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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Paris – Poá: Olimpíadas complicadas

A abertura dos Jogos Olímpicos de Paris dividiu a opinião pública em três grupos: os que amaram, os que odiaram, e, o maior, os que não assistiram (os mais felizes). Não assistiram mas todos estão palpitando. O que ninguém notou foram alguns fatos envolvendo brasileiros.

Os mineiros Tóim e Nérso sonham, desde meninos, em participar dos Jogos, mas Pesca e Truco não são esportes olímpicos. Vieram para São Paulo, pularam de emprego em emprego e só se realizaram como empresários metropolitanos, vendendo bugigangas nos trens do Metrô. Conheceram as musas Edna Mitte e Aninha TNT, vizinhas de cafofo. Pressionados a assumir a relação, sonham com despedida de solteiro igual às dos filmes da TV, com strippers, bebidas e muita farra, mas a grana anda curta e as duas são muito desconfiadas.

Pela TV do Metrô, souberam que os Jogos de Paris contarão com milhares de pessoas no apoio, todos voluntários e de vários países. A ideia surgiu de repente: viajem fake para a Cidade Luz para a merecida folga do trabalho e das namoradas. Criaram fichas de inscrição falsas e ensaiaram o discurso para enganar Edna e Aninha.

É um tipo de missão, disse Nérso. Fomos selecionados para trabalhos voluntários como Relações Públicas em Paris, por conta da experiência com clientes no Metrô. Não há remuneração. Só passagem, hospedagem e ajuda de custos. Infelizmente não podemos levar acompanhantes, disseram às duas no encontro romântico no Habbib’s. Viajaremos 2 dias antes da abertura. 

A armação pareceu funcionar, mas elas são espertas e sentiram o cheiro de treta no ar. Eles pediram a conta e foram ao toalete, esperando que Edna e Aninha pagassem.

  • Dá para acreditar nesses dois? – perguntou Aninha.
  • Nadica de nada – respondeu Edna. Não conseguem nem rachar a conta das esfihas e mal falam português. Francês, então? Nem “mércy”!
  • E aí? Vamos desmascará-los?
  • Não. Tenho uma ideia melhor: meu patrão e um amigo, dois velhos tarados e ricos, vão a Paris de jatinho, assistir a abertura dos jogos. Querem dar um perdido nas esposas e me convidaram, mas só se levar uma amiga vadia. Se você topar, vamos depois e voltamos antes desses manés.
  • Já topei! Confirma lá.
  • Relações Públicas em Paris? Vão é catar cocô dos cavalos do Hipismo.

Elas pagaram a conta, demonstraram falso orgulho pela missão dos namorados, mas o que as animou foram as mini férias conjugais, aventuras e compras em Paris. Os dois partiram quinta-feira e as duas viajaram na sexta, pela manhã, no jato do rico empresário, patrão e amante de Edna. Tóim e Nérso nem saíram da Grande São Paulo. O destino foi o Cabaré Paris, numa chácara em Poá, onde reservaram 5 dias no Relax for Men, pescaria, truco e pão de queijo.

A chegada a Paris foi conturbada. O plano era pousar em Orly, onde os empresários tinham esquema armado, mas o voo foi alternado para o Charles de Gaule, com segurança rigorosa por causa dos jogos. Não houve moleza na inspeção, todos foram detidos e a carga foi apreendida. Na detenção, as duas ficaram desamparadas. Não falam francês e os empresários só dormiam.

  • Por que véio dorme tanto? – perguntou Aninha.
  • Tão treinando para a morte – respondeu a aborrecida Edna Mitte.

O pessoal de Orly, donos do avião e da carga, conseguiu desembaraçar a bagagem e liberar os ocupantes, que foram deportados. Edna e Aninha nem viram Paris, pois não saíram do aeroporto. Também não assistiram a abertura dos jogos pela TV, não ganharam os prometidos presentes e não compraram nada.

A sorte de Nérso e Tóim foi que Edna e Aninha ficaram longe da TV por vários dias. É que houve grande confusão no Cabaré Paris, a tal casa de tolerância, com arrastão seguido de incêndio. As cenas de casais pelados correndo pelas ruas para fugir de bandidos e do fogo rodaram o mundo. Até a polícia descobrir quem era quem, todos passaram duas noites detidos. Toím e Nérso não transaram, não jogaram truco, não pescaram e na delegacia não tinha pão de queijo.

Aninha e Edna chegaram no cafofo vizinho ao de Tóim e Nérso cansadas da longa viagem. Os dois estavam dormindo, exaustos e recém chegados de Poá. No fim da tarde, foram ao Habbib’s. Até parece que combinaram, pois ninguém abriu o bico sobre os acontecimentos em Paris e em Poá. Todos juraram fidelidade eterna.

Muitas frases de efeito explicam o ocorrido. Vinicius dizia que a vida é a arte do encontro, embora haja muito desencontro pela vida. Os americanos dizem que, às vezes, nenhuma notícia é uma boa notícia. Para Baise Pascal, o coração tem razões que a própria razão desconhece. Mas o real segredo da boa vida conjugal é manter a boca fechada. Ninguém se complica e, de quebra, não entra mosquito! Vida que segue.

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

3 COMENTÁRIOS

  1. Não sei o que a Melão & Cia. produzia, mas, como ele tem tato para produção de esterco é capaz de se dar bem no novo ofício.
    Suas crônicas são fantásticas e hilárias, Laerte. Obrigado por nos presentear com esses momentos de descontração.

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