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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Peter, Parkinson e a Preguiça

Quem estudou burocracia na empresa ou no setor público, conhece o Princípio de Peter e a lei de Parkinson. Esta última diz que todo trabalho se estende até ocupar o prazo previsto para sua realização. Por que terminar em 2 dias se o prazo é de 4 dias? Se terminar antes em vez de eficiência, dirão que foi mal feito e a pessoa receberá novo trabalho. Melhor é terminar em cima da hora. Mostra o quanto foi difícil.

Para Lawrence Peter, todo indivíduo tende a ser promovido até atingir o limite de incompetência. Duvida? Observe quem empata tudo na sua empresa. Chegaram ao cargo em que estão porque foram competentes em outros cargos. Porém, ao atingirem o limite de incompetência, empacam e impedem o progresso de demais. O chefe não nota essas coisas por pura incompetência. Para a psicologia, é a tal “zona de conforto”. Todos querem mudar tudo, até chegarem nas respectivas zonas de conforto. Então empacam! Existe um outro nome para isso: PREGUIÇA. 

Mariá sempre foi preguiçosa. Nasceu de quase 10 meses, 18 dias após a irmã gêmea Maria. Por preguiça, demorou para chorar e dar sinal de vida. A parteira já estava ligando para o necrotério do hospital quando ela deixou escapar um pum fedorento que, por preguiça, nem barulho fez. Não há erro na frase acima. Por desconhecerem a gravidez dupla, os pais escolheram só um nome feminino. Mário Duprê quis que ambas fossem Maria, mas o escrivão acentuou o nome da caçula, Mariá. Eram bivitelinas, ou seja, não idênticas, o que ocorre quando dois óvulos são fecundados por espermatozoides distintos. Elas diferem em tudo e os parentes especulam que os espermatozoides talvez fossem de pais também distintos. A mãe nega, mas vai saber!

Maria é fraca de feição e a parteira quase deu um tapinha na cara em vez do bumbum. Super inteligente, enérgica e motivada, é estudiosa e tem memória fantástica. Mariá chama a atenção pela rara beleza. No entanto, se abre a boca, deixa claro que não tem qualquer outro atributo. No colégio, foi coroada duas vezes: Rainha da Primavera e Rainha da Preguiça. Para diferenciá-las, as amigas a chamavam Mariá Duprê Guiça.

O avô, deputado influente e preocupado com o futuro da neta sabichona feiosa e da burrinha linda, encaixou ambas no Serviço Público pelo regime de cotas. Ele criou a “cota de gêmeos bivitelinos” e como elas eram as únicas candidatas na categoria, ambas foram empregadas, mas uma delas deslanchou na carreira e a outra empacou: Maria, inteligente e cheia de iniciativa, propunha alternativas para aperfeiçoar o serviço, introduzir novidades e melhorar os indicadores de desempenho, enquanto Mariá só dedicava alguma atenção às tarefas que não precisavam ser feitas. Nunca fazia aquilo que outros poderiam fazer por ela mais tarde.

Diz o ditado: só erra quem faz. Como Mariá nada fazia, nunca errava, ao contrário da irmã cheia de iniciativa. Por não errar, Mariá teve promoções sucessivas e subiu na carreira sem fazer coisa alguma relevante. Nunca errou, nunca incomodou, e isso tem valor! Casou muito bem e virou influenciadora digital. Maria foi demitida por causa de avaliações ruins. Seus projetos elevariam o Serviço Público a níveis de primeiro mundo, mas exigiriam esforço dos superiores acomodados e dispostos a aniquilar a carreira de quem balançasse o barco e os fizesse trabalhar.

O pai queria um filho e a preguiçosa Mariá, para evitar um projeto com 9 meses de duração, “contratou” a irmã como barriga de aluguel. A fã da cantora deu à filha o nome de Maráia Carey da Silva, que herdou a beleza da mãe natural e a inteligência da tia, mãe de aluguel.

Ao ler para a pimpolha a fábula da Formiga trabalhadora e da Cigarra que levava vida sossegada e na preguiça, a tia lembrou-se de Woody Allen: vida e morte são como colonoscopia. A vida é o preparo, doloroso e incômodo; a morte é o exame e graças à anestesia, ninguém sofre. A fábula de La Fontaine não vingaria no mundo atual, onde as formigas trabalhadoras e oprimidas mal se sustentam e as cigarras ganham uma nota como MC, duplas sertanejas ou influenciadoras.

O consolo se Maria é saber que Preguiça é pecado capital. Suas atitudes proativas talvez lhe garantam a salvação, mas o preparo é longo. Vida que segue, numa boa para a rica e bela influenciadora Mariá e sofrida para Maria, pelo menos até a derradeira colonoscopia!

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

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