Descobertas sugerem ter Michelangelo reproduzido o maior tesouro do Cristianismo
O designer especialista Átila Soares da Costa Filho publicou esta semana em seu site um estudo sobre as implicações do Santo Sudário de Turim na obra de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), um dos maiores gênios da Renascença e da Humanidade. No artigo publicado (em italiano), Átila confirma uma série de elos entre, segundo ele, “o maior artista sacro da história e a maior das relíquias sagradas” – cuja associação tem sido, há séculos, “injustificável e estranhamente desprezada nos meios acadêmicos, tanto nos estudos teológicos quanto na História da Arte”. Para maiores informações, acesse ao texto na íntegra:
Em um destes indícios, o acadêmico, natural do Rio de Janeiro, revela uma surpreendente semelhança entre o rosto de Cristo retratado em duas versões da “Pietà”, com aquele estampado no Sudário. Segundo Átila, “uma imensa compatibilidade entre os rostos de Cristo nas ‘Pietàs’ Bandini e Rondanini falam por si só: Localizei várias analogias e evidências entre a obra de Michelangelo (com discípulos) e as características aparentes e simbólicas da Mortalha. O espantoso , na verdade, seria se o mundo de Michelangelo nunca tivesse cruzado com a existência desta que é, de longe, o maior dos artefatos sagrados da História Cristã”, conclui o autor da descoberta.
O SUDÁRIO DE TURIM É O CENTRO DA PIETÀ
Não nos pode passar despercebido que a inclusão do Sudário – de forma mais ou menos explícita – acabou sendo uma constante na obra de Michelangelo, tendo em vista o nível de atenção que o artista dera à temática do Cristo morto. Assim, na icônica “Pietà Vaticana” (1499), o lençol se faz presente justamente no meio da composição, entre as coxas de Maria e Seu desfalecido filho sobre seu colo. Ademais, Michelangelo produziu, ao todo, quatro versões sobre a temática, e em cada uma pode-se achar alguma característica a evocar diretamente o Santo Sudário – excetuando-se a versão de Palestrina, não muito evidente. Então, para além do lençol na “Pietà Vaticana”, duas das outras três variantes trazem o rosto de Cristo como altamente similar ao da relíquia. É importante deixar claro que os modelos de mãe e filho vistos na versão “Vaticana” seriam Giovanni Borgia (recentemente assassinado aos 23 anos, em circunstâncias nunca esclarecidas) e sua mãe, Vannozza Cattanei, amante do Papa Alexandre VI.
De 1547, a “Pietà Bandini” havia sido encomendada por Francesco Bandini e traz o autorretrato de Michelangelo como Nicodemos, a sustentar o corpo sem vida do Messias. O escultor e arquiteto Tiberio Calcagni (1532–1565) fora comissionado para restaurar as (habituais) marcas de fúria com que Michelangelo havia despejado sobre o mármore na imponente obra. Traduz uma atmosfera mais espiritual e dramática, tendo em conta a idade avançada de seu autor, e hoje está situada no Museo dell’Opera di Santa Maria del Fiore, também Florença. A “Pietà Palestrina” foi produzida pelo artista em mármore e pertencia à família Barberini, datando provavelmente do ano de 1556. Aqui, traz o instante exato entre o desprendimento do corpo de Cristo da cruz e seu recebimento por parte da mãe e seguidores – algo revolucionário na Arte da Escultura até então. Como mencionado, é a única versão a carecer de maiores conexões com a Face Sagrada. Localizava-se ao lado da igreja de Santa Rosália, Palestrina e, atualmente, faz parte das coleções da Galleria dell’Accademia, Florença.
Finalmente, também em mármore, a “Pietà Rondanini” começou a ser esculpida em 1552 e manteve-se inacabada com a morte de Michelangelo em 1564. Curioso que, além de uma aproximação maior ao gótico – pela escolha de se representar a dor, e não a beleza -, nesta versão o Filho está a amparar a mãe, quando vistos de costas. Entretanto, Michelangelo também prefere projetar o corpo de Cristo do próprio corpo da mãe – como se esta estivesse tentando, em desespero, reanimá-lo. Assim, novamente, a perfeita simbiose entre as duas pessoas… a mesma carne. Ainda que semi-inacabada, a compatibilidade do rosto de Jesus na escultura com o da mortalha é clara. Esta obra derradeira e, de certa forma, assustadora de Michelangelo pode ser encontrada no Castello Sforzesco, Milão.
O Santo Sudário de Turim também é costumeiramente apresentado no tema da “Deposição de Cristo”, realizada com base no projeto preparado por Michelangelo e produzido por alguns de seus seguidores, como Jacopino del Conte e Marcello Venusti.
Professor Átila Soares da Costa Filho é bacharel em Desenho Industrial e pós-graduado em Filosofia, Sociologia, História da Arte, Arqueologia, Patrimônio, História e Antropologia. Atualmente integra o Comitê Científico na “Fondazione Leonardo da Vinci” (Milão), na “Mona Lisa Foundation” (Zurique) e no projeto “L’invisibile nell’Arte” do “Comitato Nazionale per la Valorizzazione dei Beni Storici, Culturali e Ambientali” (Roma).
Cf. www. https://professoratilasoares.weebly.com
Autora:
Átila Soares da Costa Filho