Mia Garra formou-se em Jornalismo. Sonhou com carreira na grande mídia, coberturas importantes, furos jornalísticos, prêmios internacionais e casar, mas nada disso saiu conforme seus sonhos.
Conseguiu emprego de meio período na Imprensa Oficial, estável, aposentadoria integral, mas com salário baixo e cargo de Auxiliar de Arquivista, sem eventos, furos jornalísticos ou prêmios, ou seja, coisa broxante.
No amor, só decepção. Fraca de feição, fez harmonização facial para melhorar a lataria. Gostou do resultado e a Clínica nem cobrou, contanto que não revele onde o procedimento foi feito. Sua frustração é ver as amigas bem sucedidas, casadas uma ou mais vezes e ela sempre sozinha, duelando com as faturas do Cartão de Crédito.
As amigas insistiram e Mia entrou num aplicativo de namoro, mas só conseguiu encontros ruins. Num deles o cara pediu a conta no restaurante, foi ao banheiro, sumiu e ela teve de pagar. Teve encontros em parques charmosos, até descobrir que era para não pagarem a conta. Todos pobres ou pão duros.
No tempo livre, Mia criou um blog de Política Internacional, Adoção de Pets e Baixa Gastronomia (comida por quilo), que tem 0,18 milhões de seguidores (175). Mesmo sem audiência e monetização, participou do concurso do Portal de Notícias, foi selecionada e ganhou passagem e estadia para os Estados Unidos, com a contra partida de elaborar um artigo sobre a viagem.
Embarcou em meados de janeiro e, na noite do dia 20, enviou e-mail ao Portal: “Consegui entrevista exclusiva com Donald. Seguem texto, fotos e vídeos”. O Editor Chefe do Portal de Notícias ficou eufórico, encaminhou o texto para postagem e começou a leitura, feliz com a rapidez com que Mia Garra cobriu a Posse. O texto tem linguagem bem humorada, ao gosto do Conselho Editorial, e diz:
Confusão na posse do possuído. Após processo tumultuado, Donald venceu! Mr. Magoo quis concorrer, mas está gagá e abandonou a corrida. Mohana foi escalada para substituí-lo e, embora bonita e risonha, o eleitor preferiu alguém de pulso firme, e não uma Barbie. O carrancudo Donald ganhou de lavada e ninguém sabe como se comportará no cargo que ocupará pela segunda vez.
O eleitorado vira a casaca o tempo todo, para o lado que dá mais grana. Muitos apoiadores de Magoo e Mohana passaram a apoiar Donald. Esse pragmatismo atraiu personalidades como Doutor Estranho, Homem de Ferro e Dick Vigarista., dentre outros.
O Editor Chefe se divertia com os apelidos que Mia Garra criou para os políticos e empresários presentes à cerimônia de posse que assistiu pela TV. Exigiu grande espaço e destaque na tela de abertura do Portal de Notícias e seguiu com a leitura:
A cerimônia foi longa, com muitas etapas e inúmeros convidados VIP, inclusive estrangeiros. Teve forte cobertura mídia tradicional, mídias digitais e redes sociais. Apesar do clima ruim, o público compareceu em massa. Muitos brigaram para conseguir convite e quem não conseguiu ficou nas ruas para ver o cortejo.
Dentre os estrangeiros, algumas curiosidades. A China, que há pouco tempo nem estava no mapa, enviou representante para o caso de Donald aprontar uma das suas. Ele não é bem visto pelos europeus, o que explica a ausência de TinTin. O ratinho Speedy Gonzales, conhecido como Ligeirinho, foi barrado na fronteira com o México e de nada adiantou o Patolino interceder. Ficou mesmo de fora.
Do Sul, só o Hermano. O Bozzo foi convidado, mas um dos Irmãos Metralha negou autorização e os Sobrinhos do Capitão foram em seu lugar. O Metralha Briguento, sem convite, quis comprar passagem, mas teve problemas com o PIX e sua mulher não pode desfilar os famosos modelitos.
O Editor Chefe franziu a testa. Irmãos Metralha, Bozzo, Capitão? Metralha Briguento e Esposa? De quem ela está falando? Como o Governo reagirá a esses apelidos? Por precaução, pediu ao responsável para manter o espaço reservado no Portal e aguardar ordem para subir a matéria. Abriu o arquivo as com fotos da cerimônia de posse e viu muita festa e animação, com Donald, Mohana, Metralhas e outros personagens contagiando o público nas ruas do Walt Disney World.
Mia Garra viajou para os Estados Unidos, mas não para Washington e sim para Orlando. Cobriu a Parada comemorativa da eleição de Donald para comandar a temporada de diversão e tirou fotos abraçada ao famoso Pato.
Chegou ao Brasil num voo com deportados e terá de devolver a grana da passagem. Mas nem tudo deu errado. Um deportado disse ter plano infalível para regressar aos EUA pelo Estreito de Behring. São só 83 quilômetros entre Dezhnev, na Rússia e o cabo Príncipe de Gales, no Alasca, com fiscalização é frouxa. Mia foi convidada, apaixonou-se pelo deportado e está tricotando roupas íntimas de pura lã para os dois.
Na política e no amor, ninguém cumpre o prometido, mas se você não escolher, outros escolherão por você.
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