O currículo escolar brasileiro, historicamente, tem como princípio a preparação para o mercado de trabalho. No entanto, esse modelo já nasce defasado ao priorizar apenas o aprendizado da leitura e escrita, desconsiderando competências essenciais como o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas. Com o avanço acelerado da tecnologia, a educação tem encontrado dificuldades em acompanhar essas mudanças, ampliando ainda mais o abismo entre a escola e a realidade profissional.
O mercado de trabalho atual exige, no mínimo, um conhecimento básico em informática, independentemente da área de atuação. No entanto, muitos alunos chegam ao ensino médio sem nunca terem tido contato com um computador, sem acesso à internet e sem qualquer familiaridade com ferramentas digitais. Como esses jovens poderão competir por oportunidades em um mundo cada vez mais digitalizado? A inclusão digital deveria ser um dos pilares fundamentais da escola pública, garantindo que todos os alunos tenham acesso à tecnologia e desenvolvam habilidades essenciais para o futuro.
Os cursos técnicos e superiores na área de tecnologia estão esvaziando, enquanto o mercado enfrenta uma crescente escassez de profissionais qualificados. Mas como despertar o interesse dos jovens para a área de TI se eles nunca tiveram contato com um computador na escola? Se a educação básica não os apresenta ao universo digital, como eles poderão escolher essa carreira?
A mudança necessária vai além da disponibilização de equipamentos e infraestrutura. É preciso uma transformação cultural dentro das escolas, conscientizando educadores sobre a importância da tecnologia no ensino. Muitas barreiras não são apenas financeiras ou materiais, mas também mentais, ligadas à resistência de profissionais da educação que ainda veem a tecnologia como algo secundário.
Para superar esses desafios, algumas soluções precisam ser implementadas de forma urgente:
- Investimento em infraestrutura: É essencial que as escolas tenham laboratórios de informática bem equipados, acesso à internet de qualidade e dispositivos tecnológicos acessíveis aos alunos.
- Capacitação docente: Os professores precisam ser capacitados para utilizar e ensinar com tecnologia, garantindo que os alunos aprendam não apenas a consumir conteúdo digital, mas também a criar e desenvolver soluções tecnológicas.
- Currículo atualizado: A inclusão da tecnologia deve ser transversal no ensino, integrando habilidades digitais a todas as disciplinas e promovendo projetos interdisciplinares que estimulem a inovação.
- Parcerias com o setor privado: Empresas de tecnologia podem colaborar oferecendo cursos, treinamentos e equipamentos, preparando os alunos para as
demandas reais do mercado.
- Acesso à tecnologia fora da escola: Criar programas que forneçam dispositivos e internet gratuita para alunos de baixa renda, garantindo que a inclusão digital aconteça também em casa.
- Estímulo ao interesse pela TI: Promover feiras de tecnologia, desafios de programação e oficinas práticas que despertem a curiosidade dos estudantes para as oportunidades na área de tecnologia.
A escola precisa se reinventar para ser um espaço de inclusão digital, permitindo que todos os alunos tenham igualdade de condições para disputar vagas no mercado de trabalho e escolher carreiras baseadas em vivências reais. O futuro já chegou, mas sem uma ação concreta, muitos continuarão excluídos dessa nova realidade.
Autora:
Fabiane Aparecida de Carvalho Santos é professora da educação básica, Graduada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Pedagogia, possui pós-graduações em Novas Tecnologias Educacionais e Gestão Escolar. Atualmente, cursa pós-graduação em Mídias Digitais na Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e participa como aluna do Projeto Desenvolve da Prefeitura Municipal de Bom Despacho.
Com ampla atuação no uso da tecnologia no ambiente escolar, Fabiane é instrutora de robótica certificada e já atuou como coordenadora de tecnologia digital. Além disso, já trabalhou como professora de informática no ensino fundamental e médio, e disciplina integradora em curso técnico. Atualmente, leciona em escolas públicas de Nova Serrana, Minas Gerais, onde busca promover a inclusão digital e o desenvolvimento de habilidades tecnológicas entre seus alunos.