Uma percepção comum é que as gerações são definidas exclusivamente pela idade ou pelo ano de nascimento. Embora não esteja completamente errada, essa visão simplista desconsidera uma realidade social mais complexa: as gerações são moldadas por experiências compartilhadas e memórias coletivas durante a adolescência tardia e o início da vida adulta. Esses eventos formativos influenciam como as pessoas percebem o mundo, seus valores e, em última análise, seus comportamentos na sociedade, no trabalho e no mercado.
Essa reflexão é inspirada nos insights do Dr. Joe Coughlin, que transforma tendências globais demográficas, sociais e tecnológicas em estratégias de negócios. Ele destaca que, há um século, o sociólogo Karl Mannheim descreveu as gerações como um “fenômeno sociológico”, enfatizando como eventos socio-históricos moldam identidades geracionais. Hoje, a economia da longevidade amplifica essa dinâmica. A expectativa de vida continua a aumentar, e isso não se trata apenas de adicionar anos à vida—é sobre a coexistência de mais gerações em sociedade. Ao contrário do passado, quando havia apenas gerações mais velhas e mais jovens, agora vivemos em um mundo onde quatro, cinco ou até seis gerações interagem ativamente em todos os níveis sociais e econômicos.
Essas gerações não estão apenas coexistindo; elas frequentemente colidem, entram em conflito e buscam consenso social. Assim como a alquimia medieval buscava transformar metais básicos em ouro, hoje precisamos de uma “alquimia geracional” para transformar as dinâmicas multigeracionais em energia renovada para os ambientes de trabalho e os mercados.
Memórias Geracionais: O Passado que Molda o Futuro
No Brasil, as memórias geracionais desempenham um papel crucial na formação de perspectivas. Por exemplo, eventos como o impeachment de Collor em 1992, a estabilização econômica com o Plano Real em 1994, e as manifestações de 2013 são lembrados de maneiras distintas por diferentes gerações. Esses acontecimentos não só moldaram percepções sobre política e economia, mas também reforçaram atitudes coletivas, como desconfiança em instituições e o desejo por mudanças estruturais.
A Diversidade das Gerações no Brasil
Baby Boomers (1946–1964): Dualidade de Experiências
Os Boomers no Brasil cresceram em um período de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial e sob o impacto do Milagre Econômico na década de 1970. Os mais velhos vivenciaram movimentos sociais transformadores, enquanto os mais jovens enfrentaram crises econômicas na década de 1980. Essa geração valoriza o trabalho árduo, mas apresenta uma dualidade: os mais velhos confiam mais nas instituições, enquanto os mais jovens são mais céticos devido às desilusões econômicas.
Geração X (1965–1980): Autonomia e Resiliência
Conhecida como “a geração esquecida”, a Geração X no Brasil cresceu em tempos de transição social e econômica. Com o aumento do divórcio e a entrada das mulheres no mercado de trabalho, muitos dessa geração aprenderam a ser independentes desde cedo. Eventos como o Plano Collor e a hiperinflação deixaram marcas profundas, formando uma geração pragmática, resiliente e cética em relação às instituições.
Millennials (1981–1996): Tecnologia e Contrastes
Os Millennials brasileiros são frequentemente divididos em dois grupos. Os mais velhos cresceram em um período de otimismo econômico e maior acesso à educação superior, enquanto os mais jovens enfrentaram a crise de 2008 e instabilidade no mercado de trabalho. A revolução tecnológica, desde o surgimento do Orkut até a consolidação das redes sociais, desempenhou um papel central na construção de sua identidade geracional, conectando-os globalmente.
Geração Z (1997–2012): Incerteza e Digitalização
A pandemia de COVID-19 foi um marco para a Geração Z, que no Brasil enfrentou interrupções educacionais e precarização do trabalho. Esta geração nasceu em um mundo digitalizado, lidando com a tecnologia de forma intuitiva. No entanto, também se destaca pela consciência sobre desigualdades sociais e desafios ambientais, influenciando seu engajamento social.
Economia da Longevidade: Oportunidades Estratégicas
A economia da longevidade no Brasil oferece uma oportunidade única para transformar a diversidade geracional em vantagem estratégica. Em um país com crescimento acelerado da população idosa, a interação entre gerações é uma realidade que molda o ambiente de trabalho e o mercado consumidor. Compreender memórias e valores geracionais é essencial para criar produtos e serviços que ressoem com diferentes públicos.
Ao promover colaboração e abraçar a diversidade geracional, é possível:
- Formar equipes mais inovadoras e produtivas;
- Desenvolver soluções que atendam às necessidades de todas as gerações;
- Criar culturas organizacionais inclusivas;
- Impulsionar o crescimento sustentável em mercados diversificados.
A “alquimia geracional” no Brasil não é apenas uma necessidade; é uma oportunidade estratégica para construir um futuro onde gerações coexistam e contribuam para uma sociedade mais inclusiva e inovadora.
Especialista em longevidade desde 2003
Professor docente do hospital Israelista Albert Einstein na pós graduação em gerontologia, Geriatria e mercado saúde
Professor convidado da FIA,INSPER, FAAP, FMUSP, UFRJ e PUC-RS
Membro da sociedade brasileira de geriatria e gerontologia
Membro da sociedade brasileira de gerontotecnologia
Membro da associação brasileira de telemedicina e telesaude
Membro e criador do grupo de estudos sobre longevidade envelhecimento 2.0
oHst e criador do gerocast, primeiro podcast em audio sobre longevidade no brasil, desde 2014