SALVE ABÍLIO MONTEIRO!

          No dia 17 de setembro de 1882, nascia na cidade de Aracati, no Estado do Ceará, o Sr. Abílio Bezerra Monteiro. Talvez se tivesse dedicado a sua vida a Coletoria Federal seria apenas um mero cobrador de impostos e obrigações fiscais. Entretanto, ocorreu na sua vida uma reviravolta quando ele decidiu comprar uma máquina fotográfica como passatempo. Abílio apaixonou-se pela fotografia e saiu pela cidade registrando tudo que achava interessante. Não é à toa que o seu acervo hoje se estima que haja 4 mil fotos, uma produção relevante para um fotógrafo amador. Alguns de seus registros foram: Acidente aéreo do Junkers 218, nas margens do Rio Jaguaribe; Irmandades religiosas e irmãs salesianas; registros de famílias abastadas do Aracati; Monumentos históricos; Igrejas e capelas da cidade; diversas firmas comerciais; bandas de música; visita de figuras ilustres ao Aracati, como Dom Hélder Câmara, recém- ordenado, ao médico Eduardo Alves Dias (1930); Visita de Padre Cícero, Maçonaria, etc.
          Assim como Glauber Rocha, Abílio mergulhou num Brasil desconhecido do Brasil, numa cidade desconhecida de seus próprios citadinos. Uma câmera na mão, mas ao invés de uma ideia era um milheiro. As fotos em preto e branco trazem implícitas as cores da beleza e da sensibilidade de um olhar. As pessoas, os casarões, as vestimentas, os semblantes, as posturas, os festejos, a morte e a fé vão compondo um mosaico complexo de um Aracati recôndito que estava fadado ao esquecimento se não fosse o Sr. Abílio. Os seus registros ajudam-nos a compreender a construção de nossa identidade e de nossa cultura.
          Abílio completou 142 anos de nascimento e fiquemos a imaginar se o mundo, o Brasil, o Ceará e o Aracati não tivesse tido o privilégio apreciar a sua magistral produção artística?