O clube abandonado é o ponto de encontro da molecada no final de semana, para entrar é só pular o muro. É um pântano, mas é o único clube que eles podem frequentar. E eles adoram.
Já fazia bastante tempo desde que as contas ficaram impagáveis, a administração declarou falência e fechou as portas. As piscinas viraram criadouros de mosquitos, com o fundo escorregadio, coberto de lodo e a água muito suja e marrom.
Numa cidade longe do litoral, não é fácil encontrar lazer que seja refrescante para a família no verão quando se é pobre. Morar perto da praia e ter isso tudo de graça é um privilégio para poucos. Já para quem só tem por perto clubes com mensalidades que não pode pagar, é muito mais difícil.
Rios, lagos e cachoeiras também ficam longe demais para quem mora na cidade e não tem como ir para a zona rural. Na maioria desses lugares, o ônibus, que é a única opção para quem não tem carro, um luxo que está ao alcance de poucos, não vai.
Observar tudo da sacada de um apartamento faz a gente refletir. Costumamos achar que é pouco todo o conforto e aconchego que temos, mesmo que não seja muito, mas o suficiente. Alguns de nós até podem frequentar um clube com os filhos e viajar de vez em quando para o litoral ou interior. E ainda achamos pouco.
Aqueles garotos, que só querem se divertir, como todos querem na infância, voltam para as suas casas sujos, mas felizes, levam uma bronca da mãe, têm que tomar um banho bem rápido para se limpar e, depois, não têm nem um biscoito para lanchar. O jeito é esperar a janta, a sopa diária. Outra água suja. E eles se lambuzam de novo.