A abertura dos Jogos Olímpicos de Paris dividiu a opinião pública em três grupos: os que amaram, os que odiaram, e, o maior, os que não assistiram (os mais felizes). Não assistiram mas todos estão palpitando. O que ninguém notou foram alguns fatos envolvendo brasileiros.
Os mineiros Tóim e Nérso sonham, desde meninos, em participar dos Jogos, mas Pesca e Truco não são esportes olímpicos. Vieram para São Paulo, pularam de emprego em emprego e só se realizaram como empresários metropolitanos, vendendo bugigangas nos trens do Metrô. Conheceram as musas Edna Mitte e Aninha TNT, vizinhas de cafofo. Pressionados a assumir a relação, sonham com despedida de solteiro igual às dos filmes da TV, com strippers, bebidas e muita farra, mas a grana anda curta e as duas são muito desconfiadas.
Pela TV do Metrô, souberam que os Jogos de Paris contarão com milhares de pessoas no apoio, todos voluntários e de vários países. A ideia surgiu de repente: viajem fake para a Cidade Luz para a merecida folga do trabalho e das namoradas. Criaram fichas de inscrição falsas e ensaiaram o discurso para enganar Edna e Aninha.
É um tipo de missão, disse Nérso. Fomos selecionados para trabalhos voluntários como Relações Públicas em Paris, por conta da experiência com clientes no Metrô. Não há remuneração. Só passagem, hospedagem e ajuda de custos. Infelizmente não podemos levar acompanhantes, disseram às duas no encontro romântico no Habbib’s. Viajaremos 2 dias antes da abertura.
A armação pareceu funcionar, mas elas são espertas e sentiram o cheiro de treta no ar. Eles pediram a conta e foram ao toalete, esperando que Edna e Aninha pagassem.
- Dá para acreditar nesses dois? – perguntou Aninha.
- Nadica de nada – respondeu Edna. Não conseguem nem rachar a conta das esfihas e mal falam português. Francês, então? Nem “mércy”!
- E aí? Vamos desmascará-los?
- Não. Tenho uma ideia melhor: meu patrão e um amigo, dois velhos tarados e ricos, vão a Paris de jatinho, assistir a abertura dos jogos. Querem dar um perdido nas esposas e me convidaram, mas só se levar uma amiga vadia. Se você topar, vamos depois e voltamos antes desses manés.
- Já topei! Confirma lá.
- Relações Públicas em Paris? Vão é catar cocô dos cavalos do Hipismo.
Elas pagaram a conta, demonstraram falso orgulho pela missão dos namorados, mas o que as animou foram as mini férias conjugais, aventuras e compras em Paris. Os dois partiram quinta-feira e as duas viajaram na sexta, pela manhã, no jato do rico empresário, patrão e amante de Edna. Tóim e Nérso nem saíram da Grande São Paulo. O destino foi o Cabaré Paris, numa chácara em Poá, onde reservaram 5 dias no Relax for Men, pescaria, truco e pão de queijo.
A chegada a Paris foi conturbada. O plano era pousar em Orly, onde os empresários tinham esquema armado, mas o voo foi alternado para o Charles de Gaule, com segurança rigorosa por causa dos jogos. Não houve moleza na inspeção, todos foram detidos e a carga foi apreendida. Na detenção, as duas ficaram desamparadas. Não falam francês e os empresários só dormiam.
- Por que véio dorme tanto? – perguntou Aninha.
- Tão treinando para a morte – respondeu a aborrecida Edna Mitte.
O pessoal de Orly, donos do avião e da carga, conseguiu desembaraçar a bagagem e liberar os ocupantes, que foram deportados. Edna e Aninha nem viram Paris, pois não saíram do aeroporto. Também não assistiram a abertura dos jogos pela TV, não ganharam os prometidos presentes e não compraram nada.
A sorte de Nérso e Tóim foi que Edna e Aninha ficaram longe da TV por vários dias. É que houve grande confusão no Cabaré Paris, a tal casa de tolerância, com arrastão seguido de incêndio. As cenas de casais pelados correndo pelas ruas para fugir de bandidos e do fogo rodaram o mundo. Até a polícia descobrir quem era quem, todos passaram duas noites detidos. Toím e Nérso não transaram, não jogaram truco, não pescaram e na delegacia não tinha pão de queijo.
Aninha e Edna chegaram no cafofo vizinho ao de Tóim e Nérso cansadas da longa viagem. Os dois estavam dormindo, exaustos e recém chegados de Poá. No fim da tarde, foram ao Habbib’s. Até parece que combinaram, pois ninguém abriu o bico sobre os acontecimentos em Paris e em Poá. Todos juraram fidelidade eterna.
Muitas frases de efeito explicam o ocorrido. Vinicius dizia que a vida é a arte do encontro, embora haja muito desencontro pela vida. Os americanos dizem que, às vezes, nenhuma notícia é uma boa notícia. Para Baise Pascal, o coração tem razões que a própria razão desconhece. Mas o real segredo da boa vida conjugal é manter a boca fechada. Ninguém se complica e, de quebra, não entra mosquito! Vida que segue.
Não sei o que a Melão & Cia. produzia, mas, como ele tem tato para produção de esterco é capaz de se dar bem no novo ofício.
Suas crônicas são fantásticas e hilárias, Laerte. Obrigado por nos presentear com esses momentos de descontração.
Sou eu quem agradece pelos comentários, amigo. Compartilhe por aí. Abraço.
Obrigado, Pascoal. Isso anima muito. Abs.