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segunda-feira, 9 de junho de 2025

DESTITUINDO OS HERÓIS: o ponto de vista humanitário da chacina em Jacarezinho

Uma operação da Polícia Civil do RJ contra o tráfico de drogas no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, deixou 25 pessoas mortas e provocou um intenso tiroteio no início da manhã desta quinta- feira (6), podendo por muitos ser descrita como uma das operações policiais mais erradas da história do RJ, ou melhor uma chacina ao ar livre. Até que ponto nos venderemos e viveremos reféns de órgãos constitucionalmente instituídos para nos proteger? Porque a polícia se denomina estar em posição de tirar vidas, como vem fazendo por anos e anos sem alguém se opor? A verdade é que a polícia é reflexo de um sistema corrupto e falido desde a sua instituição, nosso problema vem desde a construção da nação em cima de escravidão, roubo, estupro, e muito, mais muito horror. Infelizmente hoje, o policial é só um coitado que não tem opinião própria, não se engane os crucificando apenas, a guerra é contra algo muito mais destrutivo e caótico, o Estado.

Quando nós tratamos de policiais, tratamos de fantoches fardados, que estão ali estritamente para cumprir ordens, como se fossem um bando de seres selvagens e primitivos que se tornam incapazes de ter discernimento dos atos que praticam no meio social e o reflexo disso. Uma celebre frase do grande mestre José Padilha, dita por Wagner Moura no papel do Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2 representa muito bem esse momento que estamos passando: “Agora me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso? (pausa) É… e custa caro. Muito caro. O sistema é muito maior do que eu pensava. Não é à toa que os traficantes, os policiais, os milicianos matam tanta gente nas favelas. Não é à toa que existem as favelas. Não é à toa que existe tanto escândalo em Brasília, que entra governo, sai governo e a corrupção continua. Para mudar as coisas, vai demorar muito tempo. O sistema é foda. Ainda vai morrer muito inocente.”

A questão não é que os direitos humanos defendem os bandidos não, não seja tão ignorante a ponto de pensar em algo tão raso e sem fundamento para um conflito social de tamanha dimensão. Se trata do simples fato de vocês que se julgam os “heróis”, os “defensores da lei”, rasgarem a constituição que vocês dizem defender. Vide exemplo o artigo 5º, caput, da Constituição Federal de 1988 sobre o princípio constitucional da igualdade, perante a lei, nos seguintes termos: “Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.”

E cá entre nós: Que dia um negro dentro de uma favela tem o mesmo tratamento de um playboy bem aparentado da zona sul? Partindo desse pressuposto, os desiguais deveriam ser ainda mais bem tratados aos olhos do princípio da isonomia, afinal o princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual: “Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades”. (NERY JUNIOR, 1999, p. 42).

A verdade é que, assim como o sistema como um todo, a polícia é um órgão hipócrita, sujo e desnecessário. O policial hoje sai na rua como se fosse um juiz, um promotor e um “Deus”, ele se julga “poderoso” o suficiente para definir quem vive e quem morre. Claro, que sempre de acordo com os estritos interesses pessoais dele.

O estado não é e nunca foi um mal necessário, como infelizmente Hobbes aduziu em sua teoria. A sociedade pode sim se unir e diminuir o tamanho do Estado gradativamente conforme o nível moral, social e cultural vai se elevando até que a gente consiga quebrar todos os paradigmas e imposições criadas pelo Estado. O certo e o errado sempre estiveram no coração de cada um. Até porque se o Estado funcionasse não precisaria ter polícia e cadeia, uma vez que as pessoas estariam sempre obedecendo o comando. A gente não precisa se vender de um modo tão miserável para esses porcos corruptos.

Afinal tudo sempre se tratou do que Norberto Bobbio aduziu celebremente em uma de suas epifanias: “acabar com a política é acabar com a coação e não acabar com qualquer organização social.” Até quando aceitaremos o fato de o sistema e todos seus órgãos instituídos se colocam em posição hierarquicamente superior a todos vocês, quando na verdade eles deveriam cuidar de você?

Certo dia estava deitado na rede em casa e li uma frase que me cativou muito de certo modo: “Ninguém é mais do que ninguém. Cada pessoa é uma estrela e todas estrelas são iguais.” Acho que se trata muito disso. Humanidade, justiça, moral e principalmente um pouco de amor ao próximo.

Autor:

Reinaldo Montanari

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