Era por volta das vinte horas quando Caio ouviu tocar uma buzina em seu portão.
Sonolento, espreguiçou-se e levantou-se da cama e quando olhou pela janela viu seu tão estimado amigo que vinha todas às sextas vender seus deliciosos queijos.
Com o sorriso de canto a canto da boca, Chico acenava para Caio e ele retribuindo o aceno, desceu as escadas de casa para receber o amigo.
Ao abrir o portão de sua casa, Caio se deparou com a costumeira alegria daquele senhor tão gentil e carismático que sempre recebia Caio cobrando um abraço.
Ele não vendia apenas queijo, ele vendia alegria, amor, carinho. Tudo misturado.
Suas guloseimas eram de salivar e Caio era seu cliente assíduo e, como diziam as más línguas, cliente de caderneta.
O encontro de Caio com o Chiquinho do Queijo, como era mais conhecido pelos seus clientes, era de uma resenha sem igual. Falante como ele só, Chiquinho expunha suas opiniões, de forma simples e singular, sobre todos os tipos de assuntos que Caio se propunha a falar.
A conexão entre os dois era da mais pura alegria. Cada um com suas conjecturas, tentava expor seus pensamentos sobre política, família e outros assuntos e só agregavam conhecimento um ao outro.
Chiquinho, de uma simplicidade sem igual, já era de casa. Entrava na casa de Caio sem cerimônia e se servia dos próprios queijos que vendia acompanhado do café feito com todo carinho por Ana, a esposa de Caio.
Os dois proseavam por horas a fio e faziam com que Chiquinho fosse recebido na casa de Caio com todas as pompas que tinha no momento. Às vezes Chiquinho dava a honra de jantar com eles, outras ele só tomava o cafezinho e em outras ele não entrava, ficava no portão conversando e com a alegria que era seu cartão de visita.
Caio tinha muito respeito por Chiquinho e adorava suas visitas por trazer não apenas a sua presença como daqueles queijos e doces suculentos que trazia na carroceria de sua moto.
Quem olhava para Chiquinho na rua, nunca imaginava o quanto ele era uma pessoa especial. Sua docilidade e amabilidade em tratar as pessoas era de massagear o coração.
Chiquinho demonstrava a todo momento o carinho que sentia por Caio e dificilmente saía da casa de Caio sem deixar algum produto seu, mesmo que fosse para pagar na próxima encarnação. Persuasivo como ele só, fazia amizades com a maior facilidade do mundo e isso o ajudava, e muito, na venda de seus produtos.
Às vezes, quando se despedia de Caio e Ana, Chiquinho, que era muito religioso, colocava Deus em suas despedidas e, sempre que podia, fazia orações para a família de Caio. A fervorosidade de suas orações acalmava o coração de Ana e fazia com que ela se sentisse ouvida naquelas orações feitas por Chiquinho.
Ele não era apenas um vendedor de queijo, era um senhor que trazia carinho e esperança todas as vezes que dava a honra de sua visita na casa de Ana e Caio.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos