Passando pela casa da avó, certo menino tira de sua sacola uma tangerina, suculenta e laranja. Ele descasca o fruto devagarinho, saboreando ainda o vento sobre as maças de seu rosto, que, bagunçando os fios de sua cabeça, deixa-o levemente desgrenhado.
Com seus pequeninos dedos, ele termina de tirar a última camada protetora do alimento; suas mãos estão sujas de terra, ainda da brincadeira com Felipe. A terra, antes seca, agora se mistura com o suco da tangerina, que levemente arde os cantos de suas unhas. O menino tira o primeiro gomo, coloca em sua boca e fecha os olhos ao experimentar o sabor cítrico que preenche sua boca. Depois tira mais um, e o processo se repete. Até não haver mais nenhuma tangerina.
Ele joga as cascas no canto da calçada e continua seus passos até a entrada da casa de sua avó. Ao passar pela cozinha, o cheiro quente de café inunda o cômodo, fazendo-o respirar fundo e sentir um bem-estar nostálgico, apesar de sua pouca idade. — Por que não? — pensa ele. O garoto vai até a garrafa de café, recentemente enchida, e pede à avó um gole. A senhora recolhe a xícara mais limpa e bonita da casa e enche com uma bela dose da bebida.
O garoto deixa sua sacola na mesa da cozinha, afasta a cadeira e senta, enquanto bebe o conteúdo da xícara. O sabor doce e quente do café remove completamente os rastros azedos da tangerina. O quente e doloroso que remove o doce e azedo. O garoto deixa sua xícara na pia e sai novamente para a rua, afinal, Felipe o esperava. Pega novamente sua bola antiga, arremessa para o amigo e vai para sua posição. Ele só não contava com uma coisa… o efeito de sua recente mistura.
Este texto retrata um momento de inocência e prazer simples na vida de um menino, imerso em uma tarde na casa da avó. As experiências sensoriais e a mistura de sabores refletem a riqueza dos pequenos momentos da infância.
Autora:
Gisélia Oliveira
Excelente crônica Gisélia, parabéns!