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segunda-feira, 17 de junho de 2024

Gerúndio

Ainda preciso assimilar o que foi esse ano.

Senti paz, liberdade, mas também se revelou amedrontador, desesperador, triste, pelo menos estranho.

Nunca estive tão à beira da loucura e a ponto de largar tudo, tampouco houve qualquer outro período na minha vida que me despedi de tanto: estilos; pessoas; modos de pensar; prazeres efêmeros que se tornaram fúteis.

Por mim, faria tudo novamente e viveria como se fosse o último, porque sempre é, já que ano que vem será diferente e o velho fala de algo que já passou.

Choraria novamente, mostraria-me incapaz; consideraria-me orgulhosa cairia em desespero após saber que era mentira.

De novo, de novo, de novo e mais uma vez.

Levo comigo todos os restos mortais de minha insanidade e ações, mas saberes novos; daqueles que só se encontram nos capítulos de cada dia: sobre corpo; intuição; caminho e expectativas.

Tudo, absolutamente tudo, só aprendi vivendo e experimentando, tendo a coragem como guia e o medo como uma porta a ser aberta.

Porta que só saindo de casa para encontrá-la, embora nem todas possam ser escancaradas; mas estive lá tentei e me frustrei tantas vezes em tantos aspectos, como uma boa ser humana.

Nem só de causos novelísticos eu vivo, também esse ano daria um bom standup.

Ri, como se tudo pudesse voltar ao jeito que quero. Ri como se fosse catastrófico rir, como se mudasse o mundo e não ri sozinha; tive tantos amigos que conheci por perto, graças às desgraças que nos aproximaram (e quanta graça nelas!). Sei que rirei das mesmas piadas, sempre que lembrar.

Contudo, não aguardo a virada de ano para fazer novas resoluções ou tornar-me algo imutável e admirável.

A dinâmica da mudança já me ocorre e nem percebo. Ocorre contigo também e você só perceberá quando realmente quiser se dar conta e só vai ter final quando a gente morre. Às vezes persiste até depois.

Deixamos rastros a cada passo e ocasionalmente somos lembrados por coisas que já até esquecemos ou sequer percebemos.

Então, apesar dos pesares, foi um ano carregando bagagens e deixando outras no meio do caminho.

Emocionando, aprendendo, duvidando, alcançando, errando, abandonando, conhecendo, cansando, descansando, vivendo; porque a vida é esse grande gerúndio.

E continuamos nossa rota até onde a gente pode chegar, ano após ano, dia após dia, caminho após caminho.

Só Deus sabe os desafios que nos esperam à beira da estrada.

Autora:

Marize Teixeira Vitório 

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