As redes sociais têm uma natureza dual para a sociedade, servindo tanto como uma plataforma conveniente para a troca de ideias quanto como um caminho imprevisível para a disseminação de notícias falsas em uma vasta população (ZHAO et al., 2018). As fake news, ou informações falsas, representam um desafio crescente na sociedade contemporânea, especialmente em um contexto digital marcado pela rápida disseminação da informação. Para compreender e combater eficazmente esse fenômeno, é essencial explorar os mecanismos que impulsionam a propagação de notícias enganosas, avaliar suas consequências e desenvolver estratégias capazes de mitigar a desinformação.
Os mecanismos de disseminação de fake news são multifacetados e frequentemente se beneficiam da dinâmica das redes sociais. Os algoritmos dessas plataformas desempenham um papel crucial, impulsionando o engajamento por meio de conteúdo sensacionalista, contribuindo assim para a disseminação de informações falsas. Além disso, as bolhas de informação criadas nas redes sociais, onde os usuários são predominantemente expostos a conteúdo que confirma suas crenças, facilitam a disseminação seletiva de fake news entre grupos específicos. O uso de bots e perfis falsos também é uma estratégia comum, automatizando a disseminação e amplificando a legitimidade aparente de tais informações.
As consequências da disseminação de fake news são profundas e abrangem desde desinformação generalizada até a polarização da opinião pública e conflitos sociais. A confiança em instituições e mídias tradicionais é minada, enquanto a reputação de indivíduos, organizações e até mesmo países pode ser prejudicada. A presença de fake news durante a pandemia de COVID-19 teve repercussões tanto na sociedade quanto na aplicação da lei.
No que diz respeito a tratamentos e curas da COVID-19, informações falsas muitas vezes promovem terapias não comprovadas ou teorias infundadas, levando as pessoas a adotarem práticas prejudiciais à saúde e dificultando a busca por tratamentos eficazes. Em relação à validade da vacinação, as fake news alimentaram teorias da conspiração e forneceram informações incorretas sobre vacinas, minando as campanhas de vacinação e contribuindo para a hesitação em se vacinar. Além disso, a manipulação de estatísticas e números, por meio da disseminação de dados distorcidos ou interpretados de maneira incorreta, cria um ambiente propício à confusão pública e à desconfiança nas autoridades de saúde e instituições responsáveis pela disseminação de informações epidemiológicas.
Um estudo realizado por Yeung et al. (2022) analisou 529 artigos sobre desinformação médica e relacionada com a saúde nas redes sociais. Os autores descobriram que os Estados Unidos contribuíram para metade dos artigos, com 80% das 10 instituições mais produtivas sediadas neste país. Isso corrobora com o fato da temática do combate às fake news estar presente na maior economia mundial, mostrando que esta prática deve ser estendida para o restante do mundo, em prol da veracidade das informações.
As fake news exercem efeitos prejudiciais tanto em indivíduos quanto na sociedade. A informação se propaga rapidamente pelas redes sociais, exigindo mecanismos para detectar e interromper a propagação de informações falsas. Portanto, a detecção oportuna de fake news surge como uma necessidade crucial e um problema desafiador (WAGHMARE, PATNAIK; 2021). A implementação de contramedidas, como contra-narrativas e inteligência artificial (IA), pode ajudar a mitigar as consequências desse impacto (GRANDON, 2020). Diante desse cenário, é crucial desenvolver estratégias de combate que abordem esses desafios complexos.
Essas plataformas têm a responsabilidade de implementar políticas rigorosas contra a desinformação, investindo em algoritmos para detectar e remover conteúdo falso, além de promover a alfabetização digital entre os usuários. Ao mesmo tempo, a mídia tradicional desempenha um papel vital na verificação de fatos e na desmistificação de informações falsas. Por meio do jornalismo investigativo e da verificação rigorosa de fatos, as organizações de notícias tradicionais têm a capacidade de fornecer ao público informações precisas e confiáveis, contribuindo para a construção de uma sociedade mais informada e resistente à propagação de fake news.
Ultimamente, a desinformação, incluindo conteúdo fabricado, emergiu como uma ameaça significativa à comunicação durante as fases imediatas e pós-desastres (AZIM et al., 2020). As abordagens predominantes desenvolvidas para lidar com a desinformação frequentemente se concentram no conteúdo das fake news ou nos atores mal-intencionados que as produzem. No entanto, o alcance da viralização das fake news depende em grande parte dos usuários que as disseminam. Obter uma compreensão mais profunda desses usuários pode contribuir significativamente para a criação de um quadro para identificar indivíduos propensos a propagar notícias falsas (KARAMI et al., 2021).
A educação e a alfabetização digital surgem como ferramentas poderosas na luta contra as fake news. Capacitar as pessoas a discernir entre informações verdadeiras e falsas, cultivando uma mentalidade crítica, é fundamental. A verificação de fatos, por meio de organizações especializadas, desempenha um papel essencial na identificação e desmascaramento de informações falsas. A transparência nas redes sociais, com a divulgação clara de algoritmos e práticas de moderação, pode contribuir para reduzir a disseminação de fake news. Além disso, a responsabilidade individual do usuário é crucial, exigindo a verificação da fonte, questionamento de informações duvidosas e conscientização sobre o impacto do compartilhamento irresponsável.
Em conclusão, enfrentar o desafio das fake news exige uma abordagem abrangente envolvendo iniciativas educacionais, esforços de verificação de fatos, transparência em plataformas digitais e conscientização individual. Somente por meio dessas medidas integradas a integridade da informação pode ser preservada e a sociedade fortalecida contra os impactos prejudiciais da desinformação.
Referências
Azim, S., Roy, A., Aich, A., & Dey, D. (2020). Fake news in the time of environmental disaster: Preparing framework for COVID-19. SocArXiv. https://doi.org/10.31235/osf.io/wdr5v.
Gradon, K. (2020). CRIME IN THE TIME OF THE PLAGUE: FAKE NEWS PANDEMIC AND THE CHALLENGES TO LAW-ENFORCEMENT AND INTELLIGENCE COMMUNITY. Society Register. https://doi.org/10.14746/sr.2020.4.2.10.
Karami, M., Nazer, T., & Liu, H. (2021). Profiling Fake News Spreaders on Social Media through Psychological and Motivational Factors. Proceedings of the 32nd ACM Conference on Hypertext and Social Media. https://doi.org/10.1145/3465336.3475097.
Yeung AWK, Tosevska A, Klager E, Eibensteiner F, Tsagkaris C, Parvanov ED, Nawaz FA, Völkl-Kernstock S, Schaden E, Kletecka-Pulker M, Willschke H, Atanasov AG. Medical and Health-Related Misinformation on Social Media: Bibliometric Study of the Scientific Literature. J Med Internet Res. 2022 Jan 25;24(1):e28152. doi: 10.2196/28152. PMID: 34951864; PMCID: PMC8793917.
Autora:
Mayrla Lima. Jornalista com mais de dez anos de experiência no mercado de trabalho, atuando em diversos segmentos da profissão como repórter, editora, produtora, social media, fotojornalismo, assessoria de imprensa e comunicação social. Formada em Comunicação Social – Faculdade São Luís- 2010 (Atualmente Faculdade Estácio). Sindicalizada no Sindicato de Jornalistas de Minas Gerais-BR, com carteira profissional Nacional e Internacional.
Ótimo artigo Mayrla, parabéns.