Lá na roça, água de beber é na moringa. De manhã cedo, já tem que ir buscar na bica da mina d’água. Ela sai tão geladinha e é tão pura que não dá para resistir, já juntamos as mão em forma de concha (como as de feijão, não as do mar) e levamos até a boca. É uma água que tem até sabor, mas não como as aromatizadas, é o sabor da terra e das pedras pelas quais ela passou no seu caminho até o pedaço de cano que alguém adaptou ali várias décadas atrás. Sempre escorre um pouco pelo queixo, descendo pelo pescoço até o peito, é uma sensação muito gostosa e refrescante.
Com a moringa já cheia, é hora de levá-la de volta para a casa. Dá para sentir que ela ficou gelada quase que instantaneamente e úmida por fora. É o barro, material do qual é feita, recordando suas origens, ele é quem vai manter a água por bastante tempo naquela temperatura natural, fresca, quase gelada e realçar o leve sabor de terra. O lugar daquela maravilhosa “garrafa”, tampada com um copo, também feito de barro, é em cima da mesinha de canto da sala, onde ficavam mais um copo, este de alumínio, uma caneca esmaltada e uma garrafa de café, daquele cheiroso, colhido, torrado e moído ali mesmo e adoçado com açúcar mascavo.
É bem comum um vizinho aparecer para prosear e tomar um cafezinho com biscoitos de polvilho e de araruta, broa, queijo e pão, tudo feito em casa. Fala-se sobre a família, o filho que foi morar com a tia na cidade para estudar, sobre as colheitas, a chuva, o sol, as vacas que dão mais leite, o riacho que corta as terras de um ou de outro e tudo que é assunto que for aparecendo. Esse papo pode durar muitas horas e só terminar com o sol já sumindo lá longe no horizonte.
Quando começa a escurecer, é hora de ir embora, pois ainda dá para enxergar o caminho de volta para casa pela estradinha de chão batido. Fica um “obrigado pelo café e pela prosa”, um convite para “ir lá também um dia” e um sentimento de pena pelo dia estar acabando. Na roça, a despedida parece ser mais triste porque sempre vem depois de uma alegria que também é bem maior.