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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

A busca pela chama perdida

Ao ver Caio saindo por aquela porta, Ana sentiu que seu mundo havia desmoronado. Era evidente a bagunça que ficou  dentro dela por conta da falta que ele ia fazer.

A instabilidade emocional tomou conta dela e tudo que ela havia planejado em ser “para sempre” desapareceu por completo. Ela não tinha mais a presença de Caio em sua vida e tudo havia ficado sem sentido.

Mas, que sentido ele dava à vida dela? Por que ele era tão importante? Por qual motivo ela se sentia tão emocionalmente dependente de Caio?

Lembrou-se, então, dos doces momentos em que vivera ao lado dele, das pequeníssimas coisas que fizeram se tornar realmente especiais: de quando ele cuidava dela quando ia dormir; dos remédios que ele dava à ela para que ela não se esquecesse; das rosas roubadas nos jardins das vizinha e entregues para ela; das vezes em que ela queria dormir e ele a mimava de todas as formas, cobrindo-a e colocando todos os travesseiros ao redor dela para que se sentisse aconchegada ao dormir; das comidas feitas com tanto amor e dedicação pensando nela.

Eram tantos mimos que Caio dava à Ana, mas, algo se perdeu no caminho.

Por mais que ele fosse um homem extremamente presente, preocupado com ela e à sua disposição, Ana sentiu que aquilo tudo que era dispensado à ela ainda era pouco.

Cansada de tanto chorar, Ana foi para seu quarto e  entre um soluço aqui e ali, tentava se aninhar em sua cama para tentar dormir, ficou olhando para a fotografia de Caio no porta-retrato. Ela amava aquele homem maravilhoso de outra forma. Não com uma paixão avassaladora, mas como um ser humano digno de amor; não com volúpia, mas com respeito e preocupação; não com a falta constante de ar por estar nos braços dele, mas com a alma; não com um frio na barriga, mas como cúmplice.

O amor que ela sentia por ele era insubstituível. Diria que era único, mas não havia o desejo que uma mulher sente por um homem.

Ela sentia-se protegida ao lado dele. Sentia que ele era seu porto seguro, que a vida dela sem ele seria vazia e sem graça, mas, o sentimento que ela tinha por ele estava longe de ser um terremoto. Era sublime, calmo, pacífico.

Mas, ela não queria apenas sentir esse amor. Ana não queria mais viver apenas com o seu melhor amigo, confidente de todas as horas. Ela queria mais: queria sentir seu corpo trepidar ao ser tocada; estremecer ao sentir a boca dele em sua nuca; ficar em êxtase quando ele apenas olhasse para ela; sentir vergonha de estar sendo cortejada e enrubescer quando viesse algum elogio dele para ela; queria ter mais que um esposo que sai pra trabalhar e que tinha cuidados com ela; queria que fossem uma alma só; queria se perder em seus braços e sentir os afagos dele sem que ele quisesse nada em troca; queria sentir a respiração dele se confundindo com a dela.

E ela percebendo que tudo o que queria nunca teria ao lado dele, virou-se de lado, enxugou suas lágrimas e tentou adormecer na tentativa de esquecer que, de alguma forma, havia perdido um grande homem, mas que, infelizmente, não era responsável por lhe proporcionar borboletas no estômago.

Patricia Lopes dos Santos
Patricia Lopes dos Santos
Trabalho num Conselho de Fiscalização Profissional há mais de 30 anos, sou Autora do livro "Memórias de uma depressiva", mãe de Sofia, Duda e Átila e me aventuro na escrita, onde me encontro totalmente.

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