas transformações impulsionadas pela tecnologia, a educação enfrenta o desafio constante de adaptar-se a esse ritmo acelerado. Enquanto a sociedade evolui rapidamente, muitas instituições de ensino ainda lidam com obstáculos significativos, como infraestrutura inadequada, carência de formação continuada para os docentes e a ausência de políticas públicas eficazes que promovam a inovação educacional.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao incluir o componente da Computação desde a educação infantil, traz um grande avanço ao reconhecer a importância da alfabetização digital desde cedo. Ela propõe que as crianças tenham contato com a tecnologia tanto de forma plugada (com uso de equipamentos eletrônicos) quanto desplugada (sem o uso direto da tecnologia, mas desenvolvendo o raciocínio computacional e a lógica). Essa abordagem amplia as possibilidades de atuação dos educadores, mesmo em contextos com poucos recursos tecnológicos.
Para que a escola consiga acompanhar esse processo e tornar-se protagonista na formação e alfabetização digital dos alunos, algumas soluções são possíveis:
- Investir na formação dos professores: capacitar os educadores para que se sintam confiantes no uso das tecnologias e saibam integrá-las de forma pedagógica e significativa;
- Adotar metodologias ativas: como a gamificação, o uso de vídeos interativos, QR codes, realidade aumentada e produção de conteúdos digitais pelos próprios alunos;
- Desenvolver projetos interdisciplinares: que integrem diferentes áreas do conhecimento, focando na resolução de problemas reais e estimulando habilidades como pensamento crítico, criatividade e colaboração;
- Estabelecer uma curadoria de conteúdos: para guiar o uso das mídias de maneira segura, ética e educativa, orientando os alunos sobre o que consumir e como interagir no ambiente digital.
Alfabetizar digitalmente não é apenas ensinar a usar um computador ou um tablet. É preparar nossos pequenos para um mundo onde a informação é constante, a imagem comunica tanto quanto a palavra e o pensamento crítico se torna essencial. Cabe à escola ser esse lugar de mediação, orientação e transformação, onde a tecnologia não é um fim, mas um meio para formar cidadãos mais preparados, conscientes e criativos.