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domingo, 16 de junho de 2024

Janeiro branco: Como excesso de tempo livre afeta negativamente a saúde mental dos jovens

Em dezembro de 2023, uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 10,9 milhões de jovens brasileiros, de 15 a 24 anos, não possuem uma ocupação fixa, seja ela de cunho educacional ou profissional. Ou seja, um em cada cinco jovens está inserido no chamado grupo “nem-nem” — nem estuda e nem trabalha.

O período da pandemia, que endossou a evasão escolar, a falta de oportunidades de trabalho e a substituição da vida escolar pelo cuidado doméstico e familiar, são alguns fatores, entre tantos, que podemos analisar para explicar como e por que a juventude brasileira caminha a este triste cenário. A troca da sala de aula por afazeres domésticos é o fator mais comum entre as jovens mulheres que, normalmente, são mais acionadas para o cuidado com o lar, assim como, costumam ser integralmente responsáveis pelos filhos, após uma gestação precoce e inesperada. Prova disso, é que a pesquisa destaca que 47,8% deste grupo, são mulheres pretas ou pardas.

Quando afastado do âmbito educacional o jovem perde o contato com um ambiente que promove convívio junto a pessoas da mesma faixa etária, fora do contexto familiar, tornando possível o compartilhamento de interesses, medos e expectativas, além de vivências em comum. A falta de contato e de identificação social pode provocar uma sensação de isolamento e solidão, que é prejudicial à saúde mental e ao bem-estar. Sem contar a perda dos conhecimentos e bagagem adquiridos na rotina escolar, que certamente irá prejudicar no ingresso ao mercado de trabalho, desencadeando o sentimento de frustração, podendo afetar a sua autoestima e autoconfiança.

No ambiente escolar que o processo de desenvolvimento de aptidão é iniciado, é o momento que é possível identificar quais são as áreas de mais interesse e onde encontra maior dificuldade. Quando o jovem pula essa etapa acaba perdendo a possibilidade de um desenvolvimento pessoal pleno e saudável. A falta do autoconhecimento pode levar o jovem a chegar na fase adulta sem perspectiva, ambições e expectativa de vida. E essa falta de objetivos claros e metas, pode levá-los a se sentirem perdidos, desmotivados e, até mesmo, sem saída. Uma combinação tóxica e altamente perigosa para a sua saúde mental.

As horas ociosas e a falta de uma ocupação de qualidade pode contribuir no desencadeamento de sintomas de depressão e ansiedade. Ao dedicar o tempo ocioso às redes sociais, onde é comum que haja comparações, principalmente com influenciadores digitais, que aos olhos do público têm uma vida perfeita, pode gerar a sensação de insuficiência e descontentamento com a própria realidade, aparência e condição social. Nesse contexto de ociosidade em frente às telas, temos uma outra armadilha em ascensão: os jogos de azar e casas de apostas online. Com a promessa de uma renda extra e fácil, o que na maioria das vezes não acontece, essas ferramentas viciam e causam uma sensação de frustração constante, em um looping de expectativa e decepção, impactando pejorativamente a saúde mental de quem as utiliza.

Todas essas questões associadas, são uma bomba relógio na mente da juventude brasileira. Por isso, é preciso um esforço conjunto, onde a juventude queira, procure, se interesse pelo caminho da educação e inserção profissional e, a sociedade, colabore na criação de oportunidades e incentive os novos talentos a permanecerem ou retomarem essa jornada, que é a mais saudável, promissora e que, certamente, os levará mais longe.

Autora:

Wandreza Bayona é diretora executiva do Ser+, que desde 2014 atua na criação e desenvolvimento de oportunidades para a juventude, formada em Serviço Social pelo Centro Universitário FMU, com especialização em responsabilidade social corporativa e terceiro setor pela universidade FIA (Fundação Instituto de Administração) e LDR pela Saint Paul. Possui mais de 20 anos de experiência na área de Responsabilidade Social Corporativa, com foco em desenvolvimento e implantação de programas de RSC.

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