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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Sopa de Martelo

Há algum tempo, mas nem tanto, quando uma criança estava com anemia, fraqueza, tontura e pálida, os avós e bisavós logo “receitavam” feijão feito na panela de ferro, juntamente com pregos, de preferência enferrujados. Toda família tinha alguém que sempre contava: “- Isso vem de muito tempo, passou de geração pra geração, é a sabedoria dos antigos. Funcionou com todo mundo da família, seu tio mesmo era uma criança cheia de problemas, agora olha o tamanho do homão, olha como cresceu e ficou forte!”.

Na minha família, não era diferente, digo, era sim, porque o princípio era o mesmo, mas a receita era bem diferente, nós tomávamos a famosa Sopa de Martelo da família. Todo mundo lá em casa já tinha tomado. Todo mundo conhecia e tinha medo daquele martelo velho que era até alaranjado de tanta ferrugem. Ele ficava pendurado lá no fundo da garagem, era muito antigo e foi passando de geração para geração, “curando” todo mundo.

A receita da sopa não era muito difícil, o martelo e algumas batatas eram obrigatórios, pois ele soltava a ferrugem e elas a “chupavam” e acumulavam para depois serem comidas e levarem o ferro para dentro do organismo, assim como o caldo, que era a água suja de ferrugem. Os demais ingredientes poderiam ser qualquer coisa que tivesse na despensa ou na geladeira: cenoura, cebola, abóbora, carne de ontem, ovo cozido cortado em rodelas. Não tinha restrições, tudo e qualquer coisa que ajudasse a disfarçar aquele gosto horrível era bem vindo, mas não adiantava, nada disso funcionava.

Naquela época não se sabia muito sobre o que causava as doenças e como se prevenir. A friagem, por exemplo, era um dos piores males que existiam. Tudo era causado por ela. Não se podia sair na friagem, muito menos se estivesse com os cabelos molhados, nem andar descalço no chão frio para não gripar, se gripasse, com certeza a culpa era dela e era “bom para aprender a obedecer e não sair na friagem”. Tudo era meio que intuitivo, por dedução e por similaridade, por isso, tal como o frio causava uma gripe, a febre era tratada com banho gelado e a falta de ferro era tratada com ferrugem. As pessoas tinham mais medo dos “remédios” do que dos sintomas das doenças.

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