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sábado, 16 de novembro de 2024

Janeiro Branco

Temos aí o Janeiro Branco, escolhido como o mês da atenção, prevenção e cuidados com a saúde mental. Haveria muita, muitíssima coisa a conversar sobre isso, onde talvez se devesse começar pela crise atual da Psiquiatria (hiperdiagnose, mão pesada das Big Pharma, esquecimento da Psicopatologia, psiquiatria tipo “checklist”, etc. etc.), mas deixemos para um segundo momento. 

Em vez disso, vamos falar do que interessa de forma mais direta para as pessoas. Assim, um dos maiores problemas que vejo quando se fala em saúde mental é, ainda, o preconceito. E, a reboque ou como causa do preconceito, vem uma dificuldade comum entre as pessoas em entender minimamente aquilo que chamamos de “psicológico”. Darei um exemplo simples e prático. Há alguns anos atendi uma senhora que se encontrava em depressão grave. Ao final da consulta, perguntei se ela aceitaria que eu conversasse com o marido dela também. Faço isso rotineiramente, pois via de regra os familiares trazem informações importantes, principalmente quando o diagnóstico ainda não está claro. Ela permitiu e eu o chamei para dentro da sala. Ele disse uma coisa ou outra e em seguida: “Sabe, doutor, ela é uma mulher que tem tudo na vida, não precisa de nada… Se ela morasse na periferia e tivesse um tanque de roupa suja pra lavar, não tinha nada disso… Se fosse comigo, eu vencia isso tudo na base da força de vontade…”. Aí está: ignorância produzindo preconceito. Fiquei perplexo com o que ouvi e com a descarga de violência emocional sobre aquela infeliz senhora. Esse tipo de postura, infelizmente, é muito comum. Portanto, para superar essa herança cultural antiga e cuidarmos daqueles que sofrem transtornos mentais, é necessário esquecer a tal “força de vontade”. Uma pessoa em sofrimento mental, seja depressão, ansiedade, estresse ou psicoses, fica prisioneira desse estado, que é muito maior do que a “força de vontade” ou qualquer outra boa intenção consciente. Essas pessoas precisam de atenção, tolerância e acolhimento e, se necessário, serem levadas a um profissional especializado. (Para finalizar, embora não seja foco deste artigo – mas tem a ver com saúde mental – vale a pena lembrar que a vida de muitas mulheres não é nada fácil!…)

Autor:

Dr. Estevam Vaz

@estevamvazdelima

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