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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Churrasquinho

Quem vinha por aquela rua calçada, com certeza passava pela barraca de churrasquinho que ficava no passeio, encostada no muro de um terreno baldio. Era uma daquelas barraquinhas com a estrutura toda de barras de ferro que se encaixam para montar e coberta por um plástico preto grosso. Uma tábua de madeira que ficava apoiada em cima das duas laterais servia como balcão, onde ficavam a pequena churrasqueira a carvão preta feita em ferro fundido e algumas garrafas vazias de refrigerante e cerveja para mostrar quais eram as opções de bebidas, já que não tinha cardápio. No caso do churrasquinho, era de boca mesmo, tinha que perguntar.
Um senhor, que estava sempre de boné, fazia tudo sozinho: descarregava a mercadoria, as ferragens, os isopores e tudo mais, montava a barraca, preparava os churrasquinhos e atendia os fregueses. Ele trazia as coisas na sua velha Caravan e na carretinha que vinha engatada nela. Dizia que gostava do que fazia, gostava de trabalhar e que já tinha formado todos os seus filhos vendendo churrasquinho, não ficou rico, mas nunca faltou nada em casa. Dava para notar que ele gostava muito de conversar também, contava sua vida inteira e era cheio de histórias.
Da primeira vez que fui na barraquinha, eu ainda era criança e foi meu pai quem me levou. Foi mais ou menos assim:

– Opa! Tudo bom menino?
– Tudo bom, moço.
– Hoje o papai te trouxe, né?
– É.
– Boi, porco ou frango?
– Frango!
– Passa no vinagrete?
– Aham.
– Passa na “areia”?
– Areia no churrasco?
– É farofa! – respondeu meu pai rindo.
– Ah! Então pode. Bastante “areia”!
– Tá na mão! Coca?
– Quero.
– Taí, geladinha! Manda ver!

Foi o churrasquinho mais gostoso que eu já tinha comido e acho que até hoje ainda é. Ainda são 4 gominhos de carne no espetinho de madeira, a mesma churrasqueira, o mesmo vinagrete e a mesma “areia”. Eu fico rindo da reação das pessoas à pergunta “Passa na ‘areia’?”. Poucas coisas mudaram, a Coca deu lugar à cervejinha gelada e as histórias agora eram sobre o pai que trabalhou até o último dia da sua vida naquela barraquinha.

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