Embora o alto nível de pobreza na Argentina ainda seja alarmante, atribuir essa situação às políticas atuais ignora o contexto de décadas de erros econômicos. Sob o governo de Javier Milei, reformas estruturais estão sendo implementadas e já apresentam resultados promissores, indicando um futuro menos caótico do que se previa há alguns anos.
Um dos indicadores com maior significado dessa mudança é a inflação. Em outubro, a inflação mensal atingiu o menor patamar em quase três anos. Embora a taxa anual ainda seja elevada, em torno de 193%, é inegável que uma tendência de queda começou a se consolidar. Esse progresso reflete políticas monetárias mais responsáveis e o compromisso do governo com a disciplina fiscal, sinalizando que o país está no caminho certo para enfrentar um dos maiores inimigos da sua economia.
Assim como a inflação, o câmbio paralelo — conhecido como “dólar blue” — também apresenta sinais de estabilização. A diferença entre o câmbio oficial e o paralelo, a chamada “brecha cambiara“, caiu para os níveis mais baixos em anos. Além disso, o governo tem desvalorizado o câmbio oficial a uma taxa controlada de 2% ao mês, preparando o terreno para a unificação das taxas de câmbio. Caso o “cepo cambiario” seja eliminado nos próximos meses, a moeda argentina pode finalmente encontrar alguma estabilização, encerrando a existência de múltiplas taxas de câmbio para diferentes setores da economia.
Outro avanço significativo está no equilíbrio fiscal. Pela primeira vez em anos, a Argentina registrou superávit fiscal por dez meses consecutivos, mesmo considerando o pagamento dos juros da dívida. O controle rigoroso dos gastos públicos é indispensável para evitar a emissão excessiva de pesos e, consequentemente, manter a inflação sob controle.
Esses esforços internos têm repercussões externas. O risco-país, um termômetro da confiança dos investidores internacionais, caiu para o menor nível desde o início do governo Milei. Em 2024, a Argentina liderou na América Latina em redução desse índice, com uma queda de mais de 50%.
Paralelamente, o governo tomou medidas para romper com o protecionismo econômico que sufocou o mercado argentino por décadas. Ao ampliar o limite de importações para US$ 3 mil e criar isenção para produtos de uso pessoal de até US$ 400, incentiva-se a competição no mercado interno e se facilita o acesso a bens de consumo. Em vez de restringir e encarecer produtos com mais protecionismo, o governo vai pelo caminho de mais liberdade econômica e estimula a atividade comercial de maneira prática e efetiva.
Não se pode ignorar que o nível de pobreza na Argentina permanece alarmantemente alto; é uma realidade que exige ação imediata. No entanto, culpar as políticas atuais por essa situação é fechar os olhos para décadas de populismo econômico que minaram os alicerces da economia.
Políticas como controle de preços, câmbio artificial e gastos públicos insustentáveis levaram o país a sucessivas crises. O ajuste promovido por Milei, embora difícil, é o único caminho viável para reverter o quadro e reconstruir a base econômica do país.
Analisar isoladamente o indicador de pobreza não faz sentido sem considerar que é consequência de números mascarados e distorcidos por políticas equivocadas de governos anteriores. É irreal esperar uma recuperação econômica imediata após anos de políticas equivocadas. A tendência mostra uma melhora consistente nos principais fundamentos econômicos: a inflação está em declínio, o câmbio dá sinais claros de estabilização, alcançou-se um superávit fiscal histórico e o risco-país está diminuindo. Javier Milei precisa se manter firme na implementação das reformas necessárias, mesmo que sejam impopulares no curto prazo.
A Argentina tem todas as condições para reverter o cenário de pobreza e recuperar o protagonismo econômico que já teve no passado. Depois de tanto tempo no buraco, com uma moeda que se tornou uma das piadas do sistema financeiro mundial, é hora de olhar para o futuro, evitar a tentação de recorrer ao populismo e confiar nas medidas em curso.
Leonardo Chagas é internacionalista pela UFRGS e consultor de investimentos CVM. É membro do Conselho do Instituto Atlantos e do Conselho Gestor da Rede Liberdade.