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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Fim do mundo

Fim do mundo, era assim que algumas pessoas qualificavam o lugar onde nasci. Uma vila com menos de 300 pessoas, longe de tudo . Era um lugar quase esquecido, lembrado somente por habitantes locais.

Mas era o meu mundo, o meu começo, onde dei meus primeiros passos, vivenciei toda a minha infância,lugar que me fez amar a natureza, respeitar e admirar -la, e para mim, era o início do mundo.

Vi animais, me alimentei de peixe e farinha, e de todas as iguarias amazônicas. Escutei as histórias mais cabeludas, histórias de pescadores, e eu acreditei em todas. Senti a energia da natureza de perto, aquela tranquilidade e o silêncio que me traz paz. Acordava com os cantos dos pássaros, longe do barulho e das distrações urbanas, com o ar fresco e puro.

Acreditei no Curupira, o protetor dos animais e das florestas. Para mim, a lenda do boto era uma história verídica. Ouvi os indígenas conversando entre si, embora não compreendesse a língua deles. Presenciei rituais indígenas, e observei a cultura do escambo, algo que ainda existe.

Vi cobras grandes. Me arrisquei na pesca, andei de canoa e de barcos, atravessei rios, tudo isso sem saber nadar, embora tivesse a oportunidade de pular em um rio ou igarapé. Tomei banho de chuva, andei na lama sem medo de me sujar. Subi em árvores para colher jambo, vi o pôr do sol em meio à natureza, o silêncio quase total, ouvia o som dos grilos cantando, ou pelo menos, eu acreditava que eram cantos. Vi vagalumes, não apenas um, e eles não eram tão raros, não naquele lugar.

À noite, observava de longe a escuridão da floresta. Olhava para o céu e via a escuridão aparecer no horizonte, e, depois surgiam pontos de luz, estrelas que variavam em tamanho, cor e brilho. Olhar para aquela imensidão era o que me fazia acreditar em sonhos distantes, e emergir em meu peito uma esperança, uma positividade surreal, como em sonhos de criança.

Aquele lugar carrega histórias, moradores que vivem da pesca da caça, sem muita alternativa, se tem, bom, se não tem não podemos fazer nada.

Aquele lugar tem histórias de famílias que resolveram procriar e formar uma comunidade de grandes famílias, a junção de indígenas, colombianos e pessoas não nativas, uma mescla de experiência e cultura.

Esse lugar guarda a minha história, uma história repleta de lembranças da minha infância. É onde eu costumava correr e brincar, onde eu às vezes tropeçava e machucava o joelho, mas logo estava de pé novamente. Lembro-me vividamente dos dias em que finalmente a andar de bicicleta, aprendi a sensação de liberdade e independência que isso me trouxe.

Este é o lugar de onde todas as manhãs saía em direção à escola, com a mochila às costas, cheia de expectativas para o dia pela frente. E também é onde encontrei amigos verdadeiros, alguns que encontraram ao meu lado ao longo dos anos, outros que entraram e saíram da minha vida, mas todos eles deixaram marcas preciosas em meu coração.

Essas ruas, essas árvores, essas casas, cada cantinho deste lugar conta uma parte da minha história, um capítulo da minha vida. E, à medida que caminho por aqui, relembrando todas essas memórias, sinto uma profunda gratidão por todas as experiências e lembranças que este lugar me proporcionou e que hoje levo no coração.

Autora:

Natalia Paixao De Castro 

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