COMO DEVE SER UMA BIBLIOTECA?

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Sempre fui o que chamavam na época de “rato de bibliotecas”. Visitava todas de todas as cidades as quais tinha a oportunidade de conhecer. Recordo da imponente Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que me levou a perder duas boas ofertas de emprego, ao seduzir-me com seu interior impecável e intermináveis opções de leituras muito mais interessantes que qualquer trabalho.

Porém, o local onde mais gostava de ler ficava em Curitiba, na Galeria Schaffer mais precisamente. O prédio de três andares, localizado no calçadão da Rua XV, abrigava no térreo uma inigualável confeitaria, a Confeitaria das Famílias e algumas lojas comerciais. No terceiro andar havia um Piano Bar, onde alguém, que meus parcos conhecimentos musicais consideravam um virtuosi, inundava o ambiente de harmonia com sons que pareciam visíveis aos olhos. Sim, se apertasse os olhos poderia ver as claves e subclaves musicais flutuando pelo ar das 17 às 21h. E, no segundo andar, que deixei por último para relatar, havia a Gibiteca!

Não era uma biblioteca de gibis apenas. Havia muitos gibis, sim, mas comportava várias estantes de romances compatíveis com minha idade que sempre estavam sendo trocados.

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Não era uma biblioteca tradicional, sisuda, com prateleiras de aço pintadas com tinta fosca e uma bibliotecária de cara amarrada, que olhava com baixando a cabeça para enxergar pela fresta entre os óculos e as sobrancelhas (parecem que elas existem em todas as bibliotecas “normais” – até hoje penso que são um clã dominador dos livros, ou coisa assim). Era uma biblioteca colorida! Umas poucas mesas, uma dúzia de cadeiras e vários, vários pufs coloridos, onde podia me atirar e mergulhar nos livros, ou seria mergulhar nos pufs e me atirar nos livros? Não importa! Era mais que minha casa! Não era estudo, nem trabalho, nem obrigação, era lazer legítimo e de qualidade!

Escapava do trabalho as 15h, embora o expediente devesse ir até as 18h. Passeava pelos livros e gibis. Admirava os mesmos quadros habilmente distribuídos pelas paredes de tijolinho a vista, e sempre descobria neles algum detalhe novo. Eram réplicas inspiradoras dos grandes mestres. A felicidade fluía só por estar ali. Então, escolhia um livro e ficava com o boné abaixado, olhando por alguns minutos a bela atendente que sempre me recebia com um sorriso. Um amor platônico que somente posso superar imaginando que ela envelheceu e entrou para o clã das dominadoras de livros. Atirado no puff, com um livro bem  escolhido, a música de piano ao vivo eliminando qualquer outra interferência externa, eu me transformava no herói ou vilão das histórias (não me julgue, mas muitos vilões são fascinantes).

Professora, perdoe se não fui objetivo na resposta, mas ela despertou uma das poucas boas lembranças da juventude e, por fim, respondendo à questão da prova, uma biblioteca deve ser assim! Um ambiente que permita sonhar, imaginar. Sem cadeiras duras e mesas frias. Sem atendentes mal-humoradas. Sem estantes mortas de livros nunca lidos. Precisa ser viva, alegre, colorida e aconchegante!

Poderia responder tecnicamente, citando critérios de organização de espaço físico, ordenamento de prateleiras, fichários e decoração sóbria, incentivando silêncio e concentração. Coisas importantes também, para determinados locais, mas minha resposta foi pessoal, desprovida de técnica e sujeita à sua avaliação sem questionamentos.

Saulo Semann

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